O atacante Keirrison não considera a boa fase no Londrina, com sequência de quatro jogos e três gols na Série B do Brasileiro, um renascimento da carreira. Mas admite que no Tubarão, clube em que chegou em março, encontrou a paz que precisava após o momento mais difícil da vida: a morte do filho Henri, de apenas 2 anos, em novembro, vítima de uma infecção.
Além do drama familiar, o K9 ainda teve de enfrentar em dezembro o desgaste de rescindir o contrato com o Coritiba – o jogador cobra na Justiça o pagamento de R$ 600 mil entre salários atrasados, 13º e férias.
Para seguir em frente, o atacante de 27 anos destaca o apoio do técnico Claudio Tencati e o carinho da torcida do LEC. Mas também se apega à memória do filho. “Tenho que continuar essa caminhada e creio que meu filho queria isso de mim. É isso o que me move”, enfatiza.
Você considera essa boa fase no Londrina um renascimento da sua carreira?
Vejo como uma nova etapa. Acho natural. Desafios nós temos todos os dias.
Você está bem, tanto físico quanto mentalmente?
Eu me sinto em paz. Lógico, dor não tem como um atleta não ter. Principalmente nessa sequência de jogos. Mas fisicamente não tenho do que reclamar. Mentalmente, faço acompanhamento psicológico aqui no clube e, acima de tudo, tenho uma fé muito grande em Deus. Sempre li na Palavra, na Bíblia, que teríamos dificuldades e aflições a todo o momento. E Deus tem me dado essa paz.
A paz muitas vezes é citada como se você tivesse de estar alegre, feliz. Não é essa paz que temos de buscar. De um tempo para cá eu comecei a entender o que é a paz de espírito, a paz dentro de nós, independentemente do que acontecer. Eu sinto, dentro de mim, essa paz. O sorriso está dentro de mim, não fora. É essa paz que eu sinto que é verdadeira. Então procuro a cada dia viver o melhor de mim, independente do que vai acontecer.
Você está indo ao psicólogo?
Na época do Coritiba eu já ia, desde a base, mas nunca procurei acompanhamento fora. Aqui no Londrina temos a profissional que faz sessão com o grupo todo e também individual.
Deus é a resposta de eu estar vivo, de poder lembrar do meu filho. Essa paz interior não tem uma pessoa que possa dar, ninguém pode fazer. Só Deus. Ele me dá esperança, força de seguir em frente, porque quando relembro, vejo fotos, vídeos do meu filho brincando, eu choro, porque sou humano. Mas Deus, ao mesmo tempo, me fortalece
Qual peso teve esse acompanhamento psicológico na sua carreira diante de tantos problemas que você enfrentou, como a série de lesões?
Me deu a inteligência de quando eu estiver em situações difíceis poder enxergar um pouco diferente do que eu via. A psicologia conseguiu me ajudar a contornar essa dificuldade e a achar uma saída melhor.
A psicologia nos fortalece para que possamos encarar melhor essas lutas, essas dificuldades que vamos ter a todo momento. A vida é de lutas. Não são só maravilhas.
Por que você escolheu o Londrina?
Na época, eu estava cuidando da minha família. A gente sente o futebol insignificante depois que passa por uma situação dessas.
Você estava tendo de negociar no pior momento da sua vida, logo após a morte de seu filho...
É. Eu fui bem sincero com o pessoal que tinha interesse em mim. Eu agradeci muito. Meu único pedido era que me dessem um pouco mais de tempo. E você sabe que o futebol brasileiro não quer saber disso.
Eu disse aos clubes que me procuraram “no momento, não tenho condições de tomar uma decisão, tenho que ficar ao lado da minha família”. Não poderia pensar em mim só. Não queria ir para um lugar onde minha família não se sentisse bem, não podia fazer isso. Então, fiquei aguardando [uma proposta melhor] e continuei treinando.
Mas o que é que pesou? A proximidade aqui com Curitiba?
Sim, foi uma das coisas. E pelo interesse do Tencati também no meu trabalho, de poder trabalhar tranquilamente aqui e ter a oportunidade de jogar. Quando estive em outros clubes, não sei por quê, os caras não deixavam eu jogar. Eu queria jogar, queria mostrar meu trabalho. E no Londrina tenho esse espaço para poder trabalhar, fazer aquilo que eu posso. O Londrina me proporcionou isso. E pelo povo também. O povo de Londrina é muito 10. O interior é bacana.
Keirrison em ação contra o Atlético.
Como a torcida te recepcionou?
Agradeço não só aos torcedores, mas ao povo em si. As pessoas de Londrina têm um carinho muito grande. Eles têm nos abraçado, nos dado força a todo o momento. E não só a mim, mas também à minha família.
Sou um cara observador, costumo ver muita sinceridade nas pessoas. Independentemente de ser atleta, eles costumam me olhar como pessoa, com carinho, não só como um jogador. Isso me deixa feliz, de ver que há pessoas assim no mundo, que se preocupam com o próximo. É muito bacana de ver isso nas pessoas aqui em Londrina.
E como o Tencati te recebeu?
Uma das características dele é a simplicidade. Eu e todos os atletas temos a liberdade de conversar com ele a qualquer momento, de expressar o que precisa. E muitos treinadores ainda se posicionam de uma forma de que, como líder, são intocáveis, não se pode conversar, trocar uma ideia. O Tencati pensa de outra forma, com a liberdade de o atleta chegar nele, conversar sobre a vida pessoal, sobre dentro de campo. Não é à toa que todo mundo tem esse carinho por ele. E ele também conquistou título, acesso. Tem que olhar isso também, porque no Brasil se preocupam muito com resultados. Então o Tencati conseguiu conciliar resultados a essa forma simples de trabalhar. Eu creio que logo, logo ele vai alcançar outras coisas dentro do futebol. E é bacana ver pessoas assim, que têm essa forma de trabalhar.
O que você destacaria nessa sua passagem pelo Londrina?
As pessoas. Antes de você pensar num clube, você trabalha com seres humanos e eu vejo esse tratamento aqui no Londrina. Eu falo muito isso da comissão técnica. Vejo essa simplicidade de tratar primeiro o ser humano e depois o atleta. Porque antes de sermos atletas, somos humanos. E eu vejo esse olhar. Lógico, são 30, 35 atletas. É difícil você manter o contato com todos, mas vejo essa preocupação de saber como a pessoa está, o desenvolvimento do lado pessoal, e depois a preocupação com o dentro de campo. Acho que é importante essa mentalidade, porque o Brasil ainda falha nisso, na pessoa, porque foca só o atleta. Você em campo é o que importa. Se você fizer bem, é o melhor do mundo. Se não fizer... Pouco importa a vida pessoal.
Dá pra garantir o acesso? Aonde você acha que o Londrina chega?
Existe um planejamento que é de se manter na série B, depois de tanto tempo longe de um campeonato como esse. Mas não vou falar que não pensamos no acesso. Mas com tranquilidade, nada de pensar em uma cobrança tão grande. E o Londrina já vem tendo bons anos no Paranaense e nos acessos. Então é só ter tranquilidade que tem tudo para chegar lá.
Por que não evoluiu a negociação com o Buriram United, da Tailândia?
A gente não entrou em acordo. Era um negócio bom. Mas eu senti que não era para eu ir mesmo. Até viajei, fui para ouvir a proposta pessoalmente.
Mas se você tivesse ido teria sido mais difícil para você resolver as suas coisas do lado pessoal por causa da distância, não?
Sim. Eu senti quando viajei que não era o momento de ficar lá. Senti, realmente, que não era a decisão certa a tomar. E por isso a gente não chegou a um acordo e eu decidi retornar a Curitiba, para voltar à rotina de treino que vinha fazendo para que eu esperasse algo que realmente se sentisse em paz para decidir, o que fosse melhor para mim e minha família.
De onde você tem tirado forças para seguir em frente?
De Deus. Não tenho outra resposta. Deus é a resposta de eu estar vivo, de poder lembrar do meu filho. Essa paz interior não tem uma pessoa que possa dar, ninguém pode fazer. Só Deus. Ele me dá esperança, força de seguir em frente, porque quando relembro, vejo fotos, vídeos do meu filho brincando, eu choro, porque sou humano. Mas Deus, ao mesmo tempo, me fortalece.
O trabalho também ajuda?
Você precisar estar em atividade. Eu creio que estamos no mundo porque temos o dom de fazer algo. O meu dom é jogar futebol. Tenho que continuar essa caminhada e creio que meu filho queria isso de mim. E é isso o que me move, independente de eu fazer 20, 30 gols, não sei quantos vou fazer, o que eu quero é desfrutar disso que Deus me deu.
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