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“Não houve tempo para dar continuidade na formação de atletas de ponta. Se não houver mudanças, dificilmente vamos repetir ou melhorar o desempenho  que já tivemos.” Vicélia Florenzano, presidente da Federação Paranaense de Ginástica e ex-presidente da Confederação Brasileira de Ginástica | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
“Não houve tempo para dar continuidade na formação de atletas de ponta. Se não houver mudanças, dificilmente vamos repetir ou melhorar o desempenho que já tivemos.” Vicélia Florenzano, presidente da Federação Paranaense de Ginástica e ex-presidente da Confederação Brasileira de Ginástica| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Aos 61 anos, 38 deles dedicados à ginástica, Vicélia Florenzano foi pre­­sidente da Confederação Bra­­sileira de Ginástica (CBG) de 1991 a 2008. É uma das responsáveis pelo grande salto evolutivo que a ginástica artística deu no cenário mundial, com a criação do centro de ex­­celência, em Curitiba, onde a seleção brasileira treinava permanentemente até 2008.

Foi nesse período que o Brasil viu surgir Daiane dos Santos, Laís Souza, Jade Barbosa, Diego Hy­­pólito. Atletas que brilharam no cir­cuito internacional sob o co­­mando do técnico ucraniano Oleg Stapenko. Há dois anos, Vicélia deixou a CBG – ao mesmo tempo, o Centro de Excelência se desfez. A seleção já começa a sentir a falta de renovação. Atualmente presidente da Federação Paranaense, Vi­­cé­­lia fala da atual situação da modalidade no país.

Como você avalia o desempenho do Brasil no Mundial de Roterdã, encerrado há uma semana [a equipe feminina ficou em 10.º lugar e não classificou para as finais. No masculino, o país caiu quatro posições, em 19.º lugar]?

Estou superfeliz porque nos classificamos para o pré-olímpico [na equipe feminina], o que é importante. Mas poderíamos ter ido me­­lhor. É importante para o país garantir vaga olímpica na categoria equipes e não só ter bons atletas no individual, porque é o que mostra o poder do país no esporte.

Depois de dois anos do fim do CT, já é possível ver resultados da mudança, com os atletas treinando em seus clubes?

Ainda é pouco tempo para avaliar, ainda não se modificou muita coisa porque ainda existem resquícios do trabalho feito nos dois últimos ciclos olímpicos. Os mesmos atletas que têm resultados hoje são os formados no modelo anterior. Acredito que, até 2016 [ano da Olimpíada no Brasil], teremos dificuldade em ter seleções tão bem formadas como as que já tivemos. Não houve tempo para dar continuidade na formação de atletas de ponta.

Você acredita que resultados como os que foram conquistados durante as suas gestões serão repetidos?

Se não houver mudanças, dificilmente vamos repetir ou melhorar o desempenho que já tivemos.

O público não entendeu as exigências necessárias para formar ginastas de nível internacional de competitividade? A concentração permanente dos ginastas era vista como confinamento?

O público em geral não sabe a realidade de um atleta no sistema concentrado. Não é só sacrifício. Ele tem benefícios que o levam a atingir resultados notáveis. No Centro, os ginastas tinha suporte de uma equipe técnica muito qualificada, uma equipe médica à disposição, acesso a ensino de qualidade. Claro que há meninos e meninas que preferem ficar com as famílias e isso também tem de ser considerado. Sou um pouco suspeita para falar, porque acredito no modelo antigo. Experimentei várias formas de treinamento e não consigo entender o modelo atual. Por causa das diferenças que existem. Tanto nas estruturas dos clubes – há alguns bons, outros não acompanham o mesmo nível – quanto na forma da instrução técnica. No CT, sempre há uma estrutura melhor, visto que a Confederação recebe verba para isso, e igual para todos os ginastas. Isso não quer dizer que quero os atletas longe de suas famílias. Mas, quando se opta por um objetivo, há um preço. E, no esporte, o custo não é por um período tão longo.

O que poderia ser feito para manter um bom nível técnico da gi­­nástica artística nacional?

Eu experimentaria outros modelos. Como, por exemplo, usar um treinador experiente itinerante, que vai aos clubes dos atletas e trabalha com os técnicos do ginasta. Minimiza as diferenças técnicas. Ainda fica a questão das diferentes estruturas. Outra possibilidade são as temporadas de treinamento. Não adianta achar que teríamos um modelo ideal com a concentração permanente se tivermos atletas infelizes. Eu testaria um técnico itinerante, com temporadas de treinos e, com certeza absoluta, concentração permanente no ano olímpico.

Em entrevista a uma revista es­­portiva, a [coordenadora técnica da seleção feminina] Georgete Vidor afirmou que a ginástica brasileira acabou porque a confederação não investiu na base...

Antes de tudo, é preciso saber qual é a função de uma confederação. Ela não pode fazer tudo. Quando estive na presidência, tínhamos projetos para o adulto e o juvenil. Não era nosso papel cuidar da base. Quem poderia fazer isso são as federações, os clubes, com apoio de projetos estatais. Atingimos nossos objetivos, que era fazer a ginástica brasileira relevante no cenário mundial.

O que você achou do desempenho da Jade Barbosa [bronze no Mundial de Roterdã, no salto?

Estamos falando de uma atleta de talento nato. Assim como a Daia­­ne [dos Santos], a Daniele, o Die­­go. São excepcionais. Para ela, fazer aqueles dois saltos não é tarefa difícil, mesmo com todo esse drama do pulso [uma séria lesão no pulso a afastou da seleção por dois anos e seu pai acusou a CBG de negligência]. Ela mesma disse que seu pulso é "de lua", tem dias que incomoda, outros não. Aqui [na época em que estava no CT], era assim. Antes de compor a seleção, ela já usava o protetor no pulso. Para uma ginasta, um problema desses piora mais rápido, por causa do impacto. Mas ela vai ser uma medalhista olímpica, não tenho dúvida. Achei bárbaro o retorno dela às competições. Os problemas que tivemos não foram com a Jade, mas com o pai.

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