Nesta quinta, o último GP do Brasil disputado no autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, completou vinte anos. E mesmo com os títulos conquistados nas temporadas anteriores por Nelson Piquet e Ayrton Senna, naquela tarde de março de 1989 a torcida brasileira vibrou com o bom desempenho de outro compatriota. Coube ao paranaense Maurício Gugelmin, a bordo de um carro mediano, conquistar um lugar no pódio, ao lado de feras do naipe de Nigel Mansell e Alain Prost.
De bem com a vida prestes a completar 46 anos, o ex-piloto falou com exclusividade ao GloboEsporte.com. Comentou o atual momento da Fórmula 1, falou das amizades que mantém da época em que competia e relembrou também o dia em que conquistou seu melhor resultado na categoria.
Qual a maior recordação que você guarda daquele dia, quando subiu ao pódio em frente à torcida brasileira?
Maurício Gugelmin: Tenho ótimas lembranças do Rio de Janeiro, uma cidade maravilhosa em sua geografia e também muito calorosa. Corri diversas vezes em Jacarepaguá em categorias menores, e sempre adorei o traçado. Fiz lá minha estreia na Fórmula 1, em 1988, mas não andei nem cem metros naquela corrida. Já no ano seguinte, a coisa foi diferente. O Ayrton Senna e o Nelson Piquet tiveram problemas e, de repente, virei o "salvador da pátria". Eu passava na reta e sentia o pessoal na arquibancada mexer, vibrar... é uma experiência que até hoje eu não esqueço.
Você chegou a acreditar que o pódio era possível, mesmo largando em 12º?
Corríamos com o modelo de 1988, que, se não era novo, ao menos estava muito bem testado. Eu tinha um carro equilibrado, mas bem limitado, principalmente em termos de motor. Marcar pontos era uma possibilidade real, e eu pensava nisso. Havia muita gente boa na pista, e não dava para chegar em caras como o Nigel Mansell e o Alain Prost. Subir ao pódio foi como uma vitória para mim.
Quando você se deu conta de que estava efetivamente na briga?
Nossa aderência era boa naquela pista, e a preocupação consistia em poupar os pneus. Mas não podia me dar ao luxo de esperar. Apertei o ritmo, fiquei um bom tempo andando entre o quinto e o sexto lugar, na balada dos caras da frente, e pensei que dava para ir além. Especialmente quando vi que meu carro estava melhor em curva do que a McLaren. Andávamos bem nas tomadas de alta, e por duas vezes quase superei o Prost. Com um pouco mais de experiência, acho que teria conseguido. Mas a temperatura do óleo começou a subir demais e resolvi preservar aquele resultado, levando o carro até o final.
Além do pódio na primeira etapa, você teve outro lance marcante naquela temporada: fez a melhor volta no GP da França, mesmo depois de uma capotagem assustadora. Como foi viver aquele momento?
Só me assustei depois que vi as imagens, à noite. Naquela ocasião, larguei bem, mas não tinha aquecido suficientemente os freios dianteiros. Vi uma brecha, coloquei o carro, mas o espaço se fechou e toquei rodas com quem vinha à frente. O carro deu uma pirueta e, ao olhar para o céu, pedi apenas para que não me machucasse. Assim que o carro parou de deslizar pelo asfalto, falei com a equipe pelo rádio e pedi o equipamento reserva para a nova largada. Mas quando voltei ao box para buscá-lo, percebi que a Fórmula 1 inteira estava olhando para mim. Na corrida, tive alguns problemas e perdi muito tempo nos pits, mas meu carro estava rápido e marquei a melhor volta.
Na época, os carros da March eram projetados por Adrian Newey, que depois criou modelos campeões na Williams e na McLaren. A equipe tinha boas perspectivas para aquela temporada, após seu bom resultado no Brasil?
A gente tinha esperança de um ano bom. O Adrian Newey era talentoso, tanto que conquistou muita coisa nos anos seguintes e agora está aí de novo pintando como um diferencial fora das pistas. Mas naquele tempo ele ainda era inexperiente e se mostrava radical em alguns conceitos, querendo sempre extrair o máximo do projeto. O resultado é que o carro andava bem ou então era inguiável.
A Fórmula 1 deixou boas lembranças na sua vida?
O período que passei na Fórmula 1 foi muito legal. Ainda havia grandes campeões na pista e mais desafios aos pilotos. Hoje a categoria está muito "plastificada". Se por um lado sofisticou, por outro levou embora muito da era romântica. Hoje os caras guiam até com direção hidráulica. Daqui a pouco vai ter ar condicionado nos carros...
Você abandonou as pistas em 2001, após uma longa carreira nos Estados Unidos. Ainda tem algum contato com o meio automobilístico?
Como passo metade do ano nos Estados Unidos, tenho muito contato com a turma da Indy. Mas dei uma volta ao mundo no ano passado e reencontrei muita gente. Jantei no Japão com o Akira Akagi, patrocinador e posteriormente dono da March. Estive também com o Ralph Firman, que preparava meus carros na Fórmula Ford. Nós costumamos nos encontrar pelo menos a cada seis meses para colocar o papo em dia. Quando estou no Brasil, acompanho a Stock Car pela TV, apesar de não curtir a NASCAR ou coisas do tipo. Admiro o crescimento da categoria e fico de olho nos bons pilotos que estão andando por aqui.
O que você faz hoje em dia?
Estou aposentado! Tenho fazendas no Paraná e em Santa Catarina e alguns investimentos na área florestal. Curto meus filhos, que estão com nove e quinze anos, e adoro navegar. Meu barco tem autonomia para ficar muito tempo no mar, então comigo é assim: não gostou do vizinho, se muda; se o tempo está ruim, procura outro lugar. Entre dezembro e março, fiquei poucos dias em terra firme.
O que você espera da temporada 2009 da Fórmula 1?
Vai ter muita surpresa. Pelos testes, Brawn, Williams e Toyota devem aparecer bem, ainda mais com o difusor liberado pela FIA. Mas, no fundo, alguma hora vai acabar pesando o investimento das grandes equipes. Vejo a Ferrari bem posicionada, a BMW incomodando, e acredito no poder de reação da McLaren. O fato da Mercedes fornecer motores a outras equipes pode facilitar a busca por soluções.
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