A promessa de fartos investimentos públicos coloca a Copa do Mundo de 2014 como um dos principais ingredientes para as duas próximas eleições brasileiras (2010 e 2012). A disputa pela paternidade das obras deve acirrar o confronto entre correntes partidárias e, assim como ocorre no jogo político cotidiano, o embate se concentrará em Brasília.
Por parte do governo federal, as decisões caberão à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Candidata do PT à sucessão presidencial do ano que vem, a "mãe" do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também conduzirá a liberação dos recursos do PAC da Mobilidade.
O pacote de projetos para melhorar a infraestrutura viária das capitais brasileiras irá priorizar as 12 subsedes escolhidas hoje. Juntas, as propostas beiram R$ 10 bilhões e o presidente Lula já antecipou que não colocará dinheiro público na construção de estádios (o que deve consumir mais R$ 10,8 bilhões). Nessa plataforma, a primeira guerra será definir quem assume qual parte dos recursos.
"Não achamos que a responsabilidade de arcar com os gastos deva simplesmente ser jogada nas costas da União. E os municípios e estados, quanto vão investir?", questiona o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
O paranaense já tem em mãos os projetos formais das 17 candidatas para receber os jogos que se encaixam no PAC da Mobilidade. Segundo ele, há três tipos de propostas: as interessantes e possíveis de serem finalizadas até 2014, as interessantes e que não ficarão prontas até a Copa e as que não têm viabilidade.
Apesar de as decisões sobre as obras começarem a ser tomadas a partir desta semana, a tendência é muito pouco saia do papel até outubro de 2010, quando ocorrem as eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. "Parece que falta muito até 2014, mas estamos falando, na prática, de cerca de três anos e meio para deixar tudo pronto", alerta o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB).
Segundo ele, os investimentos devem cessar durante o segundo semestre do ano que vem, devido à legislação eleitoral. Além disso, caso o substituto de Lula não seja da atual base aliada, a transição deve demorar pelo menos mais seis meses ou seja, as obras começariam para valer somente na segunda metade de 2011.
Para fiscalizar o andamento dos investimentos públicos referentes ao Mundial, a Câmara dos Deputados instalou no mês passado uma Subcomissão da Copa, subordinada à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFT). Além disso, há uma outra subcomissão similar em funcionamento na Comissão de Turismo e Desporto desde o ano passado e outra pronta para ser instalada na Comissão de Educação do Senado.
"Nosso objetivo é evitar o que aconteceu os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, quando o governo federal anunciou gastos de R$ 400 milhões que incluíam as áreas de saneamento, transporte e moradia. No final foram R$ 5 bilhões e essas obras de infraestrutura ou não saíram ou foram feitas em toque de caixa", afirma o presidente da CFT, Silvio Torres.
O parlamentar é do mesmo partido e estado do principal nome da oposição para presidente, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). No Senado, o requerimento de abertura da outra subcomissão é de um colega de legenda, o paranaense Alvaro Dias.
No plano estadual, dois possíveis rivais na disputa para governador até agora atuaram em sintonia para tornar Curitiba uma das subsedes o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) e o prefeito Beto Richa (PSDB). Governo do estado e prefeitura, no entanto, têm um histórico de divergências especialmente na condução das obras do PAC.
"Acho que, no fundo, ninguém no Paraná pode esperar ganhar simpatia eleitoral por causa da Copa", diz o deputado federal Marcelo Almeida (PMDB). Para ele, quem investir nessa linha pode sair prejudicado, especialmente em 2012, quando ocorrerão campanhas para prefeito e vereador.
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