Foi adiada para o dia 17 a reconstituição da morte do garoto Kevin Espada, de 14 anos, que os 12 torcedores corintianos presos na Bolívia desde o dia 20 de fevereiro fariam na segunda-feira no Estádio Jesús Bermúdez, em Oruro, localizado a 200 metros da Penitenciária San Pedro, onde estão detidos.
Segundo Miguel Blancourt, advogado boliviano que defende os brasileiros, o motivo para o adiamento foi a ausência de familiares de Kevin e de um perito que deveria vir de La Paz. A versão foi confirmada pelo advogado do San Jose, Marco Jamies. "Por motivos de força maior eles não puderam estar aqui, então a inspeção foi remarcada".
Os corintianos ficaram revoltados com a decisão. "Isso é uma palhaçada. Nesse país, a Justiça anda na mesma velocidade de uma tartaruga de ré. Toda hora ficam arrumando desculpas para deixar a gente na cadeia", criticou Tadeu Macedo Andrade, diretor financeiro da torcida organizada Gaviões da Fiel.
Fábio Neves Domingos, presidente da Pavilhão Nove, também demonstrou inconformismo. "Somos inocentes! Fomos sequestrados!", gritava. Ele foi contido por Hugo Nonato, também da organizada. "Não fica falando essas coisas que isso pode prejudicar a gente", ponderava.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, que visitou os corintianos na penitenciária no domingo, os presos disseram que a reconstituição seria a oportunidade de darem sua versão do crime e esclarecer dúvidas da polícia boliviana para conseguir, ao menos, a prisão domiciliar - uma casa já foi alugada pela Gaviões da Fiel na cidade de Cochabamba. Cinco deles, inclusive, alegam que nem estavam dentro do estádio no momento do disparo do sinalizador, aos cinco minutos do primeiro tempo, logo após o gol de Guerrero.
Toda a estrutura para a reconstituição foi montada na segunda-feira. Algemados em duplas, os 12 presos deixaram a penitenciária em dois caminhões abertos e foram encaminhados à sede do Ministério Público, no centro da cidade. Depois foram levados ao estádio. Lá, esperaram duas horas no setor localizado abaixo da arquibancada onde Kevin morreu até serem informados de que o evento fora adiado.
Enquanto aguardavam uma decisão, eles conversavam sobre o procedimento. A reportagem de O Estado de S. Paulo ouviu um deles dizer: "É para falar que as nossas mochilas estavam no ônibus". A polícia de Oruro encontrou com os corintianos uma mochila com sinalizadores com o mesmo número de série do artefato que matou Kevin.
Ao contrário de seus clientes, Sérgio Marques, advogado brasileiro que também atua na defesa dos corintianos, comemorou o adiamento. Desde o início da tarde, ele tentava evitar a ida dos presos ao estádio por entender que antes disso haveria outras etapas do processo a serem cumpridas.
Ele pretende requerer que o menor que prestou depoimento na Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos assumindo a autoria do disparo do sinalizador se apresente à Justiça boliviana. Se o garoto não for para a Bolívia - o que é muito provável que aconteça -, Marques vai solicitar que ele preste depoimento na Embaixada da Bolívia no Brasil.
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