Desde que se entende por gente, Adonisio Francisco Reges acostumou-se ao trabalho braçal. Negreti, como é conhecido, começou ajudando o pai na plantação de feijão e de arroz na minúscula e árida Landri Sales, no Piauí. Depois, aos 16 anos, trocou a enxada pela construção civil quando deixou o Agreste para desbravar o Paraná em busca de perspectiva. Hoje, aos 34 anos, o piauiense usa a mesma mão que carpiu a terra e levantou casas para garantir seu sustento.
Boxeador profissional, Negreti encara, na próxima sexta-feira, a sua grande chance. Contra o italiano Sven Paris, 31, em Frosinone, na Itália, ele disputa o título do peso-galo da World Boxing Association (WBA) International. Apesar da aparência mirrada de seus 66 kg, a força é sua aposta para estragar a festa do dono da casa. Das 18 vitórias do brasileiro, 12 foram por nocaute ou nocaute técnico.
"Essa força vem da agricultura, da roça, da construção civil, né? Trabalha-se muito. É algo natural que ganhei de anos trabalhando. Por isso que tenho uma pegada forte", conta Adonisio.
A trajetória do piauiense no esporte começou tarde, aos 22 anos, e por acaso. Em Matinhos, onde trabalhava como pedreiro, assistiu a uma luta de Oscar de La Hoya na televisão e decidiu que também queria ser boxeador. Como não havia academia especializada na cidade, rumou para a capital.
"Cheguei num sábado e na quarta já estava treinando", lembra Negreti, que no início dividiu o tempo dos treinos com o serviço no canteiro de obras.
Após superar a falta de estrutura e finalmente conseguir um acompanhamento decente ele chegou a lutar com a mão quebrada na Ucrânia Adonisio viaja para a Europa a fim de provar que tudo o que passou valeu a pena. E que sua força de operário também funciona dentro do ringue.
"É a minha chance. Tenho de ir lá e fazer. Se passar [essa oportunidade], não sei se vou ter outra", afirma. "A festa está sendo feita para o cara. A gente vai lá apenas como adversário. E as chances são boas porque ele [Paris] não tem nada de especial. É muito bom, mas o Negreti tem sérias chances. Tudo pode acontecer", aposta o treinador Victor Haygert, da academia Boxe Training.
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