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Sem apoio, roteiro não seduz turistas
Criar um roteiro turístico formal, vendido por agências de viagem, nem sempre é sinônimo de sucesso. O esporte paranaense teve um exemplo claro disso com o pacote criado pela Kalisté Turismo no ano passado, explorando o setor. Por falta de opções capazes de receber visitantes com atrativos e algum conforto o grande desafio da cidade , a guia Marli Woiciechowski, dona da Kalisté, montou um pequeno roteiro com quatro localidades para ser negociado com amantes do esporte: Arena da Baixada, Couto Pereira, Praça do Gaúcho e Autódromo Internacional de Curitiba, em Pinhais.
A oferta não vingou. Alguns interessados apareceram, mas ninguém comprou o pacote R$ 80 por cabeça, para no mínimo seis pessoas. "As pessoas têm ido cada vez mais direto ao ponto de interesse. Até porque às vezes elas não têm muito tempo e querem visitar locais específicos", opinou Marli. "Mas há interesse nesse mercado. Aos poucos, se insistirmos e divulgarmos, teremos resultados. O problema é que hoje a estrutura deixa a desejar", complementou.
Esse turismo menos refém de pacotes turísticos, do tipo monte você mesmo, pode ser uma saída. O Instituto Municipal de Turismo lançou um livro sobre observação de pássaros nos parques paranaenses. Deu certo. Uma versão com pontos históricos do esporte local poderia ser a solução para a falta de informações que hoje é criticada in loco. Restaria ainda garantir o básico em estrutura para os visitantes, mas já seria um passo importante para tirar essas heranças culturais da cidade do ostracismo. (SG)
Museu da bola
O museu Evangelino da Costa Neves, nas dependências do Estádio Pinheirão, desapareceu. Flâmulas, camisas, troféus e outros itens que estavam expostos na abandonada praça esportiva (interditada em 2007) tiveram de ser encaixotadas depois que alguns objetos foram furtados, especialmente uniformes antigos. Fechado por força legal, o local não recebe visitantes.
Os principais pontos históricos do esporte de Curitiba, especialmente do futebol, estão sendo pouco aproveitados pelo setor turístico. A explicação é simples, segundo os responsáveis: falta infraestrutura e investimento para tornar esses espaços ao mesmo tempo atrativos e confortáveis para os visitantes.
Atualmente, apenas dois locais têm conseguido relativo sucesso em aliar esporte e apelo turístico: a Arena, estádio escolhido para abrigar a Copa do Mundo de 2014, e o Couto Pereira, cujo memorial do centenário do clube tem sido um chamariz de público.
As duas exceções do setor têm em comum a iniciativa de seus proprietários em participar do roteiro turístico da cidade, incluindo postos oficiais de informação aos turistas montados pelo Instituto Municipal de Turismo. A casa rubro-negra, inclusive, virou ponto de parada da Linha Turismo, ônibus que percorre os principais pontos da cidade. Fruto do acordo entre clube e autoridades locais para o financiamento das obras para o Mundial.
"Nosso trabalho é estimular, fomentar e divulgar os pontos turísticos, mas tem de existir a participação da iniciativa privada", destacou Juliana Vosnika, presidente da entidade turística, reforçando o trabalho mútuo entre poder público e privado. O primeiro oferece apoio fazendo a propaganda do local; ao segundo cabe viabilizar a visitação.
"Detectamos vários locais na cidade que poderiam ser explorados, mas é preciso transformar o potencial atrativo em produto", comentou a dirigente. Assim, não basta ter um ambiente fértil em história ou relevância social se não for bem aproveitado, oferecendo informação e/ou diversão, bem como estrutura física banheiros, alimentação, comércio e pontos de descanso.
Com esses atributos, a Baixada recebeu em 2011, segundo Vosnika, algo em torno de 13 mil visitantes. O Coritiba calcula uma procura média mensal de 1,5 mil pessoas pelo Couto Pereira e pelo Memorial do clube.
O Instituto Municipal de Turismo, junto com as agências de viagem da cidade, tem planejado novos roteiros para ofertar aos visitantes. Explorar o interesse esportivo dos visitantes que virão para a Copa do Mundo é um dos projetos. Enquanto segue a fase de estudos de possíveis locais de visitação, o que a entidade tem feito é indicar nos mapas da cidade a localização dos estádios.
Muito pouco para a Vila Capanema, por exemplo. No campo em que hoje correm os jogadores do Paraná já desfilaram atletas de Copa do Mundo. A praça esportiva inaugurada em 1947, pertencente então ao Ferroviário, recebeu dois jogos do torneio de 1950. A participação especial naquele campeonato já valeria um trabalho de preservação da memória do estádio, mas o Durival Britto e Silva traz em seu currículo também boa parte da história do futebol paranaense.
Não há, porém, estrutura na Vila para aproveitar esse potencial. Um desperdício que o Tricolor já percebeu. Está nos planos da nova diretoria transformar o local em atração cultural.
"Temos um projeto de visita guiada em discussão, além de pesquisas sobre qual a melhor forma de explorar a importância do estádio. É um lugar com muita coisa para contar", explicou o vice-presidente de marketing, Vladimir Carvalho. O espaço deverá, no futuro, contar um pouco da história do clube, algo que hoje é possível encontrar na sala de troféus da sede da Avenida Kennedy, cuja entrada é gratuita. Esse projeto de valorização do passado, entretanto, não é considerado prioritário, pois o time está afundado na Segunda Divisão nos campeonatos estadual e nacional. Não há dinheiro para tudo.
Pelo menos dois outros pontos da cidade amargam o quase anonimato. Atualmente transformado em Museu Universitário, um pedaço de arquibancada do antigo Jockey Club resiste ao tempo bem conservado no câmpus da PUCPR no Prado Velho. No local, além das corridas de cavalo, ocorreram os primeiros jogos de futebol em Curitiba, no gramado no meio da pista. A construção é do final dos anos 20 e pode ser visitada por qualquer pessoa faltam, porém, informações que apresentem a importância do "monumento" a quem passa por ali.
Longe daquele ponto, em Santa Felicidade, outro patrimônio histórico do esporte curitibano padece de esquecimento. O Estádio Egydio Pietrobelli, de propriedade da Sociedade Operária Beneficente Esportiva Iguaçu, é a praça esportiva mais antiga do campeonato amador da capital paranaense. De acordo com o presidente do clube, Romeu Stival, já são 91 anos de história. Bem cuidado, o reduto alvinegro poderia muito bem servir de museu da Suburbana, desde que houvesse apoio de empresas ou do poder público para adequar as instalações à prestação de serviços.
"Estamos de portas abertas", assinalou Stival, que admite gostar da ideia, mas confessa não haver recursos para a empreitada.
Mas o turismo com viés esportivo em Curitiba não tem vaga apenas para o futebol. Um bom exemplo disso seria o ginásio do Tarumã, palco de diversos eventos de vôlei, especialmente desde sua inauguração, em 1965. Considerado ultrapassado para grandes competições, o local é tombado como patrimônio histórico e carece de melhorias.
"O certo é restaurar o Tarumã, e não reformá-lo, pelo significado que ele tem para o paranaense e o curitibano. Estamos discutindo alternativas", admitiu Evandro Rogério Roman, secretário estadual de Esporte. Como é gerido pelo governo estadual, é mais fácil para o poder público, que não dependeria de negociação ou investimento de terceiros, transformá-lo em atração turística.
Há outras opções. Na praça do Gaúcho, no São Francisco, é possível conhecer a mais famosa pista de skate da cidade. Em Pinhais, o Autódromo Internacional de Curitiba é a grande atração, mas não há um horário de visitação estipulado, o que tende a desestimular o razoável deslocamento até o local.
O Parque Náutico do Iguaçu, na divisa com São José dos Pinhais, foi centro de canoagem na região até ver o esporte de elite desaparecer dali aos poucos. O local é agradável, principalmente para quem curte a natureza, mas carece de melhor estrutura.
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