Há um ano, a seleção sofria a maior humilhação da história do futebol brasileiro. Em uma semifinal de Copa do Mundo, disputada em casa, apanhou por 7 a 1 da Alemanha, futura campeã mundial. Lavada histórica que poderia ter detonado um processo de reconstrução do esporte no país. Mas não deu em nada.

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Abaixo, para cada gol dos alemães – marcados por Müller, Klose, Kroos (2), Khedira e Schürlle (2) – um ponto em que o Brasil poderia ter avançado, mas deu um bico para longe. Desde então, para comemorar só a prisão de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, no escândalo da Fifa. Pouco, como o gol de Oscar naquela tarde no Mineirão.

0 x 1 - SAI PARREIRA-FELIPÃO; ENTRA GILMAR-DUNGA

 
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Com o vexame histórico e a saída de Luiz Felipe Scolari havia a expectativa por uma revolução na seleção brasileira. Dia 20 de julho, apenas uma semana depois da Copa, a CBF logo confirmou o substituto: Dunga, o técnico do Mundial anterior, na África.

“A CBF deveria ter vivenciado a perda, refletido sobre o resultado. Tentou negar, renegar, como se fosse algo sem importância, apenas um apagão. E fez uma escolha imediata, apressada, apostando na mesma experiência do passado, que não deu certo”, analisa Tostão, colunista e ex-jogador, campeão mundial em 70.

Após ter caído com o Brasil nas quartas, em 2010, Dunga treinou somente o Internacional, por 52 partidas. Além dele, a CBF anunciou Gilmar Rinaldi para coordenador técnico, vaga deixada por Carlos Alberto Parreira. Ex-goleiro, Rinaldi fez carreira como empresário de atletas.

O espanhol Pep Guardiola, que chegou a revelar o desejo de treinar o Brasil em 2014, e o português José Mourinho, os dois técnicos mais prestigiados do mundo, só apareceram mesmo nas especulações. Nacionalistas, José Maria Marin, presidente em exercício da CBF, e Marco Polo Del Nero, presidente eleito, jamais pensaram numa solução estrangeira.

“A expectativa de todos era por algo diferente, ideias novas, conceitos modernos. Mas preferiram o Dunga, que é a expressão do lugar-comum, um técnico dogmático e ortodoxo”, comenta Tostão.

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0 x 2 - CRIAÇÃO DO CONSELHO DE NOTÁVEIS DA CBF

 

Novo vexame, agora na Copa América em 2015, fez a CBF criar um conselho formado por ex-técnicos da seleção brasileira, sob o pomposo nome de Conselho de Desenvolvimento Estratégico do Futebol Brasileiro. O primeiro encontro com Dunga ocorreu na última segunda-feira (6), na sede da entidade.

Na saída, Zagallo, 83 anos, há 10 longe dos gramados, fez o seu diagnóstico. “Não consegui falar tudo que podia, ou queria. O Brasil tem que jogar de igual para igual com qualquer seleção. E saber jogar fechado, que é o normal. Uma seleção que tem o Neymar pode fazer isso sem problema nenhum. Não pode se aventurar”, disse o velho Lobo.

Além do tetracampeão, outros treinadores participaram da reunião. Entre eles, Ernesto Paulo, ex-técnico de base da seleção, que dirigiu o time principal uma vez, em 1991, Candinho, aposentado desde 2007, e Carlos Alberto Silva, que parou em 2005. Quem também apareceu para a reunião foi Carlos Alberto Parreira, o coordenador técnico do 7 a 1.

“É uma piada, uma perda de tempo. O que vai adiantar reunir tantos técnicos obsoletos? Zagallo já estava ultrapassado na Copa do Mundo de 1998. Ernesto Paulo dirigiu um jogo, Candinho só tapou buraco. O Falcão é talvez o único que mereça ser ouvido e o Parreira participa como se não tivesse sido um dos responsáveis pelo vexame”, avalia Mauro Cézar Pereira, comentarista do canal fechado ESPN Brasil.

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0 x 3 - REMENDO NO CALENDÁRIO

 

A pauta de reivindicações dos jogadores, liderados pelo grupo Bom Senso FC, praticamente não avançou no período. Para 2015, a pré-temporada teve 25 dias, mas os Estaduais seguiram com o mesmo formato e o Brasileiro concorreu com a disputa da Copa América no Chile.

Em 2014, o movimento apresentou uma nova proposta de calendário, com reformulações que partem da transformação dos Estaduais. De acordo com a sugestão, as competições seriam disputadas em formato de Copa do Mundo, com mais equipes, mas apenas em sete datas. A CBF ignorou.

0 x 4 - OPOSIÇÃO DE CLUBES E CBF A MP DO FUTEBOL

 
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A Medida Provisória 671, a MP do Futebol, propõe equalizar as dívidas públicas dos clubes e trazer transparência às entidades esportivas do país, incluindo federações e a CBF. A tentativa de modernização, no entanto, detonou uma guerra de bastidores.

De um lado, deputados favoráveis, o Bom Senso FC e alguns poucos clubes (como Atlético e Flamengo). Do outro, os deputados da chamada bancada da bola, tropa de defesa da CBF, e boa parte dos clubes da Série A, como Corinthians e Palmeiras.

“Sem a revisão das dívidas não sabemos quais grandes clubes brasileiros terão de fechar suas portas. O futebol nunca foi levado a sério. Quem sabe seja a hora”, resumiu Mario Celso Petraglia, presidente do Furacão.

O texto precisa ser votado na Câmara dos Deputados e no Senado até o próximo dia 17. Caso isso não aconteça, perderá a validade.

0 x 5 - MARCO POLO DEL NERO FIRME NA PRESIDÊNCIA DA CBF

 
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O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, está sendo investigado pela Justiça americana, com relação a supostas propinas para fechar acordos comerciais da entidade. Preocupado com o futuro, o cartola não foi ao Chile para a Copa América e não sabe se viaja para a Suíça para a reunião extraordinária da Fifa, no dia 20.

No entanto, a caçada dos americanos e o escândalo que levou o ex-presidente da CBF José Maria Marin para a cadeia não atingiram o status do atual comandante do futebol brasileiro. Graças à complacência de clubes e federações, Del Nero está conseguindo administrar a crise que o levou a ser sabatinado no Congresso e fez surgir especulações sobre uma possível renúncia.

O dirigente amansou os clubes da Série A com a proposta de conferir mais poder a eles com mudanças no estatuto da CBF. Tais como a chance de alterar a fórmula de disputa do Brasileiro e mexer no calendário da temporada da bola.

O contato com as federações foi mais complicado, mas não por causa das denúncias que trancaram Marin na Suíça e estão batendo na porta da entidade. Em assembleia extraordinária, as federações foram contra a proposta de Del Nero de alterar as regras de sucessão. E foi só.

0 x 6 - FALTA DE ENGAJAMENTO PARA A CRIAÇÃO DE UMA LIGA

 
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Mesmo com o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, na cadeia, e o atual, Marco Polo Del Nero, investigado pela Justiça americana, os clubes seguem amarrados à entidade. A criação de uma liga independente, gerida por eles, desperta o interesse da maioria, mas poucos têm coragem de firmar posição.

“Todos sabem que o momento é agora, mas ficam apreensivos pela retaliação, pelas represálias, arbitragens. Se não sair este ano, se os clubes não se organizarem, eu encerro a discussão e dou por cumprida minha missão, pois não farão nunca mais”, declarou Mario Celso Petraglia, presidente do Atlético, em entrevista ao jornal Lance!.

Boa parte dos clubes aguarda por uma posição da televisão, de quem dependem financeiramente. Caso a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão do Brasileiro até 2018, mostre simpatia pela criação da liga, mais apoiadores surgirão.

Não há qualquer impedimento para o surgimento da liga. O formato é amparado pela Lei Pelé, nos artigos 16 e 20. A criação de um campeonato próprio, sem a influência da CBF e das federações estaduais, depende basicamente da força política dos clubes.

“O presidente da CBF está preso! Que outro momento teremos como esse?”, reforçou Petraglia, também ao Lance!.

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0 x 7 - CPIs EMPERRADAS

 

O escândalo que estremeceu a Fifa fez deputados e senadores se movimentarem em Brasília para a criação de CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) com o objetivo de devassar o futebol brasileiro. As duas, entretanto, apesar do pouco tempo, já parecem fadadas ao fracasso.

Na Câmara dos Deputados o pedido foi protocolado no final de maio, por iniciativa do ex-judoca João Derly (PC do B-RS). O pedido foi encaminhado para a análise dos técnicos da casa e não há data para uma resposta – apenas este ano, foram sugeridas 12 CPIs e apenas cinco podem funcionar simultaneamente.

No Senado, a proposição foi encampada pelo ex-jogador Romário (PSB-RJ) e criada oficialmente, mas não há previsão de quando será instalada. Os senadores entram em recesso no próximo dia 15 de julho e retornam somente em agosto. O principal alvo da comissão são as contas da CBF.

Não bastasse o atraso nos trabalhos, a composição da comissão sofre críticas severas. Um dos membros é o senador Zezé Perrela (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro que já integrou a bancada da bola, tropa de choque da CBF. Fernando Collor de Mello (PTB-AL) também integra o grupo.

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Presidente da CPI do Futebol há 15 anos, o senador Álvaro Dias é outro participante. “Esta comissão poderá contribuir para a limpeza que se faz necessária hoje, para ver o futebol brasileiro fomentando o desenvolvimento econômico, social e cultural deste país”, declarou Dias em pronunciamento.

1 x 7 - JOSÉ MARIA MARÍN NA CADEIA

 

Ex-presidente da CBF, homem à frente do futebol brasileiro durante o período da Copa do Mundo, José Maria Marin foi preso no dia 27 de maio, na Suíça. Aos 83 anos, foi detido em uma operação realizada a pedido das autoridades dos Estados Unidos, que investigam um esquema de corrupção no futebol.

A detenção do cartolão, ao lado de outros seis dirigentes, foi um alerta contundente sobre a necessidade de controlar as operações do esporte. Especialmente, no Brasil, em que o dinheiro público jorrou para a realização do Mundial. Resta aguardar e ver se nova chance de modernizar o esporte seguirá sendo desperdiçada.