Ela não deu bola para o preconceito, perseguiu um sonho cultivado desde a adolescência e, após muito peso levantado e suor derramado, veio a consagração. Há um mês, a curitibana Larrissa Cunha entrou para a história do fisiculturismo feminino brasileiro ao conquistar o vice-campeonato mundial da modalidade em Santa Susana, na Espanha.
Depois de 14 anos de treinamentos intensos e dez de competições, a paranaense de 31 anos tornou-se a segunda melhor fisiculturista do planeta na categoria pesado. Larissa, que já contava com várias conquistas regionais no currículo e títulos de reconhecimento internacional como o de atual bicampeã brasileira e campeã sul-americana chegou aonde nenhuma outra brasileira esteve. Até então, um sétimo lugar era o melhor resultado do país até os 65 quilos.
Larissa é personal trainer e coordenadora técnica da Academia Planeta Corpo, nas Mercês, em Curitiba. Como não consegue viver só do fisiculturismo por causa da falta de patrocínio, seu treinamento diário é adaptado de acordo com o que permite o seu ganha-pão. "Trabalho dez horas por dia e tenho de encaixar meu treinamento em horários diferentes a cada dia, conforme a disponibilidade", explica.
Formada em Educação Física, ela mesmo programa sua rotina. O treino diário de uma hora, de segunda a sábado, é dedicado a um grupo muscular por vez. Sua dieta é rica em proteínas e carboidratos e complementada com os mais avançados suplementos alimentares para fisiculturistas, todos importados.
A atleta alcançou um objetivo traçado aos 13 anos, quando, para não ficar sozinha nas idas da mãe e da tia à academia, as acompanhava. Enquanto as duas malhavam, ela ficava na recepção olhando revistas sobre fisiculturismo. "Admirava os corpos musculosos e passei a desejar ter músculos também", lembra. Segundo Larissa, é possível ter um corpo musculoso e definido com treinos fortes e boa alimentação, sem precisar apelar para anabolizantes. Mas não nega: em campeonatos de alto nível o doping é até recorrente. "Algumas competidoras apelam até para o uso de hormônios masculinos. Jamais faria isso", enfatiza.
Seus 82 quilos que caem para 65 nas competições, após um regime de quatro meses distribuídos em 1,67 metro de altura desenham uma massa muscular volumosa, capaz até de provocar inveja em marmanjos com anos de vivência na maromba. Feliz e bem resolvida com o seu corpo, Larissa garante que a silhueta poderosa não afeta a sua feminilidade. "Saio na rua de vestido, pinto a unha; enfim, sou uma mulher normal, mas com músculos", ressalta. De volta à rotina, a curitibana já pensa nos passos seguintes. "Quero conquistar o título mundial em 2008 e me profissionalizar."
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