A menos de um mês do começo da temporada da Fórmula 1, Bruno Senna perdeu a vaga na Brawn GP para Rubens Barrichello. O veterano brasileiro foi escolhido por Ross Brawn para ocupar a última vaga no grid de 2009, deixando o jovem piloto sem a sonhada vaga na categoria.
Sem cockpit, o sobrinho do tricampeão mundial Ayrton Senna, que no mês de fevereiro era dado como certo na equipe que viria a suceder a ex-Honda, teve de procurar alternativas para não ficar parado neste ano. Por enquanto, confirmada mesmo apenas a presença na tradicional 24 Horas de Le Mans.
Em entrevista exclusiva, Bruno analisa o começo de temporada da categoria que gostaria de estar disputando e garante que, ao ver o excelente desempenho do carro da Brawn GP, que quase foi seu, "deu ainda mais vontade de estar lá, acelerando o carro". Confira.
GloboEsporte.com - O que te levou a fechar contrato com a equipe Oreca para disputar as 24 Horas de Le Mans? Você pensa em disputar essa corrida, que é uma das principais do automobilismo mundial, há muito tempo?
Bruno Senna - Quando fiquei sem opção na Fórmula 1, meu telefone não parou mais de tocar. Equipes de várias categorias me procuraram com convites para correr. Eu não havia pensado ainda em provas de longa duração, porque estava totalmente concentrado na F-1, mas a proposta da Oreca me pareceu interessante não apenas pela importância das 24 Horas de Le Mans como também porque o pacote me daria a possibilidade de ficar em atividade e conhecer outra categoria veloz e de bom nível tecnológico. É mais uma experiência que estou adquirindo e que me será útil mais à frente, quando surgir uma chance na F-1.
Você pensa em começar a se aventurar em outras provas de longa duração, além das 24 Horas de Le Mans e das provas da Le Mans Series em Barcelona e Spa-Francorchamps?
Tudo o que estou fazendo tem como foco a Fórmula 1. No momento, o que tenho acertado é essas três corridas. Fiz uma boa estreia em Barcelona, onde levamos o Courage LC70 da Oreca ao terceiro lugar e ao pódio, e a etapa de maio em Spa será mais uma preparação para o evento mais importante, que são as 24 Horas de Le Mans. Será mais uma boa oportunidade de continuar testando o carro, até porque será tudo mais difícil com a participação do favorito Peugeot 908. Como continuo confiante em estrear na Fórmula 1 em 2010, espero que essas sejam minhas últimas provas de endurance.
Quais as principais diferenças de um carro de monoposto para os protótipos de Le Mans? E para o DTM?
Se você comparar com o Fórmula GP2 que pilotei nos últimos dois anos, há pouquíssima coisa em comum talvez apenas o câmbio sequencial de seis marchas. Os motores têm potência parecida, em torno dos 650 cavalos, mas o esporte-protótipo é muito mais pesado. As rodas também têm medidas bastante diferentes. As da Fórmula GP2 são iguais às (da) Fórmula 1, aro 13, enquanto as do Courage LC70-Oreca são aro 18. Mas o esporte-protótipo está mais para um fórmula do que para o DTM.
Depois de disputar as 24 Horas de Le Mans você vai ter corrido nos templos sagrados do automobilismo europeu; como Mônaco, Spa e Monza. Correr em templos americanos como Indianápolis e Daytona está nos seus planos?
Depende de muita coisa, mas no momento não me vejo correndo nesses circuitos porque precisaria estar ligado a uma categoria americana, o que está longe de ser uma prioridade no momento.
A temporada da Fórmula 1 começou com a confusão sobre os difusores da Brawn, Williams e Toyota. Quanto essa peça tão controversa pode afetar no desempenho de um carro?
Os difusores, não apenas os da Brawn GP como também os da Toyota e da Williams, estão fazendo uma grande diferença. Por causa da maior eficiência aerodinâmica que eles proporcionam, as três equipes estão fazendo um início de temporada surpreendente se levarmos em conta os resultados delas nos anos anteriores. No caso da Brawn, que venceu com sobras as duas primeiras corridas, não se pode esquecer que a equipe começou a trabalhar no projeto do novo regulamento muito antes das demais. Quando visitei a fábrica em maio, depois de ganhar a corrida de GP2 em Mônaco, o Ross Brawn me informou que o desenvolvimento do carro do ano passado havia sido abandonado e que a equipe já estava focada no de 2009.
Você esteve muito perto de estar sentado no carro sensação da Fórmula 1, o BGP001. Depois que você viu o desempenho do carro na pista, qual foi sua primeira reação?
É claro que me deu ainda mais vontade de estar lá, acelerando o carro. Por tudo o que eu sabia do andamento das coisas na fábrica, acreditava que a equipe seria competitiva. Mas é claro que ninguém poderia imaginar que ela saísse tão na frente das demais.
E depois de ver o desempenho comprovado em Melbourne?
Quem não gostaria de andar com um carro vencedor? Fiquei contente pela equipe e pelo Rubinho, mas vou continuar batalhando pela minha chance e espero que ela chegue o mais rápido possível. Em que pé estão as negociações com a Mercedes? Além de Le Mans você vai disputar o DTM em 2009?
As negociações existem, sim, mas ainda não é certo que eu faça o DTM neste ano. Tudo dependerá das condições apresentadas e aonde elas podem me levar. Uma das inegáveis vantagens de fazer o DTM com a Mercedes é entrar na "família" e estreitar as relações com as equipes que recebem motores da fábrica na Fórmula 1.
Antes do GP da Malásia, a imprensa europeia veiculou que o dono da Force India, Vijay Mallya, teria interesse em contar com você como piloto da equipe. É só especulação ou já houve alguma conversa a esse respeito?
Fico contente de ter sido lembrado por Vijay Mallya, mas ainda precisamos conversar para descobrir quais seriam as oportunidades. A Force India é uma das equipes que mantêm parceria técnica com a Mercedes, está em crescimento e tem tudo para se tornar cada vez mais competitiva.
A direção da McLaren já assumiu que o MP4/24 é um carro problemático, você acha que eles conseguem recuperar terreno a ponto de brigar pelo título?
Não tenho dúvida de que a McLaren estará mais forte nas próximas corridas, principalmente a partir da fase europeia. Equipes desse porte, como é o caso também da Ferrari, têm recursos financeiros e humanos para acelerar o desenvolvimento dos carros.
Para finalizar, vamos falar de futebol e do seu Corinthians. Tem conseguido acompanhar o time? Já foi ver o Ronaldo jogar?
Sou corintiano, mas estou longe de ser um especialista em futebol. Também porque vivo no exterior a maior parte do ano, quase não acompanho os jogos. Mas tenho uma amiga que é filha de diretor do Corinthians, fanática pelo clube, e fui com ela ao Pacaembu assistir à partida contra a Portuguesa que foi interrompida por um dilúvio. O Ronaldo ainda não estava jogando naquela época...