"Achava que era fácil?", perguntou o chefe Rosinei Campos, o Meinha, olhando rapidamente para o repórter-mecânico no meio da correria que tomava conta do box da Eurofarma-RC entre os treinos livres de sexta-feira no Autódromo Internacional de Curitiba. A ordem, logo após a primeira sessão, era trocar o motor dos dois carros.
Já havia dado para perceber que não era nada fácil. No dia anterior, a labuta dos mecânicos foi das sete horas da manhã até o início da noite. Não para colocar a mão na graxa. A quinta-feira das equipes de Stock Car é dedicada a montar toda a estrutura nos boxes, enquanto os carros descem do caminhão com os acertos básicos prontos.
No horário de trabalho, uma regalia para o novo integrante do time amarelo. Vale a jornada de repórter. Ou seja, seis horas. Cheguei às 9h30 e fui embora às 15h30. Não sem ouvir "Já vai?", "É amigo do chefe?" ou "Moleza, hein".
Mas deu para suar. Na verdade, abraçar aquelas atividades secundárias típicas de novato, como segurar uma divisória para alguém parafusar ou ajudar a descarregar as pesadas peças da cabine de cronometragem.
Na sexta os carros vão para a pista. O ritmo da equipe se torna frenético. Ainda mais quando o rendimento não é dos melhores e os pilotos Ricardo Maurício, atual campeão, e Max Wilson tem queixas a fazer.
Nem precisava. O experiente Meinha não demorou a perceber que algo andava errado. "Vem para o box Ricardinho", chama pelo rádio, dando início a um corre-corre generalizado. Em poucos instantes, ferramentas, mangueira de combustível e pneus estão preparados para o pit stop. Regulagens feitas sem tempo para respirar, e o número 90 volta à pista.
Um intervalo de 2h45 é o tempo da equipe para desmontar os dois carros quase inteiros, trocar os motores e recolocar as peças no lugar. Ao lado, carregar capôs ou tirar pneus do caminho são as nobres funções designadas ao dublê de mecânico. Que observa todos os movimentos atentamente para aprender o máximo possível.
Os tempos não melhoram no treino da tarde. Prenúncio de muito trabalho até o classificatório de sábado. Mas a jornada de seis horas chegava novamente ao fim. A dos mecânicos não. "Ih, ainda vamos longe", diz o engenheiro-chefe Joselmo Barcik, o Polenta, conformado em ficar no autódromo até a madrugada se preciso.
Quinta e sexta era o combinado. Porém não há como largar tudo na hora do vamos ver. No autódromo de novo no dia seguinte, uma passada no box para ver se as coisas melhoraram. As notícias não eram animadoras: 14.º e 15.º lugares no grid. Chances de vitória praticamente nulas.
Depois de viver a rotina dos mecânicos, era hora de sentir a adrenalina dos pilotos. Mas até o carro de dois lugares usado para levar convidados não colaborou. Ao contornar o S no fim da reta dos boxes, um tranco e fumaça invadindo a carenagem. "O cubo da roda já era..", sentencia Ricardinho, na direção.
Já prevendo as piadinhas, enquanto era resgatado pela caminhonete de serviço lembrei que daquele carro eu não havia colocado a mão em nenhuma peça. Menos mal. Porém a prova maior ainda estava por vir no domingo. Partindo em 14.º, Ricardinho fez ultrapassagens, viu batidas, problemas mecânicos e punições à sua frente. E cruzou em primeiro.
Ao ver, agora de longe, a festa dos mecânicos de camisa amarela, dando tapas no carro enquanto ele parava, cheguei a me achar por um momento parte da vitória. Afinal, carreguei aquele capô ali, oras.
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