Ter um time para torcer e até mesmo dirigir não parece ser um problema na família Malucelli, uma das mais tradicionais do Paraná. Dentro do clã que possui 131 anos de história no estado desde que Giovanni e Margherita Malucelli desembarcaram em Morretes, no Litoral paranaense, em 1877 , formaram-se dirigentes atleticanos, coxas-brancas, paranistas e de outros clubes, como o Iraty e o J. Malucelli.
A recente chegada de Marcos Malucelli à presidência do Conselho Administrativo do Atlético Paranaense só consolida uma "tradição às avessas" no futebol do estado, que já colocou seu irmão, Sérgio Malucelli, na direção do próprio Atlético e hoje no Iraty. Na capital, o primo Joel Malucelli presidiu o Coritiba entre 1996 e 1997, enquanto o "xodó" da família, o J. Malucelli, é dirigido por Juarez Malucelli e tem Joel como presidente de honra.
"É pura coincidência. Dá para dizer que a família Malucelli gosta muito de futebol, mas nem toda ela. Acho que é algo inédito, que poderia ir para o Guiness Book", brincou Joel Malucelli, em entrevista à Gazeta do Povo Online. Apesar das divergências de camisa, todos os envolvidos com o futebol afirmam que a relação é muito boa.
"Tenho um relacionamento muito bom com o Marcos, com o Sérgio, com o Juarez e com o Waldemar (este último ex-jogador do Ferroviário, ex-dirigente do Colorado e torcedor fanático do Paraná Clube), somos muito próximos. Está presença nossa nos clubes demonstra que a família está viva, e que não há predomínio de nenhuma equipe", completou Joel.
Brincadeiras alimentam rivalidade familiar
A diversidade de gostos para equipes de futebol já vem de longe, dos tempos em que o Ferroviário (um dos clubes que originou o Paraná) dividia as atenções com Atlético e Coritiba na luta pela hegemonia estadual. E as brincadeiras e gozações datam de bem antes desta época.
"Digo sempre que o Joel é um coxa-branca de brincadeirinha, porque na verdade ele é atleticano. Foi onde ele se criou, mas não teve uma chance na equipe profissional porque não jogava bem, ai teve de ir para o Coritiba", revelou Marcos Malucelli, tirando uma "casquinha" do primo que defendeu o Furacão na década de 50.
"Eu nunca traí o Paraná, até jogo no Masters do J. Malucelli, que é o time da família mesmo, mas o Joel traiu o Coritiba ainda na infância", alfinetou Waldemar. "Joguei lá em 1958, no infantil do clube. O campo do Atlético era perto da minha casa, e com 13 anos fiz gols importantes pelo clube. Tem uma foto minha até no livro do Atlético", confirmou Joel, sem querer se estender no "desvio de conduta".
Já Juarez e Sérgio deixaram as suas paixões por Coritiba e Atlético, respectivamente, de lado para abraçarem a direção de outros times. Juarez já foi conselheiro do Alviverde e hoje é presidente do Jotinha, enquanto Sérgio participou do início da era Petraglia no Furacão, e atualmente comanda o Iraty.
"Cada um procura o seu espaço e faz o que gosta. Eu e o Marcos somos de Iraty, nosso pai foi presidente do clube e eu deixei a vice-presidência do Atlético, em 1995, para assumir o clube da cidade em que nasci. Nós brincamos uns com os outros, mas temos que respeitar o gosto de cada um", disse Sérgio.
Estadual de Juniores colocou time de Malucellis frente a frente
Juarez Malucelli comenta que a contribuição da família ao futebol do estado vai além da diretorias e que ela pôde ser acompanhada recentemente, quando Iraty e J. Malucelli fizeram a final do Paranaense Sub-20, com vitória do Jotinha.
"O futebol está no nosso sangue. O Marcos é muito competente e o Atlético agora está em ótimas mãos, e o Sérgio faz um trabalho muito bom no Iraty. Veja que coisa inédita, os dois times da família Malucelli fizeram a decisão entre os juniores. E levamos a melhor", comentou Juarez, sem deixar de gozar o primo.
Família já teve até jogador profissional
Se os Malucelli parecem ter o dom de formarem bons torcedores e dirigentes, a família também já formou um jogador profissional. Paranista, Waldemar compôs o time do Palestra Itália no passado.
"Joguei no time profissional do Palestra em 1958, e antes tinha atuado no juvenil do Ferroviário. Tenho este amor desde a juventude, e considero o J.Malucelli como um filho da família. Acho curioso essa presença de familiares em todos os clubes", explicou Waldemar. Neste ano, ele foi o que mais sofreu nas mãos da família.
"Quase acabaram comigo pela situação do Paraná. Ainda bem que a maioria dos Trombinis, amigos nossos, são paranistas. Já ajuda, mas ninguém do Coritiba pode falar nada porque eles caíram também, e o Atlético quase foi neste ano", devolveu Waldemar aos "gozadores".
Ciente de que o Paraná é o único clube sem contar em sua história com um presidente Malucelli, Joel assegura que Valdemar é um bom nome para assumir o Tricolor. "Estamos pensando em lançá-lo no próximo ano, se o atual presidente (Aurival Correia) não continuar. Ele já foi convidado, mas titubeou", contou. Já Waldemar é mais pessimista quanto à possibilidade.
"O convite já surgiu, a família até incentiva, mas é difícil que isto aconteça. Quero mais aproveitar a vida do que me incomodar. Além do mais, que está lá hoje é bem mais preparado do que eu, que sou apenas um torcedor que vai aos jogos. É muito desgastante. Quem sabe um dia, quando eu me aposentar", declarou, em tom de brincadeira.
Manutenção da "dinastia" está salva
Pelo menos em uma coisa todos os Malucelli possuem uma mesma opinião: uma nova geração vem ai e vai garantir a permanência da família do cenário futebolístico do Paraná.
"É possível, no Atlético meu filho é conselheiro, temos um primo também no conselho", disse Marcos. "Sempre que aparecer uma boa chance, nós veremos um Malucelli envolvido com futebol. No meu caso, estou preparando o meu neto, já que meu filho não gosta muito", opinou Juarez. "Eles estão gostando cada vez mais de participar, e creio que estarão se envolvendo mais, concluiu Joel.
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