Peça-chave na comissão técnica da seleção brasileira desde a Copa do Mundo de 78, Jairo dos Santos, ainda hoje, é espião da CBF. Tem como função observar os próximos adversários do time canarinho. E prevenir, no caso, o técnico Dunga de imprevistos que podem ser evitados. Às vésperas do início das eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, Jairo aceitou o pedido da reportagem em revelar como funciona o serviço de espionagem no futebol.

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- Temos que conhecer os adversários pelo menos um mês antes de enfrentá-los. E, para isso, precisamos assistir, no mínimo, a três jogos. Sejam eles em videoteipe ou no local onde acontecem. Já comecei a estudar os nossos rivais da terceira e quarta rodada nas eliminatórias. Enquanto o Dunga pensa na melhor forma de encarar a Colômbia (14 de outubro, em Bogotá) e o Equador (dia 17 deste mês, no Maracanã), terei que voltar as atenções para os duelos contra o Peru e o Uruguai, que acontecem nos dias 17 e 20 de novembro - afirma o espião.

Cordialidade extracampo

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Por outro lado, Jairo dos Santos garante que a rivalidade à flor da pele dentro de campo não é a mesma fora das quatro linhas. Embora os técnicos tentem esconder a escalação até minutos antes das partidas e evitem falar da parte tática das equipes, há um acordo entre todas as confederações do mundo em relação à espionagem no futebol.

- Nós combinamos que um espião não deve assistir ao treino da seleção de outro país. É considerado antiético na profissão burlar esse acordo. O que fazemos é pedir bons assentos nas partidas oficiais de data-Fifa ou em amistosos. A Federação Argentina de Futebol (AFA) sabe, por exemplo, quando estou em um estádio naquele país. Ou, então, me cede o vt de determinado jogo. Caso contrário, o espião de lá irá sofrer assim que vier ao Brasil para assistir alguma partida da seleção - garante Jairo dos Santos, que sempre é perguntado pelo secretário-geral da CBF, Marco Antônio Teixeira, qual o tratamento que recebeu nos estádios mundo afora.

O espião da CBF, Jairo dos Santos, tem quase 2 mil livros na sua Biblioteca

Referência

De acordo com o espião brasileiro, todo companheiro de profissão que se preze segue o modelo de observação técnica da Inglaterra, pioneira no assunto. Aliás, foram os ingleses que padronizaram o que deve ser analisado nas partidas de futebol, como: a cobertura, retardo (atraso de contra-ataque), concentração (proximidade dos jogadores) e equilíbrio (harmonia das posições); além da mobilidade (disposição dos jogadores), abertura (preenchimento dos espaços no campo), improvisação, prevenção e profundidade (jogadores que não atuam em linha).

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- Baseado nos atributos da Football Association, tenho que decifrar como os gols dos nossos adversários acontecem, com quantos passes e em qual setor do campo há maior probabilidade de ocorrer. Passo ao técnico da seleção brasileira: a escalação provável, qual o sistema de jogo e também um estudo do cenário de onde a partida será realizada. Como os nossos rivais atuaram nos últimos três jogos e o que fizeram para tentar vencer. Evito me estender nas análises para não cair na subjetividade. Ainda assim, os relatórios ficam com 60 a 80 páginas - diz Jairo, que entrou para a CBF em 1978 embalado pelo sucesso do serviço de espionagem da seleção argentina na Copa do Mundo realizada naquele país.

Biblioteca em casa

Oficial aposentado da Marinha, o outrora engenheiro do IME se orgulha de ter um dos melhores bancos de dados sobre todas as seleções do planeta. Em 31 anos dedicados ao esporte, a residência deste mato-grossense de Ponta Porã, na Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, não poderia ser diferente. Chama a atenção, logo de cara, pela biblioteca repleta de livros e vídeos históricos.

- Para desempenhar bem a minha função de espionagem, tenho uma biblioteca com quase dois mil livros sobre futebol, além de colecionar todas as finais de Copa do Mundo desde 1954 e todos os gols desta competição, sem exceção, a partir 1986 - diz Jairo dos Santos.

Da bomba ao futebol "Parece coisa do destino, e é". Esta frase de Jairo dos Santos simboliza bem como um engenheiro mecânico foi parar na Confederação Brasileira de Futebol.

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- Fui fazer um curso de instalação de mísseis na Irlanda do Norte e conheci um técnico escocês, que me passou algumas dicas de espionagem no futebol. Na volta ao Brasil, o Coutinho se interessou pelo tema e começamos a trabalhar juntos no Flamengo, em 1976. Além de ter recebido diária de guerra na Europa, retornei ao país com vontade e bagagem para trabalhar no futebol - revela o espião, que já teve como auxiliares: Júnior (94), Gilmar Rinaldi (98), Gilson Nunes (2002) e Júlio César Leal (06), além dos ensinamentos de Zezé Moreira no início de carreira na seleção brasileira.