Teoria e prática
Com base no livro, é possível traçar o método de trabalho de Drubscky com o time, da semana de treinamento ao ritmo de substituições:
Treinamentos: Coletivos não fazem a cabeça de Drubscky. O treinador prefere atividades táticas em campo reduzido e com um número alterado de jogadores, para mais ou para menos. O único coletivo da semana serve para polimento tático, ainda assim com regras adaptadas e muitas paralisações.
Sistema de jogo: A base é o 4-4-2, com duas ou três variações para serem usadas durante o jogo.
Preleção: Nada de surpresas de última hora. A palestra contém apenas o que foi treinado na semana, além de uma forte carga motivacional. "Deve ser simples, objetiva e motivante, para preparar o espírito competitivo da equipe", diz.
No banco: Assistir aos jogos da cabine é apenas uma imposição do STJD. Quando a punição acabar, Drubscky voltará para a beira do gramado. "O técnico à beira do campo é a presença viva da ideia de jogo do time", ensina.
Intervalo: Momento considerado crucial pelo técnico, começa com uma rápida conferência entre ele e os auxiliares, temperada por consultas ao escalte da partida. Depois, as novas diretrizes são passadas ao time. "Ganha-se e perde-se muitos jogos nas palestras do intervalo", aponta.
Auxiliares: Os auxiliares, sim, se posicionam em uma posição mais distante do campo talvez em cabines de rádio, camarotes ou até na arquibancada. Ao longo dos confrontos, Drubscky recebe informações e estatísticas deles via rádio ou telefone.
Substituições: Trocar antes do intervalo, só por contusão ou expulsão uma regra que não valia nos tempos de Juan Carrasco. Drubscky prefere mudar a partir do intervalo, de preferência sem alterar a estrutura do time. E somente duas vezes. "Não se deve queimar a terceira substituição antes dos 40 minutos do segundo tempo. Se puder terminar o jogo sem usá-la, melhor", explica.
No dia da sua apresentação no Atlético, Ricardo Drubscky listou um time inteiro de jogadores com quem havia trabalhado no CT do Caju e reencontraria agora, como técnico do profissional. Se o legado reclamado por ele é a chave para obter o acesso à Série A, uma consulta à obra que fez o treinador conhecido no futebol brasileiro poderia ter evitado boa parte dos problemas do Rubro-Negro em 2012.
A necessidade de um treinador estrangeiro respeitar a cultura do país em que trabalha e os efeitos nocivos da interferência direta de dirigentes no trabalho de campo são alguns dos temas desenvolvidos em O Universo Tático do Futebol Escola Brasileira. Escrito por Drubscky em 2003, com referências a treinadores, ao general chinês Sun-Tzu e ao papa da neurolinguística Anthony Robbins, o livro é um autêntico vade-mécum sobre a condução de um time.
A Gazeta do Povo leu nesta semana a obra de 336 páginas, atualmente fora de catálogo, mas com relançamento prometido pelo autor para ainda neste ano. Apesar do hiato de nove anos para a primeira impressão, a nova edição deve ganhar apenas um rearranjo de capítulos, sem atualizações profundas. "O que está ali é a minha cabeça", diz o treinador.
Uma cabeça em que o respeito à cultura tática local é fundamental para o sucesso de um treinador fora do seu país. "Não há como interferir drasticamente na cultura futebolística em curto espaço de tempo. Se num país tem-se como cultura jogar no 4-4-2, é prudente que um técnico forasteiro releve este quesito", escreveu Drubscky, destacando o 4-4-2 como o sistema tipicamente brasileiro.
Se revoluções táticas como a imposta por Juan Ramón Carrasco são reprovadas, o remédio receitado pela diretoria rubro-negra também desagrada a Drubscky. "Muitos trabalhos são interrompidos sem nem mesmo terem começado por causa da ingerência equivocada dos dirigentes em áreas que não são de sua competência", aponta. "Dirigentes são autênticos jogadores de gravata, tal a interferência de suas atitudes no resultado do jogo", prossegue.
Ao menos num primeiro momento, Drubscky não deve dar motivos para maiores interferências. Adepto do 4-4-2, ele é pouco afeito a grandes invenções táticas. Prefere escalar os jogadores sempre dentro das suas funções e ter à mão duas ou três maneiras diferentes para armar a equipe. Só não se deve esperar do treinador os tradicionais coletivos, um modelo que ele considera "viciado e incompleto". Ao invés disso, treinamentos em campo reduzido, para atacar pontos específicos da formação do time. Coletivo mesmo, só um por semana, para polimento tático. Tudo para dar ao time uma identidade clara. "O time tem de ter uma cara e esta cara é a ideia de jogo do técnico", explica.
Uma ideia de jogo que precisa de um tempo mínimo de maturação. Segundo o técnico-escritor, pelo menos seis meses. O último treinador a durar tanto no Atlético foi Geninho, entre setembro de 2008 e junho de 2009. Nesta mesma época, Drubscky era diretor das categorias de base do Furacão. Seu livro correu pelas mãos de alguns funcionários e dirigentes, mas nenhum exemplar ficou na biblioteca do CT do Caju.
O que diminui a possibilidade de a cúpula rubro-negra ler o que está escrito na página 106: "A grande maioria dos técnicos que perdem seus empregos pelos resultados alcançados no período de um a três meses de trabalho, posso lher garantir que foi injustiçada".
Pablo ganha nova posição no Atlético
Gustavo Ribeiro
O polivalente Pablo foi o símbolo maior das improvisações da passagem do ex-técnico Carrasco pelo Atlético o que lhe custou o cargo. Mas, quando parecia que as coisas voltariam ao seu lugar, Ricardo Drubscky, o novo treinador, arrumou mais um lugar para o jogador. Ele, que já foi lateral-direito, volante e atacante (posição de origem), será meia-atacante na partida de hoje, às 16h20, contra o Ceará. Atuará ao lado de Paulo Baier na criação.
"Essa é uma posição que eu gosto. E é importante para a minha carreira poder jogar em várias posições", disse Pablo. Drubscky se defende sobre uma possível nova improvisação. "Ele é um jogador com origem no meio, no início da carreira foi volante. Quando chegou na categoria de base, vi treinar e sugeri para ele jogar mais à frente."
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