Rio (AE) O cerimonial do Maracanã, em obras, anunciava a visita do sueco Ulf Lindberg. Para os funcionários do estádio, a rotina da manhã de ontem não tinha por que ser alterada. Estrangeiros vão ao local todos os dias úteis da semana. Mas havia uma pergunta no ar: quem seria esse cidadão cujo nome acabava de ser pronunciado em alto e respeitoso som pelos alto-falantes? "É o filho de Mané Garrincha", alguém gritou, ao ver a cópia quase exata de um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos. Ulf Lindberg já estava sobre a calçada da fama, no hall do Maracanã, à procura de algum rastro do pai.
Manoel Francisco dos Santos. Lá estava o nome do ponta-direita de pernas tortas, até hoje motivo de discussão entre torcedores de futebol, divididos entre apontá-lo ou a Pelé como o melhor do mundo. "Pelé foi mais completo. Meu pai, mais fantástico". A resposta não veio rápida. Demorou alguns segundos, seguida de um sorriso maroto.
Diplomático, Lindberg quis saber depois por que não havia a marca dos pés de Garrincha na calçada. Agachou-se, tocou a placa de mármore, parecia se esforçar para controlar a emoção. "É uma homenagem póstuma", explicou-lhe o amigo Fredrik Fkelund, guia de uma agência de turismo da Suécia, responsável pela excursão.
Para chegar até ali, Lindberg passou por cima de outros quadrados sagrados da calçada da fama. Sobre o de Ronaldo Nazário, fez um comentário. "Ele é excelente. Mas não tão bom quanto meu pai". Ao pisar em Zico, mais elogios aos brasileiros. "É outro muito bom. Eu o vi na Copa do Mundo de 1982".
Ulf Lindberg, em companhia do filho Martin, 16 anos, já não conseguia caminhar normalmente. Era muita gente a seu redor. No hall, parou em frente a um painel com imagens de Garrincha e Pelé.
Recebeu do presidente da Superintendência de Desportos do Estado do Rio, Chiquinho da Mangueira, um livro sobre a história do Maracanã. Agradeceu e tentou em vão aprender uma frase célebre de Nelson Rodrigues, destacada no capítulo sobre Garrincha: "Deus escreve certo por pernas tortas". No início, não entendeu muito bem o que Deus tinha a ver com seu pai. Foi convencido, então, de que a divindade pode ter relação com o que é fantástico.
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