Mercado
Rotatividade com data de validade
O histórico recheado de diferentes clubes e acessos não é, necessariamente, garantia de emprego para os atletas. Os custos destes jogadores e a idade, um pouco mais avançada, vão se tornando empecilhos a cada início de nova temporada. No aspecto pessoal, ainda pesam o desgaste pelas frequentes mudanças de cidade e a falta de uma estabilidade maior nas equipes.
"Onde eu fui, deixei as portas abertas, mas, pela idade, às vezes é difícil [acertar com um clube]. Hoje em dia querem muitos meninos, podem pagar menos para eles", diz o lateral Cassiano que, sem ter ainda contrato assinado com nenhum clube, passa férias em Uruguaiana, no extremo Sul do país.
A busca por atletas mais jovens é a opção, por exemplo, do Cincão, clube de Londrina que conseguiu em 2011 o acesso para a Segundona do Paranaense. "Nossa prioridade é buscar atletas jovens, de preferência sub-20, para lançarmos no mercado. Vamos contratar alguns mais experientes, mas em menor número", afirma o mandatário da agremiação, Gilberto Ponce.
Para Irno Picinini, presidente do Toledo (equipe que subiu para a Série Ouro de 2012), a vida cigana e o surgimento de "reis do acesso" entre os atletas acabaria com uma eventual melhora da situação financeira dos clubes paranaenses.
"Essa negociações dentro de estado são feitas por uma questão de economia. Nossa receita é menor do que de outros estaduais, mas, na hora em que tivermos um campeonato mais lucrativo, vai se procurar mais atletas de fora", projeta. (AR)
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Com exceção do goleiro Oliveira, que veio do interior paulista, todos os demais titulares do Toledo no jogo final da Série Prata de 2011 haviam disputado a elite regional nos meses anteriores.
"Se os campeonatos fossem na mesma data, não teria como jogar o ano todo e muitos [atletas] ficariam sem atividade durante boa parte da temporada [...] Você disputa as diferentes divisões e, se consegue bons resultados, fica em evidência, é valorizado."
Danilo, goleiro do Londrina, um dos reis do acesso no Estadual. Subiu com Nacional (2008), Operário (2009), Arapongas (2010) e Londrina (2011).
"Para os dirigentes que estão fora da elite é bom. Em 2011, conseguimos usar jogadores que tinham passado pela Primeira e Segunda [divisões] e subimos. Até por isso fomos contra qualquer mudança de datas."
Ariobaldo Frisselli, coordenador de futebol da londrinense Junior Team, vice-campeão da Terceirona em 2011.
Para quem está na segunda ou terceira divisão de qualquer campeonato, conseguir o acesso ao fim de uma temporada equivale a um título, com direito a volta olímpica e desfile em caminhão do Corpo de Bombeiros, homenagem da prefeitura... Mas no futebol paranaense, para grande parte dos atletas, o ritual foi banalizado.
A migração intensa de uma equipe para outra e de um campeonato para outro é possibilitada pelo calendário estabelecido pela Federação Paranaense de Futebol (FPF). Diferentemente do que ocorre nos principais regionais do país (Paulista, Carioca, Mineiro e Gaúcho), no Paraná as três divisões ocorrem em épocas distintas.
A particularidade permite possibilidades curiosas aos "ciganos da bola", como, por exemplo, obter dois acessos em um mesmo ano. A situação, por exemplo, por pouco, não ocorreu com o lateral-direito Cassiano, 31 anos, na temporada 2011.
Depois de disputar a Série A local pelo Roma Apucarana, no início do ano passado, o jogador estava apalavrado com o Toledo para jogar a Segundona do estado, no entanto, acabou assinando contrato com o Foz do Iguaçu. O primeiro subiu; o outro fracassou.
Tristeza? Por pouco tempo. A "redenção" de Cassiano veio vestindo a camisa do Junior Team, de Londrina, que subiu da Terceira para a Segunda.
"Foi mais uma conquista importante e, se não conseguisse [subir com o time], ia ficar frustrado. Então, os acessos não perdem a graça, pois cada um tem uma história diferente", garante o jogador, que também já havia subido com Portuguesa Londrinense (2001) e Galo Maringá (2005), além de um acesso no futebol paulista com o Guaratinguetá (2004).
O goleiro Danilo, de 26 anos, já foi promovido com seis clubes diferentes do Paraná. Nos últimos quatro anos, contabilizou um acesso por temporada: Nacional (2008), Operário (2009), Arapongas (2010) e Londrina (2011). Para ele, o calendário do estado tem se mostrado vantajoso.
"Se os campeonatos fossem na mesma data, não teria como jogar tudo e muitos ficariam sem atividade durante boa parte do ano", opina. "Você disputa as diferentes divisões e, se consegue bons resultados, fica em evidência, é valorizado. Eu tive cinco propostas diferentes para disputar a Divisão de Acesso neste ano", conta o arqueiro.
Importar os "temporários" tem se mostrado um bom negócio. Na Segunda Divisão, por exemplo, o Londrina, de Danilo, utilizou a base do Iraty com mais alguns reforços vindos da Série Ouro e conquistou o título.
O vice-campeão Toledo seguiu a mesma linha. Prova disso é que, dos 11 titulares que entraram em campo na decisão da Série Prata, 10 haviam disputado a Primeira Divisão alguns meses antes.
"Para os dirigentes que estão fora do grupo principal é bom. Em 2011, conseguimos usar jogadores que tinham passado pela Primeira e Segunda [Divisões] e subimos. Até por isso fomos contra qualquer mudança de datas", reforça o coordenador de futebol do Junior Team, Ariobaldo Frisselli, lembrando-se da recusa da equipe em aceitar a proposta do Paraná Clube de antecipar a disputa da Série Prata de 2012.
Apesar da possibilidade de encaixar jogadores em equipes diferentes ao longo do ano, o empresário Marcos Amaral não considera positiva a troca intensa de times e de competições em uma mesma temporada.
"Sei que, muitas vezes, acaba sendo necessário para o jogador, mas não vejo com bons olhos, porque são períodos curtos nos clubes e sempre existe o tempo de ambientação. Além disso, o jogador não cria identidade nenhuma e não consegue uma visibilidade muito grande", defende.
Pela legislação, o contrato mínimo de um atleta é de três meses. Diante da falta de um calendário robusto ao longo dos 12 meses, quase todos os atletas firmam termos nestas condições fato que, aliado ao cronograma paranaense, propicia o nomadismo.
Justamente por maior visibilidade, Danilo pensa em conseguir uma vaga em alguma equipe da Série A ou Série B Nacional após o término do Paranaense 2012. No entanto, se isso não ocorrer, não descarta um novo "tour" pelas outras divisões do estado.
"Às vezes é preciso dar um passo para trás para ir mais longe depois", diz o goleiro, projetando outra possível temporada cigana.
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