Funcap é sonho antigo de Mario Celso Petraglia| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Petraglia tem apoio maciço de eleitores

O Conselho Deliberativo do Atlético, que vota hoje a criação da Funcap (leia mais nesta página), é composto por 292 integrantes da chapa que elegeu o presidente Mario Celso Petraglia à presidência, no fim de 2011. A força do dirigente perante os conselheiros é evidente, como comprova a votação da semana passada que decretou a não renovação de contrato do meia Paulo Baier – o jogador ainda não foi comunicado e segue acreditando que jogará no clube em 2014.

Na base do "quem for contra, se manifeste", Petraglia conseguiu aprovação praticamente unânime de sua vontade, que é ver o veterano longe do CT do Caju, quebrando a palavra da renovação pública feita sob pressão da torcida em outubro.

Da mesma forma, o cartola espera que o cenário favorável se repita no caso da fundação que lhe garantiria plenos poderes mesmo fora do clube. "Lá funciona assim: um fala e os outros dizem amém", comentou um ex-membro da diretoria atleticana, que não quis se identificar, endossando a liderança de Petraglia.

Alguns conselheiros, no entanto, têm conversado com a diretoria anterior sobre o assunto e gostariam de mais transparência sobre o funcionamento da fundação. Mesmo com chance mínima de impedir a aprovação – é preciso do voto de 2/3 dos presentes da reunião –, é possível que medidas jurídicas sejam tomadas para impedir a criação da Funcap nos moldes atuais.

"Temos de ouvir a posição dos sócios. A fundação pelo que sei é uma maneira encontrada para o Petraglia se perpetuar. É um absurdo", afirmou João Alfredo da Costa Filho, ex-vice-presidente da atual gestão, mas renunciou ao cargo em julho por divergências com o grupo.

CARREGANDO :)

Errata

A Gazeta do Povo errou ao publicar a opinião do conselheiro Nelson Luiz Fanaya sobre a criação da Funcap como se fosse a de seu filho, Nelson Luiz Fanaya Filho, na edição impressa desta terça-feira. A foto publicada também não é do conselheiro entrevistado, mas sim de seu filho, o qual, enfatizamos, não foi entrevistado nesta reportagem.

Publicidade

O Atlético define hoje se dá o primeiro passo para uma forma inédita de gestão no clube e no próprio futebol brasileiro: a possibilidade de transferência de poder e patrimônio para uma fundação. Em sessão extraordinária do Conselho Deliberativo, convocada às pressas, será votada a criação da Fundação do Clube Atlético Paranaense (Funcap), que em um segundo momento – dependendo de aval dos conselheiros – poderia assumir o controle do clube. O encontro será no Hotel Bourbon, às 19 horas.

Confira a opinião de alguns conselheiros sobre a Funcap e a lista de quem poderá votar

Sonho antigo do presidente Mario Celso Petraglia, a Fundação seria gerida por ele, com total poder de decisão e administração sobre o Atlético e no comando de integrantes vitalícios também escolhidos pela Funcap.

A entidade teria como essência a responsabilidade social, de apoio a crianças, jovens e à família, como prega sua definição jurídica de fins "religiosos, morais, culturais ou de assistência". O objetivo de Petraglia, contudo, seria blindar o patrimônio do clube contra o que ele define como "dirigentes irresponsáveis". A justificativa chegou a integrar a proposta de campanha da chapa CapGigante.

"Vamos buscar salvaguardas para que nosso clube não fique vulnerável e sem proteção de aventureiros, desonestos, pessoas que querem ganhar dinheiro ou ganhar o título a qualquer preço. Vamos nos proteger, tem várias formas", definiu o dirigente em entrevista à ESPN, em outubro.

Publicidade

Na última reforma estatutária, em 2008, foi incluído um dispositivo (art. 58, XV e parágrafo único) dando poderes ao Conselho De­­liberativo para aprovar a criação de uma fundação, nomear seus dirigentes, e de­­cidir quais bens do clube serão transferidos para a nova entidade. Também será colocada em votação hoje uma nova reforma do estatuto, salvaguardado pelo inciso V do mesmo artigo. Se aprovada, teoricamente, essa mudança poderia tirar os poderes sobre o estatuto do clube do Conselho e passá-los à Funcap.

"A ideia do Petraglia sobre esse tema é mais antiga ainda, começou em 2005, 2006 e sempre foi a de ele se perpetuar no poder. Não conseguiu respaldo na época comigo, que era do departamento jurídico e com o [João Augusto] Fleury, então presidente", relembrou o antecessor e ex-aliado Marcos Malucelli.

"Uma proposta como essa mereceria muito mais discussão. Algo tão importante não pode ser decidido assim, em petit-comité. Tudo que é feito às pressas levanta suspeitas", atacou o ex-dirigente que, apesar de tudo, aposta na aprovação da medida. "O conselho é dele [Petraglia] e ele não iria colocar em pauta se não estivesse bem encaminhado", reforçou.

Os fundadores da Funcap, possivelmente escolhidos na reunião desta noite, teriam o controle total, absoluto e eterno da Fundação. Apenas eles teriam o direito a deliberar sobre a eleição dos dirigentes da Fundação ou qualquer outro assunto relevante.

Ex-professor de Direito, o ex-presidente Fleury questiona a viabilidade jurídica da Fundação como gestora de um clube profissional e critica o momento de votação do tema. "É de um pioneirismo inédito no futebol e de juridicidade duvidosa", analisou e seguiu o coro de uma ampla discussão envolvendo o conselho de sócios.

Publicidade

Outro questionamento se refere a qual patrimônio seria passado para a fundação – exigência legal para a sua criação, também possível através de um aporte financeiro. Além do CT do Caju, por exemplo, todos os recebíveis, como valores referentes à negociação de atletas e acordos de transmissão televisiva poderiam vir a ser administrados pela fundação. Até mesmo, de acordo com artigo sexto do estatuto social da Funcap, a licença de uso da marca Atlético não seria mais do próprio clube.

"O CT foi entregue como garantia do pagamento de empréstimos e o clube também tem suas dívidas. Essa história é tão nebulosa que deixa margem até para pensar em como vão pagar essas dívidas todas", disse Malucelli.

"Seria uma grande vitória se os conselheiros adiassem essa votação. Esse assunto precisa ser votado de forma mais ampla, pelos sócios. O açodamento é muito grande. Por que fazer isso no dia 17 de dezembro, com tantos outros assuntos mais importantes como Libertadores e Arena?", questiona Henrique Gaede, segundo vice-presiden­­te atleticano na gestão anterior.

Petraglia foi contatado pela reportagem, mas se recusou a conceder entrevista.