Paraná desiste de Thiago Neves
O Paraná desistiu de rever a situação de Thiago Neves. Membros dos conselhos Deliberativo e Normativo, mais o presidente em exercício, Aurival Correia, estiveram reunidos ontem por mais de três horas analisando a transferência do meia. Chegaram à conclusão de que, mesmo tendo vínculo com o jogador até 2009, não há como anular o primeiro contrato feito com a empresa Systema, de propriedade do empresário Léo Rabelo. "Não há o que fazer", afirmou Correia.
De acordo com o presidente afastado do clube, José Carlos de Miranda, Neves teve 60% de seus direitos federativos (metade pertencente à L.A. Sports) vendidos à Systema por US$ 400 mil. Do total, o clube ficou com US$ 200 mil. Porém, o valor não é citado no contrato de cessão dos direitos do jogador, do início do ano passado.
No mesmo documento, o clube se responsabiliza por fazer um seguro de acidentes pessoais do jogador, no valor de R$ 3 milhões, tendo a Systema como beneficiária. A apólice valia enquanto Thiago estivesse no Vegalta Sendai.
Em julho deste ano, foi firmado um novo contrato, no qual o Paraná abre mão dos 20% que ainda possuía do jogador (12% para a L.A., 8% para Rabelo) em troca de uma dívida referente ao atacante Leonardo. No mesmo documento, é estipulado o pagamento de multa de R$ 6 milhões pelo Tricolor caso o clube obstrua alguma negociação do meia acertada pela Systema. (MR)
O presidente afastado do Paraná, José Carlos de Miranda, admitiu ontem, à Gazeta do Povo, que recebeu dinheiro de empresários para realizar negócios "não catalogados" no clube. Esse dinheiro não passava pelo caixa paranista, indo parar direto na conta bancária particular do dirigente. A verba teria sido utilizada em gastos com sua campanha de reeleição, para pagar bicho aos jogadores e até "gorjetas que não podem ser contabilizadas".
"Há uma série de contas que você paga e não tem como comprovar em um clube como o Paraná", disse o dirigente.
A reportagem teve acesso a documentos e vídeos que estariam sendo utilizados para comprovar que Miranda teria utilizado o clube em benefício próprio. Um cheque nominal, no valor de cerca de R$ 16 mil, microfilmado por empresários que fizeram negócios com o time da Vila, mais dois comprovantes de depósitos na conta do dirigente, no valor de R$ 15 mil e R$ 5 mil, respectivamente.
A reportagem também assistiu a dois vídeos. Em um deles, Miranda recebe um cheque dos mesmos empresários que pediram sigilo pelas informações. No segundo, apenas uma conversa entre as partes. Nos dois casos, contudo, o som estava inaudível.
"Os empresários (que deram os cheques) são da L. A. Sports. Eram parceiros. Todas as contas (de transações) passavam pelo financeiro do clube. Esse é um negócio que eu tinha, com essas ajudas e outras coisas aí de bichos que prometiam, etc. Coisa particular minha. Vou me defender na Justiça, não tem nada a ver com o clube", afirma Miranda, que se diz vítima de chantagem.
O dirigente disse ontem, em entrevista à rádio Banda B, estar no meio de um fogo cruzado entre empresários. Se referia a Léo Rabelo e LA Sports, que brigam para definir o destino do meia Thiago Neves, atualmente no Fluminense, mas com pré-contrato assinado com o Palmeiras e vínculo com o Paraná.
Teria sido por tomar conhecimento desta documentação que dirigentes do Tricolor pediram o afastamento de Miranda. A versão não é confirmada por ambas as partes. O dirigente diz que se afastou por problemas médicos. O Conselho afirma que desconhece as provas. O presidente em exercício, Aurival Correia, também.
O depósito de dinheiro na conta de dirigentes não é o caminho natural de receitas oficiais no Tricolor. O Paraná recebe sempre em cheque administrativo nominal ao clube, para evitar que dinheiro depositado nas contas bancárias da associação seja confiscado pela Justiça, para pagamento de dívidas trabalhistas.
"Ele (o dinheiro) fica guardado no nosso cofre e vamos gastando de acordo com a necessidade", afirma Correia.
Antes de ser levado ao topo do organograma do clube, Aurival era vice de finanças. Questionado se seria normal Miranda utilizar a conta pessoal para alguma transação oficial, respondeu: "Aí não".