Em meio à epidemia do novo coronavírus, o futebol e os demais esportes pararam praticamente no mundo inteiro. Praticamente. Em Belarus (antiga Bielorrússia), a situação parece não preocupar tanto quem cuida do futebol no país.
No último final de semana, oito jogos agitaram o Campeonato Bielorrusso, a Vysshaya Liga. A competição está na sua terceira rodada e teve início no dia 19 de março, justamente logo depois de vários torneios mundo afora serem paralisados. O líder é o Energetik-BGU Minsk, com três vitórias.
Quando o campeonato começou, o país registrava cerca de 80 casos e nenhuma morte. Mas, 20 dias depois, este número já é bem maior: 1.066 casos registrados, com 13 óbitos. Mesmo assim, o futebol continua e tem rodada marcada a partir da próxima sexta-feira (10). Além disso, a Copa local está na fase semifinal, com jogos nesta quarta-feira (8).
A tendência é que dificilmente a liga seja interrompida. Sem futebol sendo praticado nos outros países, a Vysshaya Liga teve seus direitos de transmissão adquiridos por Rússia, Ucrânia, Israel e até pela Índia. Diante da escassez de esportes pelo mundo, o Campeonato Bielorrusso virou um atrativo.
Ou seja, diante do dinheiro envolvido (foram dez novos contratos de TV), a competição pode seguir até o final. Ainda mais da forma que o coronavírus é visto no país.
O presidente de Belarus, Aleksander Lukashenko, minimizou a situação e disse até que o vírus é uma psicose que enlouqueceu o mundo. Tanto que por lá não foi adotado o isolamento social.
As partidas de futebol contam com público no estádio normalmente. A única cautela é dar álcool em gel para quem vai aos jogos e medir a temperatura de cada pessoa, para impedir a entrada de quem estiver com febre (como mostra o vídeo abaixo, do jogo do Dínamo Minsk contra o Torpedo Zhodino).
Mesmo assim, apoiadores do BATE Borisov (principal clube do país), do Shakhter Soligorsk e do Neman Grodno já avisaram que não pretendem ir mais aos estádios, justamente por conta da epidemia.
Alguns jogadores também já se mostraram preocupados, mas não podem fazer muita coisa, mesmo com a própria Fifa e a Uefa terem se manifestado a favor da paralisação. A Fifpro, federação internacional de jogadores de futebol profissional, está tentando uma intervenção para paralisar o campeonato.
Brasileiros por lá
Entre os atletas, estão sete brasileiros disputando a liga nacional. Quase todos jovens, entre 19 e 25 anos, e que tiveram poucas oportunidades por aqui. Um deles é o volante Wanderson Maranhão, que teve uma passagem pelo Coritiba entre 2013 e 2015.
O jogador foi contratado pelo Coxa após se destacar pelo JV Lideral na Copa Sâo Paulo de 2013, mas nunca jogou profissionalmente pelo Alviverde. Chegou a ser emprestado para Foz do Iguaçu e Maringá, até chegar ao Vitebsk, em 2018. Desde então, é titular absoluto da equipe.
No mesmo time estão o zagueiro Júlio César, revelado pelo Corinthians, e o atacante Diego Carioca, que começou no Grêmio.
Os outros brasileiros são o meia Victor Dias, do Energetik-BGU Minsk, os meias Lipe Veloso, revelado pelo Palmeiras, e Gabriel Ramos, com passagens por Bahia, Flamengo e Cuiabá, ambos do Torpedo Zhodino, o zagueiro William, que passou por Juventude, Luversende e Santa Cruz, e está no Rukh Brest, e o meia Danilo Campos, naturalizado belga, do Dínamo Minsk.
Quase todos conversam entre si sobre diversos assuntos, inclusive o coronavírus. Alguns se mostram preocupados, enquanto outros se sentem mais seguros de jogar no país, que não tem tanta letalidade por conta da doença.
"Eu particularmente me sinto privilegiado por aqui não ter parado, mas triste de estar acontecendo tudo isso no mundo todo. Em geral estamos nos sentindo tranquilos, pois estamos conversando como o clube, lidando com isso e eles estão dando todo suporte pra nós, pra que possamos ficar tranquilos", disse Victor Dias, do líder Energetik-BGU Minsk, em entrevista à Tribuna do Paraná/Gazeta do Povo.
O atleta de 19 anos chegou ao futebol bielorrusso no ano passado e vem buscando seu espaço na equipe. Com mais contato com os companheiros locais, ele prefere focar no campeonato em si e deixar para que os clubes tomem as medidas necessárias quanto aos cuidados extra-campo.
"Nós procuramos não falar muito sobre isso pra não haver preocupação, mas sempre estão conversando com a gente para nos precavermos, nos cuidarmos", ressaltou.
Por outro lado o brasileiro naturalizado belga Danilo Campos admitiu que fica apreensivo ao entrar em campo, mesmo com os cuidados que o clube vem tendo.
"Os médicos do clube têm passado medicamentos para nos mantermos com imunidade em dia. Bastante higienização, álcool em gel, alimentação saudável, está tudo reforçado para todo mundo estar bem. Temos exames todos os dias. Mede-se peso, temperatura, tudo. Mas a gente não deixa de ficar apreensivo", contou o atleta, ao GloboEsporte.com.
Lipe Veloso, por exemplo, precisou ficar dez dias de quarentena em um hotel em Belarus, recebendo visitas apenas do médico do Torpedo Zhodino, antes de ser apresentado oficialmente e começar a treinar, o que aconteceu na última quarta-feira (1).
O jogador chegou em Belarus no mês passado e a determinação no país é o isolamento por alguns dias de quem vem de fora.
Conheça os brasileiros de Belarus:
Energetik-BGU Minsk: Victor Dias (19 anos), meia
Torpedo Zhodino: Lipe Veloso (22 anos), meia revelado no Palmeiras; Gabriel Ramos (24 anos), meia com passagens por Bahia, Flamengo e Cuiabá
Vitebsk: Júlio César (23 anos), zagueiro que começou no Corinthians e jogou no América-RN; Wanderson Maranhão (25 anos), volante que passou pela base do Coritiba e jogou no Foz e no Maringá; Diego Carioca (22 anos), atacante que começou no Grêmio
Rukh Brest: William (23 anos), zagueiro com passagens por Juventude, Luverdense e Santa Cruz
Dínamo Minsk: Danilo Campos (30 anos), meia naturalizado belga
Outros países com futebol
Mas não é só em Belarus que o futebol continua sendo disputado no mundo durante a pandemia do coronavírus. Na Nicarágua (América Central), em Burundi (África) e no Tajiquistão (Ásia) a bola segue rolando.
No Tajiquistão, inclusive, teve um campeão no último sábado (4). O Istiqlol Dushanbe venceu o Khujand por 2x1 e ficou com o título da Supercopa.
Apesar de o país não ter registrado nenhum caso de coronavírus, o jogo foi disputado sem torcida e com direito a um minuto de silêncio em respeito às vítimas da doença no mundo todo.
Nos outros países com futebol, Nicarágua teve seis casos de pessoas com coronavírus, com uma morte, enquanto em Burundi foram três, sem óbitos.
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