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Tornei-me repórter de esportes da Gazeta em novembro de 2001. No­­vo na editoria e formado havia menos de um ano, era o quebra-galho que todo o foca deve ser. Cobria folgas, salvava notas, escrevia matérias de menor porte. A missão do último fim de semana do mês era cobrir a folga do Rodrigo Sell, setorista do Atlético. Eu iria ao CT sexta e sábado, faria o jogo contra o Vitória pela tevê no domingo e acompanharia, na segunda, o primeiro dia de preparação para a quarta de final.

Fiquei surpreso ao saber que o Atlético seria minha missão também na terça. E no dia do jogo com o São Paulo. E no dia seguinte. E no outro. E na semifinal contra o Fluminense. Em menos de dez dias o Atlé­­ti­­co estava na final e eu era o se­­torista do clube. Mais do que isso, era um pé de coelho para alguns rubro-negros. O Janela, que trabalha na pré-impressão da Gazeta, arregalava os olhos e sacudia minha mão com esperança quando me via na redação: "Nós vamos ganhar! Você dá sorte!".

Tive certeza de que o Atlé­­ti­­co ia ganhar o campeonato voltando para a redação com os minutos finais do jogo contra o São Caetano na Arena ro­­lando no rádio. Ouvi o quarto gol, terceiro de Alex Mineiro. O Atlético não perderia aquele título de jeito nenhum. Não por­­que eu dava sorte, mas porque o time era muito bom. Gustavo, Nem e Rogério Cor­­reia não perdiam jogando juntos. Alessandro e Fabiano eram dois foguetes pelas laterais. Cocito, um cão de guarda implacável. Kleberson, Adriano, Kléber e Alex Mineiro formavam um quadrado verdadeiramente mágico, seja pela perfeição geométrica do seu jogo, seja pela magia a cada toque na bola. Se tudo desse errado, ha­­via Flávio no gol, Souza e Ilan no banco.

A dimensão exata daquele tí­­tulo, contudo, eu só fui ter no cor­­redor de acesso ao gramado do Anacleto Campanella, a poucos minutos do fim do segundo jogo. Olhava à minha volta, e via Petra­­glia, Maculan, Marcus Coelho, di­­rigentes do Atlético que me acos­­tumei a ver sérios, às vezes possessos (inclusive com o que eu havia escrito), radiantes como crianças. Andavam de um lado para o outro. Riam, choravam. Pa­­reciam crianças esperando a hora de abrir os presentes na noite de Natal.

Quando o jogo acabou e eu pude entrar em campo para fazer entrevistas, várias vezes me aproximei de onde estava a torcida do Atlético. A catarse era a mesma. Vi amigos e desconhecidos chorando e se abraçando como talvez jamais tenham feito ou voltado a fazer em suas vidas. Cada dia torcendo e sofrendo pelo Atlético, cada sereno na cabeça no descampado Pinheirão tinham valido a pena.

Era 23 de dezembro. A véspera de Natal dos torcedores seria na estrada. Pouco importava. O presente estava garantido. 2001 teve o Natal mais rubro-negro e feliz que Curitiba já viu.

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