Estratégia
Clubes abrem mão de estrutura própria de venda de ingressos
Seguindo a lógica de apostar na ampliação dos mensalistas, estão cada vez mais amplos os espaços para atendimento dos sócios-torcedores. Por outro lado, a estrutura de bilheteria vai desaparecendo aos poucos. Nos dias de jogos, a mão de obra direcionada a esse processo é mínima. Aliás, praticamente tudo é terceirizado. No custo/benefício, é melhor contratar empresas para prestar esse tipo de serviço em um único dia do que manter uma estrutura própria e pouco utilizada. A internet tem contribuído em grande parte para esse cenário. A comodidade de poder comprar ingressos de casa e pagá-los com cartão de crédito tem sido uma saída muito mais fácil, rápida e segura.
Comprar ingresso para um jogo de futebol em Curitiba é um ato em extinção. A constatação só reforça a estratégia que vem sendo adotada pelos principais clubes brasileiros em relação a seus fãs. Inflacionando os preços dos bilhetes avulsos nos últimos anos, as equipes forçam a adesão dos torcedores aos planos de sócio.
O objetivo é assegurar uma fonte de renda para que o clube possa se planejar. Se por um lado ganha financeiramente, por outro nem sempre o time se beneficia esportivamente. O aumento do número de associados em dia não significa arquibancadas cheias.
O exemplo mais nítido do abandono dos ingressos avulsos é o Atlético. Com um plano de sócios consolidado e o ingresso mais caro da cidade o mais popular custa R$ 120 , a bilheteria responde por apenas 4,5% do público médio rubro-negro. Cenário este que já vem de 2009, quando os sócios passaram a ser maioria. O Furacão tem hoje cerca de 23 mil associados, que pagam mensalidades e têm direito a assistir a todos os jogos do clube como mandante.
No Coritiba não é muito diferente. Em 2013, somente 10,9% dos coxas-brancas que foram ao Couto Pereira compraram tíquetes para entrar. O número aumentou em relação ao ano anterior (7,7%) devido a intensas promoções no segundo semestre em que amigos de sócios pagavam menos para ter acesso à praça esportiva, mas ainda assim muito longe dos associados, que estão próximos de 20 mil no total.
A empresária Flavia Bley é uma das exceções. Ela foi a cinco partidas do Coxa nesta temporada para acompanhar o filho de oito anos, que começou a frequentar o Couto Pereira. "A primeira vez que decidi ir ao jogo, não tinha a menor ideia de quanto estava o ingresso. Quando vi que era R$ 190, não acreditei. Paguei meia, mas foi mais alto do que imaginava", contou ela, que tem em mente passar da minoria para a maioria no ano que vem.
"Não conhecia os planos de sócio, mas comecei a estudá-los e acredito que é o que farei para o próximo ano", revelou. A modalidade de adesão mais barata no Alviverde custa R$ 65 por mês, com direito a ir a todos os jogos. Os cinco ingressos que Flavia pagou cobrem boa parte do plano para o ano inteiro: R$ 475 dos R$ 780 necessários.
Do trio de ferro, o Paraná é quem tem a menor diferença entre associados e vendas avulsas. Mesmo assim, 31,7% dos torcedores compraram bilhetes para entrar na Vila Capanema. A explicação é simples. É o ingresso mais barato da capital: R$ 40. Sem contar as promoções ocasionais que reduzem ainda mais o valor. Soma-se ainda o fato de que as modalidades de associação ainda não estão totalmente consolidadas.
O professor de educação física Willian José de Azevedo só não é associado por uma falha no plano de sócios do Tricolor. Os R$ 80 da mensalidade ficam mais caros que os R$ 20 que paga por jogo, uma vez que ele tem direito a meia entrada. "Quando apresentaram o valor do sócio era mais baixo, mas subiu. Eu pago no máximo R$ 60 por mês e como não tem mais de dois jogos por mês, não vale a pena", calculou.
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