Estádio El Campín, casa do Millonarios.| Foto: Hugo Harada, enviado especial/Gazeta do Povo

Os arredores contrastantes do El Campín, rodeado de um lado por um vale de tranquilas montanhas cobertas de verde e casas de classe média alta e, de outro, por uma movimentada e barulhenta rodovia que liga o estádio ao centro de Bogotá, distante quatro quilômetros, poderiam servir de reflexo para a conturbada história do Millonarios.

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Livro aberto na loja oficial do clube: orgulho do passado. 

Rival do Atlético na segunda fase da Libertadores de 2017, o Millos guarda memórias ricas em reviravoltas, com episódios de surrealismo e pesadelos. A equipe de Bogotá enfrenta o Furacão, na noite de quarta-feira (8), no El Campín. Na partida de ida, na Baixada, vitória atleticana, por 1 a 0. Cenário que faz o Atlético jogar por um empate na capital colombiana.

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E o resultado deste embate, qualquer que seja, entrará para a longa tradição do Millos, clube com a segunda maior torcida do país e a maior de Bogotá. Fundado em 1937 como Club Deportivo Municipal, mudou para Millonarios informalmente em 1939, após críticas da imprensa ao clube que deixou de receber apoio da administração municipal e passou a depender de pesado aporte financeiro do empresariado local. Em 1946, ratificou o novo nome.

Desde então, iniciou a tradição de contratar estrangeiros – especialmente argentinos – pagando salários estratosféricos para a época. Bonança financeira que alcançou seu auge nos anos 50, quando a Liga Colombiana se transformou no eldorado do futebol mundial. Estima-se que cerca de 200 atletas da Europa e América do Sul se transferiram para o campeonato que corria às margens da Fifa.

A época de ouro do Balé Azul

 

Entre eles, a lenda argentina Alfredo Di Stéfano. Contratado pelo Millos em 1949 após defender River Plate e Huracán no país natal, Di Stéfano foi o maestro de uma equipe que ficou conhecida como a melhor do mundo nos anos 50 – o Balé Azul de Bogotá. O auge foi alcançado em 1952, quando o Millonarios superou o poderoso Real Madri.

Na sequência, Di Stéfano acabaria defendendo o clube madrilenho. A Fifa, por sua vez, puniria os times da Colômbia os proibindo de disputarem partidas internacionais, situação resolvida em 1951, com um acordo entre a federação local e a entidade máxima do futebol. A entidade não havia aceitado que o clube criou uma liga pirata, sem aval da federação.

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Alma vendida

 

Trinta anos se passaram entre o auge com Di Stéfano e uma profunda crise financeira que abalaria a credibilidade e a história vitoriosa do Millonarios.

O cenário de escassez de dinheiro e de títulos foi o precursor de um capítulo que tenta ser esquecido por grande parte da torcida: a passagem do clube para o poder do emergente narcotráfico colombiano.

Mais especificamente, para as mãos de Gonzalo Gacha Rodríguez, o Mexicano, um dos mais sanguinários narcotraficantes do cartel liderado por Pablo Escobar.

Gacha comandou o clube entre 1982 e 89, época em que as principais equipes do país também caíram nas garras do narcotráfico.

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O período foi manchado por campeonatos corrompidos, juízes comprados e ameaças a jogadores.

Assim como, novamente, por grandes equipes. Essa história terminaria em 89. E deixaria como rastro para o Millonarios um longo período de “maldição”.

Apesar disso, até hoje uma bandeira com o rosto de Gacha circula ocasionalmente nos dias de jogo no El Campín.

Renascimento

Entre a “venda da alma” para Gacha e a volta por cima, o Millonarios permaneceu 24 anos sem um título nacional. Em 2012, conquistaria seu 14.º título do Campeonato Colombiano. Atualmente, perde apenas para o Atlético Nacional (17) em número de troféus.