Iniciada em 2004, a parceria do Atlético com a Ferroviária-SP completa 10 anos nesta temporada. Acerto costurado por Mario Celso Petraglia que misturou futebol, negócios, política e até hoje não vingou nem um jogador sequer no Rubro-Negro.
O lateral-direito Mário Sérgio é o último exemplo. Emprestado em janeiro para o sub-23 é reserva do time do técnico Doriva. Fez quatro partidas no Brasileiro, duas como titular.
O meia Yamada, 19 anos, é outro que está no CT do Caju vindo de Araraquara. Na década de parceria, os zagueiros Édson Rocha e, neste ano, Alcides, cumpriram o mesmo caminho. Sem emplacar.
Os principais destaques da equipe grená desde o início do acerto, entretanto, não desembarcaram na Baixada. Casos do meia Renato Cajá (foi para o Botafogo), do volante Leandro Donizete (Coritiba) e do atacante Cicinho (Ituano).
Em sentido contrário, o Furacão abasteceu a Ferrinha com pelo menos 30 jogadores no período, normalmente bancando os salários. Onze apenas na temporada passada.
Adormecida na gestão do presidente Marcos Malucelli (2009 a 2011) no Furacão, a parceria cresceu com o retorno de Petraglia em 2013. Mais do que ceder atletas, o Rubro-Negro tornou-se um cogestor do time grená ao lado da empresa de marketing esportivo Know-How.
"É um parceiro de estrutura, organização, administrativo. Nós conversamos quando se tem de tomar uma decisão técnica, física, administrativa do futebol", diz José Manoel Evaristo, diretor de futebol da Ferroviária. Funcionário do Rubro-Negro, Sidiclei Menezes faz a "ponte" entre as duas cidades. Os paulistas contam ainda com o auxílio do Departamento de Inteligência do Futebol (DIF) atleticano. Um dos integrantes da divisão é Pedro Martins, filho do atual deputado estadual Edinho Silva (PT-SP).
Quando era prefeito de Araraquara foram dois mandatos, de 2000 a 2008 , o político costurou com Petraglia o vínculo esportivo. Silva chegou a jogar nas categorias de base da Ferrinha e é torcedor fanático do clube.
A aproximação coincidiu com a implantação do centro industrial da Inepar em Araraquara, em 2003. Petraglia foi diretor do conglomerado paranaense por cerca de 20 anos. Na oportunidade já havia deixado o cargo, mas seguia como sócio, status que ainda mantém.
A Inepar também foi parceira dos paulistas. "Patrocinou camisa, placa de publicidade, havia uma proximidade do prefeito da época, Edinho Silva, com o Petraglia", relembra Welson Alves Ferreira Júnior, ex-presidente da Ferrinha.
O bom relacionamento entre Edinho Silva e a Inepar rendeu até uma homenagem em 2008. "O prefeito se tornou um grande amigo da Iesa/Inepar", declarou na ocasião Atilano de Oms Sobrinho, então presidente do conselho da Iesa, uma das participantes do conglomerado. A frase está publicada no site da empresa paranaense de infraestrutura.
Patrocinadora, a Inepar poderia ter virado acionista da Ferroviária convertida em Sociedade Anônima em 2003 , mas preferiu não integralizar as ações. "Eles tinham um capital para integralizar até 2012, mas optaram por deixar no passivo", diz Alves Ferreira.
O dirigente acredita que o investimento total da Inepar alcançou cerca de R$ 600 mil até 2008, quando a relação foi rompida.
Críticas
O retorno da parceria entre a Ferroviária e o Atlético causa polêmica em Araraquara. O ex-presidente do clube, Welson Alves Ferreira Júnior, deixou o cargo recentemente disparando contra os termos do novo acerto. "não concordei com algumas cláusulas", disse. De acordo com o cartola, na proposta o Furacão paga os salários dos atletas, mas o valor total referente aos vencimentos vai sendo acumulado pela Ferrinha, que teria de pagar no futuro com os direitos de algum atleta revelação. Presidente desde o início de agosto, Carlos Salmazo comenta: "Posso assegurar para você que ninguém aqui fez qualquer crítica ou falou que a parceria seja prejudicial. O Atlético é um exemplo de grande time para nós".
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Atlético para ouvir Mario Celso Petraglia, mas não obteve resposta.
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