Opinião
Sete minutos irresistíveis
Ana Luzia Mikos, repórter.
O Atletiba teve tudo que se espera do clássico. E um pouco mais. Só o primeiro tempo já valeria pelo campeonato todo. O Coritiba atropelou o Atlético em sete minutos irresistíveis. Um ou outro atleticano até deixou o Couto Pereira. Mas não deveria.
Mesmo perdendo na tática e na técnica, o Furacão revelou o quanto pode ser perigoso na vontade. Os dois gols devolveram a tensão ao tradicional duelo. Tanto que os coxas-brancas comemoraram intensamente uma falta perigosa que Paulo Baier mandou para fora e poderia valer o empate. O maestro desafinou ontem. Mas merece respeito sempre. No ataque, Nieto ganhou força no lugar de Lucas. O ídolo nada rendeu.
Agora, o processo de recuperação para tentar conquistar o returno e ainda buscar o título estadual começa pela diretoria. Com Caio Júnior distante, o clube vai para o "plano D" (após não trazer os também pretendidos Falcão e Silas). Quem chegar já sabe que não era opção. E a torcida vai ter se contentar com o que deu.
O primeiro turno do Campeonato Paranaense foi decidido ainda antes de o Atletiba, no Couto Pereira, ter chegado a 15 minutos de bola rolando. Mais precisamente no momento em que Leandro Donizete aplicou um chapéu em Paulo Baier. O lance (acrescentado de um sonoro "olé" muitas vezes ouvido ontem) desmoralizou a referência do Atlético e foi a síntese do clássico.
De um lado, um Coritiba maioral, líder e dono do melhor ataque e também da defesa menos vazada da competição. Às vezes até soberbo, o que quase lhe complicou a vida em alguns instantes. Do outro, um Furacão cambaleante, ainda sem um técnico titular no banco e refém dos seus erros (técnicos e administrativos). Resultado: Coxa 4 a 2.
Pela ordem, Bill, Jonas e Davi (2) foram os artilheiros alviverdes, com Nieto, também duas vezes, diminuindo para o Furacão o argentino entrou para a história ao marcar o gol 1.000 dos Atletibas.
"Quanto mais gols, melhor. Contra o Atlético tem de ser assim", cravou Davi, que já se mostra completamente adaptado à rivalidade local.
Uma vitória contundente e significativa. Campeão da primeira parte do Estadual com uma rodada de antecedência, o Alviverde pode agora se dar ao luxo de escolher o que fazer até maio.
Como já possui assento assegurado na decisão regional, tem a opção de, a partir de agora, priorizar a Copa do Brasil, assistindo de camarote aos outros 11 times se engalfinhando pelo título do segundo turno. Ou repetir a dose e liquidar a fatura sem a necessidade da emoção das duas partidas derradeiras. O técnico Marcelo Oliveira já deu indícios de que irá optar pelo segundo caminho ao orientar os pendurados a levar o terceiro cartão amarelo ontem e assim entrar com o elenco completo na próxima fase cumprirão a suspensão automática no jogo da semana que vem fora de casa contra o Cianorte.
Além disso, o 4 a 2 prorrogou o jejum do arquirrival. Quando voltarem a duelar, no próximo dia 24 de abril, faltarão apenas dez dias para o time do Alto da Glória completar três anos sem perder para o Rubro-Negro. Já é a maior invencibilidade alviverde desde a profissionalização do futebol, em 1933.
Ao Atlético, além da resignação de um novo revés, fica a certeza de que a diretoria precisa corrigir os rumos, como pediu ontem um grupo de torcedores que protestou em frente ao camarote da cúpula do clube. A começar pela contratação de um treinador, após negociações frustradas com Paulo Roberto Falcão e provavelmente com Caio Júnior.
"Nem bem entramos no jogo e já estávamos perdendo por 3 a 0 [24 do primeiro tempo]. Precisamos melhorar", resumiu o veterano Paulo Baier, entregando na voz e no semblante a frustração de quem ontem não conseguiu salvar o Rubro-Negro.