Uma reportagem da Gazeta do Povo põe mais lenha na fogueira no escândalo que ficou conhecido como "mensalão do apito", uma acusação de manipulação de arbitragem que viria de dentro da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Um ex-árbitro afirma que apesar das recentes modificações promovidas na FPF, "o câncer continua".
Em nova entrevista ao jornalista Rodrigo Fernandes, da Gazeta do Povo, o ex-juiz José Francisco de Oliveira, o Cidão, diz que o "Bruxo" alcunha do operador da possível fraude está ligado à entidade esportiva. Também traz detalhes de como funcionava esse provável esquema de compra de árbitros.
"Mexeram no departamento de árbitros (o ex-presidente da Comissão de Arbitragem, Valdir de Souza, e sua equipe foram afastados). Tudo certo. Mas não tiraram o câncer", diz o delator dessa história via telefone, de Londres, onde tem feito bicos no comando de jogos semiprofissionais.
De acordo com o depoimento de Cidão, o mentor do delito seria alguém próximo a Onaireves. Fala de um cartola que teria o poder de manipular a escala de árbitros dos jogos, passando por cima do sorteio exigido pelo Estatuto do Torcedor.
"Essa pessoa me ligava chamando para ir à sua casa... Eu chegava lá e o cara me dizia: Te coloquei em tal jogo. Só que depois da partida vão mandar uma encomenda para mim através de você. Tudo bem? Era um envelope. Nunca abri, pois sou educado. Entregava-lhe fechado na segunda-feira. Ali ele dizia novamente que eu iria para tal jogo. Essa era a minha rotina em 70% dos casos que aparecia no apito", conta.
O ex-árbitro da FPF não apresenta provas. "Mas tenho todas guardadas embaixo do meu travesseiro", avisa, seguindo firme nas palavras. "Tudo que acontecia comigo, não estava sozinho. Sempre tinha alguém ao meu lado. São amigos que vão até no inferno em meu testemunho. Gente que não tem nada a ver com a arbitragem. Minhas armas são pesadas."
Mágoa e crise de consciência se misturam nesse discurso de revelações. Aos 45 anos, o responsável pela confirmação do gol atleticano contra o Império (20/2), quando a bola foi à linha de fundo, não entende por que foi afastado após o erro dos gramados. Esperava gratidão por se envolver em uma trama que nomeou de "maracutaia".
"Estou tirando um peso das costas. Agora posso dormir tranqüilo", explica. "Às vezes, ia rezando para o campo torcendo para não ter confusão. Fui muito usado. Os caras bagunçaram comigo."
Ele também faz questão de dizer que fazia tudo em busca de trabalho. Aceitava ser "bode expiatório" para atuar nas rodadas do futebol estadual. Assegura que jamais recebeu propina. "Só me prestava a isso porque queria receber a minha taxa", conta. "No meio de 200 árbitros, só eu fazia isso? Não ganhei dinheiro, ganhei escala."
Cidão garante ainda que recebeu orientação para ajustar resultado apenas em um caso específico. "No futebol amador, ouvi um papo de time da oposição à FPF. O sujeito dizia que o Moura estava pedindo algo. Já ia para o trabalho com a cabeça rachando", lembra.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião