| Foto: ANTONIO COSTA/Gazeta do Povo

1 - Um furacão adormecido

 
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A psicóloga Suzy Fleury desembarcou na Baixada por indicação do técnico Geninho, que acabara de substituir Mário Sérgio, demitido após a 10ª rodada. Ao chegar, a profissional avaliou o elenco e não teve dúvidas ao conversar com Alex Mineiro: “Ele estava muito abaixo de seu potencial. Sentimos também que poderia ser importante nos momentos decisivos”, relembra Fleury.

Até então, o jogador convivia com a pecha de “Alex abraço”, por aparecer somente nas comemorações do companheiro Kléber. Tudo mudou depois do gol da vitória sobre o São Paulo, por 2 a 1, no primeiro confronto eliminatório. “Fiquei bem mais confiante”, afirma o camisa 9.

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A partir daquele jogo, Alex personificou o Furacão – marcou oito dos 10 gols rubro-negros na fase final. Logo ele, que veio de contrapeso na ida do volante Marcus Vinícius para o Cruzeiro.

CONFIRA A GALERIA com fotos da festa atleticana pelo título nacional

Na transação, o Atlético poderia escolher dois jogadores, já tinha acertado com o também volante Donizete Amorim e queria Paulo Isidoro. O meia, no entanto, refugou. Foi quando entraram em ação Amorim e Luis Felipe Scolari, técnico da Raposa na ocasião.

“Falei para o [Paulo César] Carpegiani [treinador do Furacão no início de 2001] que o Alex era fera. Eu o conhecia há muito tempo, era meu amigo”, relembra Amorim.

Tudo acertado entre os clubes, restava convencer o atacante. “Eu tinha um receio, pois cheguei ao Cruzeiro como a contratação mais cara da história do futebol mineiro. Até que o Felipão disse que eu deveria ir, pois teria poucas chances naquele ano”.

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2 - Gustavo, o “infiltrado”

 

Numa situação normal, a lesão no joelho sofrida por Gustavo, durante o primeiro confronto com o São Caetano, exigiria semanas de recuperação. Mas, com o Atlético em vias de ser campeão brasileiro, o zagueiro precisava estar em campo de qualquer maneira. “Eu sempre fui contra infiltração, mas o Geninho disse que eu teria que dar um jeito. Acabei fazendo uma aplicação de anestésico que aliviou a dor do Gustavo durante a partida inteira”, revela Edílson Thiele, médico do Furacão em 2001. “O Geninho brinca que eu ‘rasguei’ o diploma naquele dia”, completa.

Confira a conquista atleticana nas páginas da Gazeta do Povo 

3 - Convocado no churrasco

Um dos destaques do título, pela polivalência no gramado, o volante Kléberson foi chamado pela seleção brasileira em janeiro do ano seguinte – mais tarde, ele seria titular na conquista da Copa do Mundo de 2002, no Japão e na Coreia do Sul. Primeira convocação costurada bem antes, em agosto, num churrasco na casa de Marcus Coelho, então presidente do Atlético.

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A seleção brasileira estava hospedada no CT do Caju e o técnico Luis Felipe Scolari queria aproveitar uma noite de folga para comer carne. O desejo do bom gaúcho chegou aos ouvidos dos atleticanos e o braseiro ganhou hora e local.

E, entre cortes de picanha, Felipão ouviu as melhores referências sobre o volante. De Coelho e, principalmente, de Antônio Lopes, então coordenador técnico canarinho – no ano anterior, o Delegado havia trabalhado no Furacão. “Eu já tinha falado sobre o Kléberson para o Felipe, mas lembro de termos conversado bastante”, conta Lopes.

 

4 - Aquecimento sobre rodas

 

O time rumava para o Anacleto Campanella, em São Cae­­ta­­no, quando se deparou com um trio elétrico convocando a torcida local e exibindo uma faixa com os seguintes dizeres: “Azulão, o pri­­meiro campeão do século 21”. Foi o suficiente para os jogadores inicia­­rem o aquecimento no corredor do ônibus. “Isso nos encheu ainda mais de motivação”, lembra o atacante Kléber. Outro fato que “pilhou” o elenco foi o foguetório promo­­vido pela torcida adversária, na noite de véspera da decisão. Não foi nada fácil pegar no sono.

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5 - “Até não suportar mais”

 

Uma frase virou marca da en­­trada do Atlético em campo na reta final da campanha. “Vamos correr até não suportar mais, quem não aguentar, tem um monte de cara louco para entrar”, dizia, normal­­mente, o capitão Nem, pouco antes de o time pisar no gramado.

De fato, o Atlético contou com reservas que foram fundamentais para a conquista do título, casos do meia Souza e dos atacantes Ilan e Adauto. “Havia uma disputa até para quem conseguia um lugar no banco. Isso mostra como o nosso grupo era forte”, afirma Souza.

6 - Falta a estrela

 

No dia anterior ao confronto no Anacleto Campanella, a psicóloga Suzy Fleury promoveu uma dinâmica com os atletas. Trancou-lhes em uma sala da concentração e fez com que todos montassem um quebra-cabeça. Algum tempo depois, ninguém encontrava a última peça. Até o zagueiro Ígor intuir: “A peça que falta é o título!”

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Ao longo da campanha, outros recursos motivacionais foram utilizados, especialmente vídeos, que eram passados antes dos jogos. Lances de todos os atletas recortados por apresentações de artistas como Mariah Carey, Lionel Ritchie, Joe Cocker e Luciano Pavarotti.

7 - A Casa do Dindo

 

Localizada no bairro Champagnat, havia uma mansão onde alguns boleiros aproveitavam para, digamos, descontrair nos dias de folga e depois dos treinamentos mais puxados. Desconhecida da torcida, imprensa, diretoria e, claro, das esposas, o local é apontado por alguns atletas como “chave” na campanha. A festa, no entanto, acabou antes da fase final, quando o elenco optou pela reclusão absoluta no CT do Caju até o término do Brasileiro. O dono da residência atua até hoje na noite curitibana.

8 - No olho da rua

 

Parte da diretoria do Atlético passou por poucas e boas para acompanhar o jogo final do Brasileiro, no Anacleto Campanella. Os dirigentes entraram no estádio pelo vestiário dos atletas. Porém, diante do aperto, pediram que um funcionário do Azulão mostrasse o lugar onde eles veriam o jogo. Muito solícito, o funcionário os levou até a... rua!

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Foi preciso muita insistência para que o grupo conseguisse acessar novamente o estádio, no setor da torcida atleticana – de quebra, João Augusto Fleury ainda recebeu um abraço do ator Cacá Rosset, vestido de palhaço, reforçando o inusitado da situação.

Com a área lotada, ninguém conseguia enxergar nada da partida. Resultado: alguns dirigentes decidiram sair e assistir ao Furacão num bar vizinho da praça esportiva. “Não foi nada fácil ver o Atlético campeão naquela tarde. Passamos alguns problemas, mas, com a taça, hoje são histórias muito boas de lembrar”, diz Fleury.

9 - Retorno épico

 

A volta de São Caetano para Curitiba e o encontro com a torcida atrasou horas e horas – a taça chegou à Baixada apenas na madrugada de segunda-feira, véspera do Natal. Tudo por causa de um problema com o avião da TAM fretado pelo clube. Retidos no aeroporto, e impacientes com a demora, a delegação rubro-negra teve de iniciar a comemoração na sala de embarque.

O zagueiro Nem, em dado momento, resolveu deixar o setor. Minutos depois, voltou com uma garrafa tamanho família de uísque. E, bem à vontade, passou a bebê-la no gargalo. “Estava com muita sede”, brinca o capitão do título. O chope passou também a rolar solto entre jogadores, comissão técnica e dirigentes.

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Os ânimos estavam tão exaltados que até João Augusto Fleury perdeu a fleuma que lhe é característica. O dirigente não gostou do tratamento de um funcionário da companhia aérea e perdeu as estribeiras. Resultado: acabou contido pela Polícia Federal e só não foi parar na delegacia por ser Procurador Federal.

10 - Título de R$ 1 milhão

 

Diante da iminente classificação para a fase final do Brasileiro, elenco e diretoria tiveram de rediscutir as premiações – até então limitadas aos “bichos” simples por vitórias. O capitão Nem representava os atletas e Ademir Adur e Valmor Zimermann, então responsáveis pelo futebol, o Atlético.

Em duas conversas definiu-se um valor para a passagem pelas quartas de final, outro pela semifinal e, em caso de conquista, os jogadores dividiriam R$ 1 milhão. Este montante definido por Adur e Zimermann prevendo 50% das cotas que viriam da disputa da Libertadores no ano seguinte.

Hoje a quantia parece irrisória diante dos novos padrões da bola – algo em torno de R$ 1,9 milhão em valores atualizados. “O dinheiro entraria com certeza, então pudemos contar”, lembra Adur.

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A exigência dos boleiros era que os 30 jogadores do elenco deveriam ter direito ao bônus. “Foi uma negociação tranquila, pois todo mundo só pensava mesmo era na chance de sermos campeões”, recorda Nem.

Taça na bagagem de São Caetano para Curitiba, metade do combinado foi hon­­rado e o pagamento restante adiado para o início da temporada 2002. No entanto, no retorno às atividades, uma confusão se instalou no CT do Caju. “Cada jogador teve de correr atrás e nem todo mundo recebeu integral”, diz Nem.