Moscou Uma final 100% asiática, continente onde mora muita gente, mas também uma decisão 100% comunista, regime em extinção. Essas combinações, ambas inéditas em uma competição organizada pela Fifa, vão dar o tom no Mundial sub-20 feminino da Rússia.
China e Coréia do Norte jogam pela taça no domingo. As chinesas ganharam dos EUA, maior força do futebol entre as mulheres, nos pênaltis depois de um empate sem gols.
As norte-coreanas garantiram vaga na final com vitória sobre o Brasil por 1 a 0, com um gols aos 41 minutos do segundo tempo. Dessa forma, a maior força da bola no masculino segue sem uma decisão em um Mundial feminino.
O sucesso de chinesas e coreanas, que estão invictas na competição russa, é influenciado pelo forte apoio estatal.
No caso do mais populoso país do mundo, isso passa pelo plano de fortalecer o país no maior número de modalidades possíveis para a Olimpíada de Pequim, em 2008.
O caso norte-coreano, porém, é muito mais inusitado.
O futebol caiu no gosto de Kim Jong Il, o ditador que toma conta do país com mão-de-ferro e virou inimigo prioritário do governo norte-americano. Ele costuma freqüentar partidas das seleções, especialmente as da feminina, e oferece mimos aos atletas.
Como faziam os países comunistas da Europa no auge da Guerra Fria, os futebolistas norte-coreanos têm direito a casas maiores.
Também como faz Fidel Castro em Cuba, Kim Jong Il cuida melhor da alimentação das suas jogadoras de futebol. Em um país onde a fome é um grande problema, jogadores e jogadoras das seleções norte-coreanas têm direito a receber 1,5 kg de carne por dia.
E essa alimentação especial se mostrou decisiva para o time sub-20 ter sucesso na terceira edição do Mundial sub-20. Na semifinal contra as brasileiras, as norte-coreanas mostraram maior vigor físico, marcando o gol no fim do jogo.
"Elas foram adversárias muito duras. Na maior parte do tempo, tivemos que nos concentrar na defesa. Acabamos não tendo muitas chances", reconheceu o técnico Jorge Barcellos, do Brasil.