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A fundação Canal 20, de Cas­­cavel, obteve uma ajuda de R$ 4.245 para o projeto do cartista Gustavo Mya­­sava, de 14 anos | Divulgação
A fundação Canal 20, de Cas­­cavel, obteve uma ajuda de R$ 4.245 para o projeto do cartista Gustavo Mya­­sava, de 14 anos| Foto: Divulgação

Futebol

Sem ajuda, Coxa pena para achar ‘padrinhos’

Entre os clubes de futebol do estado quem está mais perto de se beneficiar da Lei de Incentivo ao Esporte é o Coritiba. O Ministério do Esporte (ME) publicou em julho o edital que permitiu ao Alviverde captar recursos no mercado. A intenção é criar uma academia de formação de atletas, estimada em quase R$ 4 milhões.

Apesar da maior exposição na mídia, o Coxa vem sofrendo dos mesmos problemas dos clubes menores. "Não conseguimos convencer o empresariado a investir", diz Ernesto Pedroso, um dos integrantes da cúpula administrativa do time do Alto da Glória, calculando em R$ 1 milhão as contribuições obtidas em 2010 – por não terem sido ainda aprovadas pelo ME, não constam no site de prestação de contas do órgão.

Para tentar sensibilizar a classe, especialmente os torcedores do clube, a diretoria encaminhou no início do mês e-mail pedindo a participação de todos os associados – o quadro associativo do Coritiba é estimado em 18 mil pessoas. Intitulado "Mutirão Coxa-Branca", o texto fala em "trazer para o nosso glorioso Coritiba recursos, de pessoas físicas e jurídicas, a fim de tornar realidade o nosso grande projeto Academia de Formação de Atletas, financiado pela Lei de Incentivo ao Esporte". Ainda de acordo com o material, quem ajudar "terá o nome gravado no ‘Muro da Fama’ do Couto Pereira na qualidade de ‘Construtores do Coxa do Futuro’". O muro ainda será construído. "Estamos buscando amigos, parceiros, conselheiros que possam indicar empresários. É um trabalho inédito", comenta Pedroso.

Manual

Dicas primordiais para tirar do papel a Lei de Incentivo ao Esporte:

Confecção

- Só podem ser beneficiadas ins­­ti­­tuições esportivas sem fins lucrativos, com estatuto regulamentado, sem débitos ou pendências judiciais;

- Na elaboração do projeto, delimite bem a proposta. Ter claro qual o objetivo e a segmentação esportiva que se pretende apoiar é fun­­da­­mental. Por exemplo: um projeto que vise ao treinamento de alto ren­­dimento não precisa se com­­pro­­me­­ter a atender uma demanda social;

- Apresente planilhas orçamentárias detalhadas e com valores reais de mercado. Cotações de preços mos­­tram a preocupação em investir bem o dinheiro captado;

- Prefira um projeto conciso, em que se tenha certeza da capacidade de execu­­ção. Se o projeto estiver muito complexo, divida-o. Cada entidade pode ter aprovados até seis propostas por ano;

- É preciso captar pelo menos 20% do valor aprovado para começar a executar o projeto;

- A lei autoriza que 5% a 10% (até R$ 100 mil) do valor solicitado seja usado para a contratação de um gestor, que se responsabilize pelo trâmite de aprovação do projeto e captação de recursos.

Captação

- O ideal é ter as empresas que vão destinar parte do que pagariam ao Imposto de Renda (IR) antes de os projetos serem aprovados;

- Os meses de novembro e dezembro são um bom período para apresentar o projeto ao empresariado. É quando as empresas definem o orçamento para o ano seguinte e calculam quanto terão de pagar ao Leão e quanto poderão destinar à Lei de Incentivo. De 70% a 80% dos valores captados são garantidos nessa época do ano;

- Os projetos têm um ano para captar a verba aprovada. É possível pedir prorrogação por mais dois anos;

- Procure, preferencialmente, empresas do seu estado para apoiar o projeto. Elas vão fomentar o esporte local sem ter de desembolsar nada a mais do que iriam pagar ao governo federal;

- Nas apresentações do projeto, inclua informações sobre o funcionamento da Lei de Incentivo. Muitos empresários não sabem, por exemplo, que podem contribuir simultaneamente para projetos de cultura (Lei Rouanet) e esportivos;

- Mantenha-se informado sobre o mercado empresarial. Assim, saberá que empresas estão dispostas a ter seu nome vinculado ao esporte;

- Produza um material de divulgação do projeto de qualidade, mostrando a seriedade e a transparência da proposta – especialmente que as contas serão auditadas pelo ministério do Esporte. Deixe claro também que destinar verba para um projeto esportivo não é filantropia.

Fontes: Ricardo Capelli, presidente da comissão técnica de avaliação dos projetos da Lei de Incentivo no Ministério do Esporte; João Leiva, sócio e dirigente da J. Leiva Cultura & Esporte, empresa de consultoria; José Ricardo Rezende, advogado especialista em direito esportivo e autor do Manual da Lei de Incentivo ao Esporte.

  • Veja como é feita a divisão da verba entre os estados para a Lei de Incentivo

O nome é sugestivo, mas a Lei de Incentivo ao Esporte, ferramenta criada pelo governo federal há quatro anos com a intenção de fomentar a prática esportiva no país por meio de renúncia fiscal, ainda engatinha.

Uma simples pesquisa na página do Ministério do Esporte (ME) na internet é suficiente para se com­­provar o desconhecimento em torno da norma. De um total de R$ 181,3 milhões aprovados para captação em 2010, apenas R$ 7,6 milhões – pouco mais de 4% – entraram realmente na conta dos projetos.

Matemática que é ainda mais perversa no Paraná. No estado, apenas uma entidade conseguiu, efetivamente, levantar recursos junto ao empresariado neste ano segundo dados disponíveis no sítio oficial do ME.

A Fundação Canal 20, de Cas­­cavel, obteve uma ajuda de R$ 4.245 para o projeto Piloto II, que colabora com a formação do cartista Gustavo Mya­­sava, de 14 anos, uma das apostas do automobilismo local. O montante não contempla nem mesmo a integralidade do programa, que precisa de outros R$ 170 mil para se pagar.

A quantia também é ínfima se comparada com que o estado tem condições de arrecadar. Dos R$ 14,3 milhões que o Ministério autorizou para projetos paranaenses em 2010, foram captados apenas irrisórios 0,03%.

A apatia da Lei 11.438/2006 não pode ser creditada à burocracia, que comumente trabalha contra. De acordo com dirigentes de clubes e líderes de associações que pleiteiam dinheiro por intermédio da regra, a inibição vem de outro setor: o empresariado.

"As dificuldades são enormes. A principal delas é o desconhecimento das empresas em relação à amplitude da lei", diz Tobias de Macedo, presidente do Graciosa Country Club. Ele tem até o dia 31 para buscar no mercado pouco mais de R$ 2 milhões e tirar do papel o projeto Talentos da Raquete, que dá suporte a jovens tenistas. "Está difícil", resigna-se.

Em pouco mais de um ano de tentativas, o clube de Curitiba levantou cerca de R$ 75 mil (ainda em fase de aprovação, por isso não consta no site no ministério). Pouco até mesmo para dar início ao programa, calculado em R$ 400 mil. "Vamos tentar a ampliação do prazo. Mas, se não der, morre antes de começar", afirma Macedo.

A Agir – Associação de Ginástica Artística, formada por mães de jovens ginastas da capital – também espera abrir uma brecha. Ainda não consta como beneficiária, mas faturará, logo saia o ‘ok’ da pasta, R$ 748 mil.

Uma sobrevida que já não existe mais para o Trieste. Por falta de dinheiro, o time de futebol amador da região de Santa Felicidade abortou na casca o programa Primeiro Drible, que pretendia iniciar no esporte 200 crianças carentes da capital paranaense. O custo estimado era de R$ 3,1 milhões. "Não temos a cultura de fazer uso do que está disponível à sociedade. Não há consciência nenhuma da classe empresarial", critica Jaziel Baioni, presidente do Trieste.

O consultor da empresa J.Leiva Cultura & Esporte, João Leiva, atribui parte da culpa do insucesso de arrecadar verba aos próprios criadores dos projetos. "Falta ainda capacitação para vender a ideia aos empresários, de explicar os benefícios. E, muitas vezes, o projeto é bonito no papel, mas, na prática, não se sustenta. Assim, não atrai investimentos", afirmou durante o Footecon – Fórum Internacional de Futebol.

O coordenador de projetos da Fundação Canal 20, Willian Fis­­cher, aprendeu – na prática e de tanto bater com a cara na porta –como usar a Lei de Incentivo. Na primeira parte do projeto, o Piloto I, conseguiu aproximadamente R$ 130 mil. Verba que permitiu a Gustavo, entre outras coisas, competir fora do estado.

Agora já deu o start na continuação do programa, obtendo pouco mais de R$ 4 mil. "Sem esse dinheiro, provavelmente ele teria de parar", reconhece Jorge Myasava, pai do atleta.

"Não é muito fácil mesmo. Mas, aos poucos, você cria um know-how. É preciso conscientizar as pessoas que esse dinheiro ou vai para o go­­verno [no pagamento do imposto de renda] ou para o esporte [através da renúncia de até 1% do IR]. Em­­presas que já conhecem o trâmite legal acabam nos apoiando sempre", explica o coordenador. "O em­­presário ainda tem medo de que isso [a renúncia fiscal] possa dar problema", conta Fischer.

O Ministério do Esporte diz que o ordenamento é novo e esse pode ser um dos motivos do receio dos investidores.

Ricardo Capelli, presidente da comissão técnica da Lei de In­­centivo ao Esporte do ME diz acreditar que, em 2016, a lei deve ser rediscutida no Senado (ela tem validade até 2015. Seria necessária a aprovação dos senadores para que seja prorrogada). "Ainda estamos conhecendo a Lei. Dos projetos que têm documentação correta, quase 75% são aprovados", afirma.

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