O zagueiro, volante e capitão do Palmeiras, Felipe Melo, quer que o Brasil diminua a polarização política e se una para superar a pandemia do novo coronavírus.
O jogador de 36 anos disse em entrevista exclusiva ao Estadão que mantém o apoio ao presidente Jair Bolsonaro e lamentou que o país esteja muito fragmentado pelas diferenças partidárias no momento de crise de saúde.
Em isolamento na sua casa de praia em Paraty (RJ), o jogador tem a companhia da mulher e dos filhos e mantém contatos com o Palmeiras para executar uma rotina de treinos.
O capitão do time defende que o futebol não pode ter pressa para voltar e elogiou a postura da diretoria do Palmeiras de negociar com o elenco uma redução salarial de 25% para evitar a demissão de outros funcionários.
Como você está sem o futebol?
É complicado porque não tem a rotina de vestiário e de campo, de ir todo dia para lá, encontrar seus amigos, ter a resenha, jogar, treinar. Confesso que de nenhuma forma as concentrações me trazem saudade. Para ser sincero, com 36 anos não sinto falta disso, mas tenho muita saudade do vestiário. Apesar de os filhos estarem comigo e de jogarmos todos os dias, não é a mesma coisa
Como capitão, qual foi o seu papel na negociação coletiva do elenco para reduzir os salários?
Eu não gosto de falar só de mim. Todos nós fomos essenciais nessa questão. Eu como capitão da equipe tive de "tirar o carro da frente". Mas todos participaram. A verdade é que tanto o Anderson Barros (diretor de futebol), como nosso presidente (Mauricio Galiotte), o Cícero (Souza, gerente de futebol) e o (Vanderlei) Luxemburgo foram essenciais quando chegaram e falaram: "O Palmeiras não vai mandar funcionário embora". Em minutos, todos os jogadores deram aval e pensamos em ajudar as famílias dos funcionários. A gente tem visto situações de grandes clubes mandando embora funcionários que ganham R$ 1,5 mil. Isso é covardia, porque acaba com a vida de uma pessoa que tem anos de clube e com a vida das pessoas que são sustentadas por ela. O Palmeiras foi correto nesse ponto. Teve tantos patrocinadores que saíram dos seus clubes e os nossos patrocinadores mantiveram seu posto, para que o Palmeiras pudesse manter seus funcionários. Isso é muito importante.
A sua família está cumprindo as orientações de isolamento?
Tenho uma avó com 75 anos, que está no grupo de risco. Meu pai e minha mãe estão tomando todas as precauções, ficando em casa, usam máscaras, luvas e álcool em gel. A gente entende que tomar esses cuidados são importantes porque protegem eles e os outros também. Mas confesso que minha preocupação não é tanto com eles, porque são pessoas que têm condição boa e se cuidam muito. Eu já vi reportagens que mostraram mortes em favela. A gente está em uma guerra. Temos de tomar todas as precauções.
Você acredita que o futebol precisa ter paciência para voltar?
Eu creio que o Palmeiras está agindo de forma cirúrgica. Em nenhum momento ele vai fazer nada que não seja algo autorizado pelo prefeito, governador e a OMS (Organização Mundial de Saúde) A gente não vai peitar ninguém. É claro que a gente quer voltar Eu sou a favor da volta do futebol, mas com precaução e segurança para todo mundo. Tem de voltar com toda a segurança possível. Nada tem de ser feito com pressa.
Alguns times já voltaram a treinar. Eles não podem estar em vantagem?
É claro que quem voltou pode estar um passo à frente demais, mas ninguém está parado. Assim como nós, do Palmeiras, estamos fazendo nossos trabalhos de casa, outros também têm feito. No Campeonato Brasileiro todos vão estar no mesmo patamar.
O que você acha das notícias sobre o Brasil?
Não acompanho, não vejo nada. A gente não vê notícias. Tem uma briga política tão grande, né cara? Eu não entendo nada de política. A minha prioridade é não deixar os meus filhos assustados. Minha prioridade é ajudar quem mais precisa. Só vejo televisão para ver futebol ou filme.
Apesar de não acompanhar, você sempre se posicionou politicamente.
Tem certas pessoas que, quando se assumem para direita, esquerda ou "centrão", acabam tomando uma pedrada maior. Mas a verdade é que qualquer coisinha que eu faço já tomo pedrada. Então, uma pedrada a mais ou a menos. O momento não é de falar de política. O importante agora é união, para acabarmos com essa guerra, com esse vírus que está levando tantas pessoas. É hora de união do Brasil e do mundo.
Você gostaria de ser técnico?
Penso em continuar dentro do futebol no futuro. Se vou ser treinador, comentarista, diretor, aí eu não sei. Não tenho uma prioridade. Minha prioridade é continuar no futebol.
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