Roberto Gesta diante das camisas com as quais Adhemar Ferreira da Silva venceu dois ouros| Foto: Fotos: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Serviço

A Exposição Esporte Movimento vai de 16 de setembro a 30 de novembro na Caixa Cultural, de terça a sábado, das 9 às 20 horas, na Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro. A entrada é franca.

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Medalha da primeira Olimpíada: Uma medalha original da primeira edição da Olimpíada, disputada em 1896, na Grécia – o berço dos Jogos Olímpicos – está na exposição Esporte Movimento, na Caixa Cultural. A peça é de prata, metal que cunhou a medalha dos campeões dos primeiros Jogos da era moderna – os segundos lugares ganhavam de bronze. A medalha de ouro só foi incluída nas premiações da segunda Olimpíada, disputada em Paris, na França, em 1900
Tocha dos Jogos de 1956: A Olimpíada de 1956 foi a única a ser disputada em dois países. Por causa das severas restrições sanitárias australianas, as competições equestres tiveram de ser disputadas em Estocolmo, na Suécia, ao invés de Melbourne. Como os cavalos teriam de cumprir um período muito longo de quarentena para entrar na Austrália, não daria tempo de as provas serem realizadas na sede oficial. Uma das raras tochas dos Jogos Olímpicos Equestres de Escolmo está na Exposição Esporte em Movimento
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Há dez anos, a casa do ex-presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e atual membro do conselho da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Roberto Gesta, 69 anos, em Manaus (AM), teve de ser aumentada e adaptada para abrigar um dos maiores acervos pessoais de Jogos Olímpicos do mundo. São 70 mil peças, sendo 400 medalhas, ao menos uma de cada edição de todas as 27 edições.

Uma parte do acervo de Gesta – cerca de 2 mil pe­­ças – está em Curitiba, na Exposição Esporte Mo­­vi­­­mento, a partir de hoje, com entrada franca na Caixa Cultural. Alguns objetos também serão expostos em agências da cidade.

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São preciosidades que contam a história até dos Jogos que não aconteceram. Como o protótipo da medalha que seria entregue na Olimpíada de 1916, em Berlim, se os conflitos da I Guerra Mundial não tivessem impedido a disputa. "Há 40 anos busco peças em feiras, leilões e com as famílias de atletas que faleceram e os próprios atletas", conta Gesta.

O período em que dirigiu a CBAt, de 1987 a 2012, serviu para formatar uma sólida rede de contatos no Brasil e em outros países. O que facilitou o acesso a diver­­sas peças da coleção, como as medalhas de dois dos maiores feitos do esporte nacional: os ouros de Adhemar Fer­­reira da Silva, primeiro bicampeão olímpico brasileiro, nas provas de salto triplo em Helsinque-1952 e Mel­­bourne-1956.

Em 2003, dois anos após a morte do saltador, a filha de Adhemar procurou Gesta dizendo estar preocupada com a preservação das medalhas. "Ela me disse que o Adhemar tinha amigos no exterior que se ofereceram para ficar com as medalhas. Aí me ofereci para cuidar não só dos ouros olímpicos, mas de outras coisas", conta.

Assim, o ex-cartola da CBAt deixou a casa da filha do saltador não só com as medalhas, mas com uniformes e documentos – Adhemar, que cursou quatro faculdades, chegou a ser adido cultural do Brasil na Nigéria. Toda a documentação foi recuperada e catalogada por um perito internacional contratado pelo colecionador. Entre os documentos, está o passaporte do triplista com o carimbo da primeira Olimpíada que disputou, Londres-1948, e a credencial dos Jogos de 1952 com o sobrenome errado: Pe­­reira, ao invés de Ferreira.

Gesta diz que Adhemar era reconhecido onde ia pelo mundo e, emocionado, lembra de um caso nos Jogos de Seul, em 1988. "Eu e ele fomos assistir a um treino e um repórter da tevê italiana perguntou se poderia entrevistá-lo. Quando o câmera chegou, o repórter disse ‘esse é o senhor Adhemar Ferreira da Silva, grande atleta brasileiro, que talvez, pela idade, você não conheça’. No que o câmera respondeu ‘quem não conhece o grande senhor Ferreira da Silva?", recorda Gesta.

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A sala onde estão as medalhas de Adhemar na exposição reserva outras pérolas. Estão lá o bronze de Nelson Prudêncio na Olimpíada de 1972 e o ouro de João do Pulo no Pan-Americano de 1975, cuja marca de 17,89 metros registrou o novo recorde mundial, ambas também no salto triplo.

Do outro lado da sala, o colã com o qual Allan Fontelles surpreendeu o mundo ao vencer o favorito sul-africano Oscar Pistorius na prova de 200 metros da Paraolímpiada de Londres-2012.

A exposição conta ainda com cartazes, premiações, tochas, moedas, fotos, documentos. Literalmente, a história do esporte mundial.

Conflito

Prisioneiros fizeram Jogos particulares em campo de concentração

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Uma das peças que Roberto Gesta mais se orgulha de ter no acervo de 70 mil unidades de sua coleção olímpica e que está na Exposição Esporte Movimento na Caixa Cultural, em Curitiba, não é de ouro, prata e nem bronze. É de papelão. Assim como em 1940, a II Guerra Mundial impediu a realização dos Jogos de 1944, em Londres. Entretanto, nos campos de concentração de Woldenburg e Gross Born, na Alemanha, os nazistas permitiram que os oficiais poloneses detidos organizassem sua própria versão da Olimpíada. Como não podiam cunhar medalhas em qualquer tipo de metal, a opção foi entregar prêmios simbólicos aos vencedores, uma medalha de papelão. "Os próprios prisioneiros chamaram a competição de Olimpíada. Havia até um carimbo da competição", explica Gesta. A maioria dos oficiais poloneses, porém, morreu dentro dos próprios campos de concentração. Somente em 1948 a Olimpíada voltou a ser disputada, em Londres, mas com a exclusão das delegações da Alemanha e do Japão – a Itália, terceiro integrante do eixo, teve permissão de competir. Já a Polônia, dos oficiais que organizaram os Jogos nos campos de concentração, participou pela primeira vez como país integrante do bloco comunista, junto com Hungria e Tchecoslováquia.