Jogador de futebol é diferente de uma pessoa comum. Morre duas vezes, dizem. Ao final da vida e quando encerra a carreira. Vencido por uma pneumonia no último dia 23, aos 84 anos, Djalma Santos deu o seu primeiro adeus, como atleta profissional, em Curitiba, vestindo a camisa do Atlético.
Para quem o via no gramado, esbanjando preparo físico mesmo aos 40 anos, a impressão era de que o bicampeão mundial jamais pararia de jogar futebol. A temporada de 1970, no entanto, esgotou as últimas energias do maior lateral de todos os tempos.
O ano da histórica conquista do Brasil na Copa do México foi igualmente marcante na Baixada. Na oportunidade, o Furacão interrompeu um jejum de 12 anos sem título estadual, com o camisa 2 sempre entre os titulares. Mais tarde, ainda enfrentou a dureza do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, equivalente ao Brasileiro na época.
No retorno às atividades, em janeiro de 1971, o Lord, como também era conhecido, estava convicto do fim aos 41 anos. E de que seguiria no esporte como treinador. Prontamente, o Rubro-Negro abriu espaço para o craque veterano experimentar o status de técnico novato, função que passou a ser desempenhada de imediato.
Entretanto, era preciso armar uma despedida oficial. A contratação de Djalma Santos deixou em polvorosa a Boca Maldita em 1968 o paulistano se somaria ao conjunto de estrelas montado pelo presidente Jofre Cabral e Silva, com o também bimundial Bellini, Sicupira, Nilson Borges e Zé Roberto. A aparição derradeira teria de ser no mesmo nível. Sem demora, a diretoria atleticana acertou com o Grêmio. Por 10 mil cruzeiros, os gaúchos toparam ser o sparring e trouxeram como atração o lateral-esquerdo Everaldo, campeão mundial com o Brasil no ano anterior.
A ameaça de chuva na capital durante a tarde toda, entretanto, prejudicou o que prometia ser uma noite de gala. O Estádio Durival Britto naquele tempo o Rubro-Negro mandava algumas partidas na casa do Ferroviário, hoje do Paraná recebeu público apenas mediano. A reta do relógio encheu, mas as sociais ficaram quase vazias.
Comandado na ocasião pelo diretor Hélio Alves, o Atlético foi a campo com uma equipe bem diferente da vitoriosa no Paranaense. O zagueiro Alfredo e o avante Nilson Borges, dois dos destaques do Furacão, estavam de fora. O meia-atacante Sicupira permanecia como destaque absoluto. "Aquele grupo foi se desmanchando aos poucos, com a saída de alguns jogadores e a vinda de outros. Contávamos com alguns jovens, como era o meu caso. Era começo do ano, ainda estávamos acertando o time", relembra o hoje treinador Lori Sandri, então volante do Rubro-Negro com 23 anos, titular na despedida.
Bola rolando na Vila Capanema, todas as atenções se voltaram ao jaqueta 2 número consagrado por Djalma Santos não somente trajando a canarinho, mas igualmente na Portuguesa e Palmeiras. Pior para Loivo. O ponteiro-esquerdo do Tricolor teve de se virar por todo o primeiro tempo diante de um veterano com ganas de novato.
"A gente via que o Djalma queria deixar uma última impressão boa. Era uma festa, mas ele encarava como uma partida qualquer, valendo pontos para o campeonato. E jogou muito bem, no mesmo nível dos quase três anos em que fomos companheiros", recorda Sicupira, maior artilheiro da história do Atlético, com 158 gols, hoje comentarista da Rádio Banda B.
45 minutos foram o suficiente para o batizado Dejalma Pereira Dias dos Santos fechar os 23 anos correndo atrás da bola. No intervalo, os escretes se perfilaram no gramado para as homenagens de praxe. Placas, troféus, faixas e o beijo da esposa e da filha pequena foram recebidos pelo jogador. Mesmo após uma infinidade de depoimentos e entrevistas, Djalma Santos teve fôlego para uma volta olímpica, saudando os apaixonados por seu futebol extraclasse.
"Ele tirou as chuteiras e saiu correndo. Eu fui atrás. Ele me olhou e disse filho, você não vai conseguir me acompanhar. Não demorou muito e eu cansei. O Djalma foi até o final e entregou as chuteiras para o Everaldo", rememora Augusto Mafuz, hoje colunista da Tribuna do Paraná, então setorista do Rubro-Negro na Rádio Guairacá.
A despedida ainda registraria um fato curioso. Já sem o dono da festa, atleticanos e gremistas viram o embate ser interrompido aos 26 minutos da etapa final, com o placar ainda por 0 a 0. O motivo: os fusíveis dos refletores estouraram e o estádio ficou sem luz, abreviando o discreto evento.
Fotos: José Eugênio de Souza, Sérgio Sade e Joel Petroski / O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná
A última partida de Djalma Santos
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