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Manifestantes deitaram de mãos dadas no calçadão por cerca de meia hora | LUISA DE PAOLA/ AFP PHOTO
Manifestantes deitaram de mãos dadas no calçadão por cerca de meia hora| Foto: LUISA DE PAOLA/ AFP PHOTO

Rio – Apontado como um dos benefícios do Pan ao Rio de Janeiro, o legado esportivo da Olimpíada das Américas é uma grande incógnita justamente para a construção mais imponente e cara da competição. O Estádio Olímpico João Havelange, que irá abrigar o atletismo e o futebol nos Jogos, tem futuro incerto. A própria prefeitura carioca já usa termos como "elefante branco" e "mau negócio" para se referir ao empreendimento.

O primeiro duro golpe no Engenhão foi o adiamento do sonho brasileiro de organizar a Olimpíada de 2012. O projeto do estádio previa a construção de 45 mil lugares, com opção para ampliar a capacidade para 60 mil (na primeira fase, não há anel superior atrás dos gols) no caso de vitória na candidatura carioca. Londres foi escolhida e o projeto de ampliação, suspenso.

Para reduzir o tempo ocioso da estrutura que custou aos cofres públicos R$ 400 milhões, a prefeitura ofereceu o estádio aos clubes do Rio. Todos recusaram. Seja por falta de dinheiro, seja por desinteresse.

A recusa dos times de futebol é compreensível. Localizado no Engenho de Dentro, o estádio tem acesso bastante complicado, principalmente para quem usa carro – a proximidade de uma estação de trem facilita o deslocamento sobre trilhos. As ruas estreitas, que estão sendo alargadas para o Pan, congestionam facilmente em horários de maior movimento. Indício de caos para eventos de lotação máxima.

Dentro do estádio, outro problema bem mais prático. Apesar de ter ótima visibilidade de qualquer assento, o público fica longe do campo. A distância da primeira fileira de assentos até o gramado é de pelo menos 30 metros. Como por enquanto só existe segundo anel nas "retas", a acústica também fica prejudicada. Ou seja, transformar o estádio em uma panela de pressão, nem pensar.

Sem encontrar um parceiro no futebol, a prefeitura recorreu a um parceiro privado. Após os Jogos, o Engenhão será privatizado por 30 anos. Tempo curto para os cofres públicos recuperarem o investimento milionário, mas suficiente para evitar um prejuízo mensal de R$ 200 mil só com a manutenção do espaço. Uma das primeiras tarefas do consórcio privado que pegar o estádio será tirar do papel o projeto de construir um minishopping, com duas grandes lojas como âncora, na área do João Havelange.

"Ainda estamos formatando a concessão de uso. Mas é um legado inegável para a cidade, que ganhará um complexo cultural e esportivo", defende o presidente da Rio-Urbe, João Luiz Reis da Silva.

Mais direto, o secretário municipal de Obras, Eider Dantas, não esconde o alívio por passar o estádio adiante. "Não vamos recuperar todo o dinheiro investido, mas pelo menos nos livraremos do ônus de ficar com um elefante branco nas mãos. O mau negócio passa a ser bom", afirmou ele, antes de fazer uma comparação. "Não podemos é transformar isso aqui no que hoje é o Maracanã: cabide de empregos, onde se rouba ingressos, dinheiro de renda e ninguém paga por credenciais."

Coincidentemente, o Maracanã será o principal obstáculo ao projeto que pode dar sobrevida ao Engenhão. Quando estiver pronto, o novo estádio será o único do Rio dentro das exigências da Fifa para receber uma Copa do Mundo – no caso, a de 2014, provavelmente no Brasil. Difícil será superar a história do "maior do mundo".

Se sair vitorioso nessa disputa, finalmente o João Havelange poderia ser um exemplo da promessa do ministro dos Esportes Orlando Silva Júnior. "O legado do Pan transformará o Rio de Janeiro na cidade olímpica brasileira."

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