A sensação de quem entra no Octávio Sílvio Nicco, no número 641 da Rua José Nicco, no bairro Mossunguê, é de sufoco. O acanhado estádio parece à beira de ser engolido pelos altos edifícios ao redor. Fundado em 1955, é nele que o Imperial Futebol Clube disputa, sob os olhares dos prédios vizinhos, suas partidas na elite da Suburbana, campeonato amador local.
História que poderia estar com os dias contados: o desenvolvimento econômico da região fez da modesta praça esportiva objeto de desejo do mercado imobiliário. E símbolo de resistência. Para os interessados em comprar o terreno de 10.272 metros quadrados de área em uma das regiões mais valorizadas da cidade, o presidente do Imperial, Carlos Jorge Choinski, tem recado pronto.
“Eu falo em nome do clube, como presidente, e tenho apoio de 99,9% da minha comunidade: se alguém pensar em vir aqui no Imperial, fazer proposta e encher o saco, que nem apareça. Porque nem receber a pessoa vamos”, decreta o professor aposentado, 62 anos.
Segundo especialistas, o terreno do clube da Suburbana vale, por baixo, R$ 7 milhões. Mas o valor de uma eventual negociação poderia ser superior. O “olho grande” dos investidores é compreensível. Há décadas atrás, a realidade agrícola de fazendas e chácaras predominava na região. Hoje, arranha-céus e prédios recém-construídos são os protagonistas.
Drástica transformação que teve origem em um processo de zoneamento iniciado há 40 anos, cujo objetivo era a ocupação do espaço, então pouco habitado. Concebido para ser um bairro de operários da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o local tornou-se reduto das classes mais altas da cidade. Metamorfose acompanhada de perto por Choinski.
“Antes, era só plantação de milho, só roça. Depois da via rápida e da linha do expresso, a região mudou muito”, relembra, sobre as mudanças que chegaram no início dos anos 80. “Hoje, o Imperial não tem preço. Não temos interesse nem em avaliar a área. Temos pouco dinheiro para nos manter, mas não é por isso que vamos nos desfazer. Isso aqui é o futuro dos moleques do bairro”, prossegue.
Segundo Choinski, empresas de São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Minas Gerais já sinalizaram com propostas. Mesmo assim, a principal fonte de renda do clube seguirá provindo do aluguel de um pequeno espaço que hospeda uma torre de telefonia celular. “Para nós, isso aqui é tudo. A gente se diverte, chora, briga, ganha e perde. É um prazer muito grande de estar aqui. E não tem dinheiro que pague”, complementa.
Futuro
Longe das arenas padrão FIFA e dos holofotes do futebol moderno, um grupo de 15 torcedores recebe a equipe do Imperial toda vez que ela alinha no gramado do estádio Octávio Sílvio Nicco, no bairro Mossunguê, para uma partida da Suburbana: eles compõem a Torcida Organizada Imperial, a TOI.
“Aqui não tem dinheiro que compre nosso amor pelo clube. Espero que nunca seja vendido, porque é algo que pertence ao bairro”, defende o office boy e chefe da torcida, Maicon Carpes Porto, de 18 anos
Ele herdou a liderança da TOI dos próprios irmãos. A paixão pelo Imperial corre no sangue.“Meu avô foi um dos doadores de terrenos aqui em volta. Meus irmãos participaram da torcida e agora eu tomei a frente. Este é um amor que passa de pai para filho, de geração em geração”, reforça.
Outros casos
A luta travada pelo Imperial é a mesma de outros clubes da Suburbana. No ano passado, o estádio Walfrido do Rosário, do Bacacheri Atlético Clube, foi vendido para a Rede Condor por R$ 11 milhões. A área de quase 13 mil metros quadrados fica situada na rua Lodovico Geronasso, 805, no bairro Boa Vista.
Já o estádio Antônio Rodrigues da Silva, do Barigui Seminário, está completamente desativado, prestes a ser demolido. A tendência é de que um empreendimento imobiliário ocupe a área, situada na Rua Eduardo Sprada.
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