Defensor do profissionalismo na administração dos clubes de futebol e um dos novos "gurus" do marketing esportivo, José Carlos Brunoro esteve em Curitiba na última semana para falar sobre o que mais gosta: esporte. O ex-atleta profissional e técnico de vôlei e diretor de esportes da Parmalat na época da parceria da empresa com o Palmeiras falou à Gazeta do Povo sobre a Copa de 2014, a Lei Pelé, sua passagem pelo time paulista, marketing e muito mais.
Considera que os clubes e entidades esportivas brasileiros já sabem usar adequadamente o marketing esportivo?Falta uma profissionalização maior. Já melhorou muito em relação ao que era há algum tempo, mas ainda precisa haver uma evolução, principalmente nos clubes de futebol. Temos grandes marcas com milhões de torcedores, mas muitas não fazem um trabalho de potencialização disso.
Por que o esporte brasileiro como produto ainda é tão desvalorizado em relação ao esporte na Europa ou nos Estados Unidos? É possível reduzir essa diferença a um nível mínimo?Acho que vai demorar ainda para que a redução da diferença brasileira para o tratamento do marketing esportivo na Europa e nos Estados Unidos ocorra. São países mais velhos e com mais vivência cultural e econômica. A gente tem um problema de defasagem nesse sentido. Eles têm também uma situação muito favorável que é a TV fechada. Ela trabalha muito com o esporte, e o poder aquisitivo nesses países faz com que todos tenham acesso a ela. Outro ponto importante é a valorização do ídolo. Sem ídolo você não tem esporte. Infelizmente pelos nossos problemas econômicos nossos ídolos vão embora muito cedo do país. O Ronaldinho é um exemplo.
Os clubes brasileiros já são vistos com mais credibilidade pelo investidor estrangeiro? Situações confusas e nebulosas, como a parceria entre Corinthians e MSI, funcionam como propaganda negativa da administração do nosso esporte no exterior?Infelizmente somos muito mal vistos pelos investidores. Se você imaginar que tivemos um monte de projetos e o único que realmente deu certo foi o da Parmalat com o Palmeiras, verá que hoje temos dificuldades. Recentemente, a vinda da MSI com um caminhão de dinheiro para o Corinthians, com todo esses problemas que ela está tendo, tirou o pé de muita gente. Hoje nós podemos desfrutar de patrocínios, mas não de investidores, o que seria muito importante para o esporte brasileiro, em decorrência da má administração de alguns.
Qual legado a realização da Copa do Mundo de 2014 deve deixar para o país além de uma dúzia de estádios modernos?Ela pode deixar um legado importante, desde que a gente tenha esses estádios comprometidos com a sua efetiva utilização, porque senão vamos criar vários elefantes brancos. Antes da construção deveria haver um comprometimento com a utilização. Esse é o ponto mais importante do processo. Não vejo necessidade de construir só estádios novos. A gente viu por exemplo que na Copa do Mundo de 94, nos Estados Unidos, não tinha nenhum estádio novo. Lógico que eram grandes estádios, mas, assim como eles, nós também podemos fazer algumas adaptações. Se não houver nenhum tipo de superfaturamento e demonstrarmos seriedade nas construções será outro ponto importante. Demonstrar o nosso poder organizativo será fundamental, não só para o esporte como também para o turismo esportivo que poderá advir junto com a competição.
É possível uma Copa cuja organização seja dividida entre cartolas e políticos brasileiros dar certo?A minha visão é que o poder público só entre com a infra-estrutura e que todo o investimento seja feito por empresas privadas. Acho que o governo só deveria cuidar do pontos como o transporte, a despoluição, o saneamento básico, por exemplo, além de ficar muito atento na conclusão das obras, fazendo uma espécie de vigilância, mas sem se responsabilizar pela situação econômica.
Nos últimos dez anos o Brasil ganhou a Lei Pelé, o Estatuto do Torcedor e um novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva. A Timemania será implantada neste ano. O Estatuto do Desporto ainda está sendo discutido. Qual análise o senhor faz deste conjunto de leis para o esporte criadas no Brasil?Gosto muito de todas. Sou a favor que se discuta o que está falhando, em vez de acabar com a lei. Acho que esse é o grande caminho. Há pontos críticos na Lei Pelé que podem ser melhorados. A Timemania, que ainda não funciona, pode ser um veículo para sanear as dívidas dos clubes. O Estatuto do Torcedor é muito bom, mas precisa ainda de algumas pequenas alterações.
Até que ponto os clubes têm razão nas críticas à Lei Pelé, apontada pelos dirigentes como a grande causa da saída em massa de atletas para o exterior?Não concordo com essa avaliação. Acho que a Lei é moderna, mas pode ser melhorada, principalmente no que diz respeito à formação dos jogadores. Acredito que poderia ser dada maior garantia aos clubes que formam o atleta, no sentido de dificultar que outros levem o jogador sem pagar quase nada para isso. Também acho que deveria haver uma regulamentação da participação dos empresários no processo de negociação dos jogadores.
Na internet: Leia a íntegra da entrevista com José Carlos Brunoro no www.gazetadopovo.com.br/arquibancada.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas
Deixe sua opinião