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Muitos jogadores brasileiros jogam na Europa, poucos em ligas principais; Veja infográfico |
Muitos jogadores brasileiros jogam na Europa, poucos em ligas principais; Veja infográfico| Foto:

Categorias de base cobiçam cartilha do Barça

Marcio Reinecken

O sucesso do futebol espanhol, a organização do Barcelona e o mercado de contratações cada vez mais seletivo parecem servir de alerta para os formadores de boleiros no país.

Na linha de frente, onde estão as categorias de base, o apelo para a mudança de cultura chega com ainda mais força. O discurso – pelas entrevistas com coordenadores de clubes da capital – tem uma nota só: não se pode cobrar resultado dos futuros profissionais. A ideia é priorizar fundamento e tática, exatamente nos moldes do Barça.

"Recentemente, fui com o sub-11 do Atlético disputar um campeonato na Polônia. O Barcelona tam­­bém estava no torneio. E é impressionante ver aqueles garotos de 11 anos jogando da mesma maneira que os profissionais", conta Raphael Biazzetto, diretor das escolinhas e categorias de base do Furacão.

No Leste Europeu, com os meninos, o time azul-grená também foi campeão. Mas, há 40 anos, foi exatamente uma derrota considerada vexatória que fez o clube revolucionar a maneira de formar atletas. Em 15 de abril de 1972, o time juvenil do Barce­lona perdeu o título da Copa Catalunha, fato que refletiu decisivamente na derrota santista no Mundial deste ano. A partir da­­quela data, o clube mu­­dou a coordenação de base e toda a sua me­­todologia.

O sistema não é mais novidade depois de tanto falatório sobre o time – chama-se "a bola é minha" e continua sendo utilizado até hoje por lá. Con­­siste em utilizar jogadores mais técnicos em todas as posições, atuar com o mesmo sistema da equipe profissional e, principalmente, estimular rapidez e entendimento do jogo das crianças e adolescentes, sem se importar muito com os resultados.

Algo possível, mas ainda difícil de se pensar no Brasil. "A cultura do futebol brasileiro nas categorias de formação ainda é baseada nos resultados e títulos. Muitas vezes para um treinador o título é mais importante do que o processo de criação do atleta, até porque aquele é o momento dele, e pensa somente no resultado imediato. Por isso é papel do clube dar o suporte necessário para que o treinador de cada categoria tenha tranquilidade caso isso não aconteça", afirma André Mazzuco, coordenador do Coritiba.

Ele ressalta a importância de ha­­ver uma ligação entre os departamentos amador e o profissional. "A integração deve acontecer para que este processo seja único e verticalizado. [...] O Co­­ri­­tiba vem passando por uma trans­­formação muito grande nos últimos anos. A filosofia do clube é focada na formação de jogadores."

No Paraná, a mudança ocorreu em meados deste ano. Primeiro, o clube fez uma limpa nos empresários. Logo após, a coordenação da base sentou com o técnico Guilher­me Macuglia para unificar um sis­­tema. O clube vê com bons olhos a possibilidade de utilizar garotos para jo­­gar a Se­­gunda Divisão do Para­­naense.

"O Paraná não vinha fazendo essa junção [com o profissional]. Penso na formação do atleta utilizando a filosofia de jogo do profissional", afirma Marcelo Galiano, coordenador das categorias de base do Tricolor. "Antes, havia mui­­tos empresários. Agora são todos atletas do Paraná. São eles que podem reverter essa situação."

Inabalável, o futebol do Brasil segue como o principal exportador de "pé de obra". Não por acaso que, chegando ao final de 2011, são 1.063 boleiros do país atuando nas 60 maiores ligas pelo mundo afora. Mas o "produto" tem certa dificuldade de entrar no mais seletivo mercado: a Espanha.

Curiosamente o solo espanhol representa apenas 2,4% desse total, com 25 jogadores atuando na Primeira Divisão. É o oitavo principal destino brasileiro, que tem Portugal, Japão e Itália no topo da lista. Os dados são do 1.º Painel Pluri Futebol 2011, da Pluri Consultoria.

Apesar de ter uma pequena participação no total, no país campeão mundial vale a máxima de que o importante é a qualidade e não a quantidade. Quan­­­­do é levado em conta o valor de mercado dos atores da bola, a terra de Barcelona e Real Madrid se destaca. Só os brasileiros, juntos, valem R$ 490 milhões. Nú­­mero inferior apenas ao da Itália (R$ 582 milhões). O país da bota, entretanto, tem nove brasileiros a mais.

São nomes como o do lateral-direito do Barcelona, Daniel Al­­ves, o 19.º mais valioso do mun­­do (R$ 86,6 milhões). Ou de Kaká e Marcelo (R$ 73,2 e 61 mi­­lhões, respectivamente), ambos do Real Madrid. Além de Diego (Atlé­­­­tico de Madrid), Julio Baptis­ta (Málaga) e Nilmar (Villarreal).

Outro mercado que começa a despontar como um destino para os brasileiros mais valiosos é a Inglaterra. Porém a Espanha segue vencendo a briga. "São duas características diferentes. A Inglaterra tem até a quarta divisão. A Espanha só primeira e a segunda, e por isso maior concentração de poder nos dois principais times", explica o es­­pecialista em gestão e marketing es­­portivo e economista da em­­presa Pluri Consultoria, Fernan­­do Ferreira.

As questões culturais são os principais pontos que ainda apon­­tam para a península ibérica. "Se eu levar uma proposta da Espanha e da Inglaterra para um jogador, com certeza ele vai querer ir para a Espanha. É o que há de melhor, tanto para o atleta co­­mo para o empresário", afirmou Marcos Malaquias, empresário que negociou o zagueiro Henri­que e o atacante Keirrison para o Barça.

Em algumas ocasiões, atuar em uma equipe de menor ex­­pres­­são espanhola pode valer mais. É o que acredita Mala­­quias. "Até em times pequenos, jogar contra o Barcelona ou o Real Madrid acaba pesando muito para o jogador. Tem a facilidade da língua e o futebol é mais parecido com o do Brasil."

Os dados demonstram a atual fragilidade do futebol brasileiro – prova concreta foi o show do Barcelona na final do Mundial da Fifa contra o Santos (4 a 0). Suficiente para uma reflexão. "Há uma sensação clara de que estamos ficando para trás e isso fica nítido ao longo do tempo", lamenta Ferreira.

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