A “cultura” do doping continua a imperar no ciclismo e, em certos eventos, até 90% dos atletas estariam dopados.
As acusações fazem parte de um relatório publicado pela União Ciclística Internacional (UCI), que, depois de um ano de investigação, admitiu que sua direção escondeu o escândalo do doping Lance Amstrong temendo que o esporte perdesse popularidade e patrocinadores.
O documento de mais de 200 páginas foi considerado uma bomba no mundo do esporte, revelando que se oficialmente as entidades declararam há anos guerra contra o doping, a realidade é que dezenas de casos são camuflados. O documento também mostra a relação “incestuosa” entre atletas e dirigentes que os deveriam controlar.
No centro dos ataques estão os ex-presidentes da entidade, Hein Verbruggen e Pat McQuaid. Ambos foram acusados de fechar os olhos para o problema. O informe que custou 3 milhões de euros foi liderado pelo ex-procurador suíço Dick Marty, que também investigou os abusos de direitos humanos na Guerra do Iraque.
Outro nome envolvido na investigação foi Peter Nicholson, um jurista australiano que dedicou sua vida a investigar crimes de guerra. Hoje, o documento dos especialistas escancara a dimensão do desafio do esporte.
Segundo a papelada, as estratégias usadas por atletas para escapar dos controles incluía o consumo diário de microporções de produtos, o que evitaria que fossem pegos nos testes. O consumo seria realizado no início da noite, já que as regras estipulam que os testes nunca não podem ocorrer nesse período.
De acordo com a investigação, os dirigentes do ciclismo apenas começaram a testar atletas pelo uso da droga EPO em 2000, anos depois que ela já estava instalada no esporte e que gerava um aumento de desempenho de até 15%.
Outra denúncia se refere à manipulação de passaportes biológicos, que teriam a função de monitorar o sangue dos ciclistas. O informe ainda aponta que exceções médicas têm sido abusadas por parte de equipes. Mas o maior ataque é mesmo contra UCI e contra dirigentes que “toleraram” e permitiram que ciclistas se dopassem.
Segundo alguns dos especialistas consultados pelos grupo que elaborou o informe, em alguns eventos até 90% dos atletas de primeira linha poderiam ainda estar dopados. O documento lista dezenas de produtos e métodos de doping que estariam sendo usados. Para deixar a situação ainda mais crítica, o preço dessas substâncias seria cada vez mais baixo, inclusive com um número cada vez maior de médicos envolvidos em esquemas de fornecimento.
Entre as propostas de reforma, o grupo sugere que corridas tenham farmácias centralizadas, que o sindicato de ciclistas seja fortalecido e que haja uma proteção a quem queira fazer denúncias, além de testes antidoping no meio da noite.
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