Königstein, Alemanha Após cinco dias de silêncio absoluto, Ronaldo falou ontem pela primeira vez na Alemanha. Não foi nem um pouco simpático. Além de cutucar o presidente Lula, o atacante se considerou um injustiçado pela mídia. "Merecia mais respeito", avaliou.
Estava claramente se referindo, entre outras coisas, à polêmica das bolhas no calcanhar. Durante 20 minutos de entrevista, criticou a supervalorização da imprensa ao fato. Curioso que após reclamar, aceitou mostrar o pé já cicatrizado para os jornalistas tirarem fotos. Ficou pelo menos cinco minutos exibindo as feridas.
O Fenômeno também surpreendeu. Questionado se hoje estaria em melhores condições físicas do que na Copa 2002, quando era dado por muitos como ex-atleta (pois vinha se recuperando aos poucos do grave problema no joelho esquerdo), ele não vacilou. "Talvez (agora) um pouco pior", declarou.
Qual o seu nível atual para disputar a Copa?Acho que chego num estágio bom. Sinto que tem espaço para uma melhora. Mas estou contente com a evolução que tive nesse período de treinamento (a partir de 22/5).
Qual a diferença do Ronaldo de hoje para aquele de 2002?O tempo passou... Muita coisa mudou. Continuo na seleção e motivado de estar aqui. E tudo vem correndo bem. Sou o mesmo de sempre.
Você, particularmente, como está em relação ao último Mundial?Talvez um pouco pior, porque em 2002 eu treinei o tempo todo antes da Copa do Mundo. Este ano foi difícil para mim, pois sofri algumas lesões importantes (a última foi uma lesão muscular na coxa direita, em meados de maio). Mas tudo superado. E agora estou bem outra vez para a estréia.
As bolhas atrapalharam o teu período de preparação?Não, pois juntando tudo (o tempo com o problema) dá três dias. Talvez o prejuízo foi criado pela maioria da imprensa, que fez com que o problema fosse maior do que realmente é.
Esses problemas de febre e bolhas... Como você vê isso tudo?Surpreso. Pela repercussão parecia algo mais sério do que realmente era. Uma coisa surpreendente. Ficaram falando da bolha durante três, quatro dias. Tudo era a bolha. E colocando em dúvida minha capacidade por causa disso. Mereço muito mais respeito pelo meu currículo dentro da seleção. Faltou um pouco de respeito, mas, enfim... Não tem controle.
Mas o fato de ter ocorrido com você não justifica a preocupação?Não vejo algo tão anormal ter bolhas no pé. Como vocês puderam ver a bolha cicatrizou. Mas tem gente que não acredita. E associa febre com a bolha. Algo ridículo. Independente que seja comigo, precisa ter responsabilidade para informar melhor a população.
O que especificamente te desagradou?Não tenho queixa com ninguém. Sem generalizar, há pessoas cobrindo a Copa do Mundo que não são preparadas para isso.
Como você estará no início da Copa?Acho que eu estarei bem no início da Copa. O normal é crescer e evoluir durante a competição. Aproveitei bem os treinamentos e vai dar tudo certo.
Você começa com qual porcentual da sua capacidade? Uns 80%, 90%?Não sei te dizer o porcentual que estou, apenas me sinto bem.
Você já está no seu peso ideal?É muito complicado para vocês entenderem... O peso ideal é aquele que o jogador se sente bem juntando o porcentual de gordura com a massa de muscular que eu tenho. Isso parece complicado para vocês (jornalistas) entenderem. Cheguei aqui um pouco acima do peso, porém isso é normal.
Quanto você chegou acima do peso?Isso não interessa para ninguém. Não interessa para o povo. Tem três anos que só falam dessa besteira.
Mas você é uma pessoa pública...Não, veja bem, tenho de pagar esse preço por quem eu sou.
Então por que você resolveu dar entrevista hoje?Acontece que vivo uma rotina diferente de dar entrevista. Em 15, 20 dias falei nove vezes com a imprensa. Algumas pessoas não estão acostumadas a ouvir não.
De alguma forma essa badalação toda te incomoda?Eu estou muito mais focado na Copa do Mundo, apenas isso. Nada mais me preocupa. Decepcionado com algumas coisas eu estou, mas não posso fazer nada.
Na bolsa de aposta em Londres, você ainda lidera a cotação de artilharia. Comente isso.Acho que, como vocês podem ver, o estrangeiro dá mais valor ao brasileiro do que nós mesmos. Durante uma semana, fui pressionado em determinadas situações e nas apostas em Londres ou onde quer que seja chega-se à conclusão de que a seleção é temida, respeitada. Sou o jogador com maior possibilidade de ser artilheiro, bater um recorde importante, o hexa... Eu merecia mais respeito.
Você apostaria em quem para chegar à artilharia?Sempre vou apostar em mim.
Se a estréia hoje você estaria em campo?Mas o jogo não é hoje.
Mas como você está?Não estou com febre, um pouco de dor de cabeça.
Qual foi o diagnóstico para essa sua inflamação de garganta?Uma virose, possivelmente.
Qual notícia você quer ver sobre o Ronaldo nos jornais?Só quero respeito. Não quero ver nos jornais ou falando na tevê, rádio que no dia de folga os jogadores foram no bar ou discoteca (ele foi flagrado na noite de Lucerna e Frankfurt). Não tem notícia nisso. Onde está a notícia? Em 2002, a gente teve folga também. Onde vocês acham que fomos? Os brasileiros criaram uma onda com esse negócio. Tenho que ser protegido pelo menos no meu país. Você não vê isso com americano ou com inglês. Quando há notícia contra o jogador a imprensa deles defende. E isso não acontece no Brasil.
Falta respeito aos ídolos brasileiros?Falta respeito, falta... Em várias situações.
Você se acha mal tratado pela imprensa brasileira?Não.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”