A tradicional Vila Capanema, que recebeu jogos da Copa de 1950, abriga no domingo (24) o dérbi decisivo entre Atlético e Paraná.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Nada é mais sublime do que Atlético e Paraná travarem duelos em dois estádios de Copa do Mundo – nem a vaga na final.

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SERVIÇO: tudo sobre o clássico na Vila Capanema

Olhando assim, de viés, sem muito cuidado, esse Paraná vs. Atlético parece só mais um clássico para a farta história do dérbi da Rebouças. Mas uma análise mais demorada vai mostrar que há muito mais em cancha do que supõem os arquitetos das obviedades.

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Ora, é claro que o jogo vale uma vaga na final do Paranaense . E é claro, também, que isso é grande, especialmente agora, que as duas equipes já não lembram mais do sabor que tem a taça do pinhão.

Mas há ainda outra coisa que nos faz olhar para este dérbi com um carinho sublime: os estádios onde ele acontece. Esta semifinal, percebam os senhores, reúne os nossos dois campos de Copa do Mundo.

E isso, amigos, é monumental. Observem a grandeza do evento: na semana passada, Atlético e Paraná duelavam na cancha moderníssima da Baixada, cheirando a perfume, ainda molhada pelo suor de Iniesta e boquiaberta com o calcanhar cirúrgico de David Villa, com a grama amassada pelas chuteiras apuradas dos maiores jogadores do mundo. E agora, uma semana depois, os dois clubes batem espadas num estádio que, 64 anos antes, recebia a mesma distinção e via desfilar na sua grama aqueles que eram, então, os supremos homens da bola.

Este Paraná vs. Atlético há de nos pôr, frente a frente, as Copas do Mundo de 2014 e de 1950, senão no futebol, ao menos na toada das arquibancadas, nos solos sagrados que já viram as melhores coisas que a bola tem para oferecer

Arena da Baixada, palco do jogo de ida da semifinal e de quatro partidas da Copa do Mundo de 2014. 
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Quem foi ao primeiro jogo da semifinal, na Baixada, e for também ao segundo, na Vila Capanema, fará, sobretudo, uma viagem pelo museu das Copas, voltando seis décadas no tempo e um pouco mais e experimentando um assombro, uma experiência rara que Bienal nenhum é capaz de incitar.

Terá deixado para trás a grande arena, palco moderno de um futebol desenvolvido, banhada a ouro e desenhada nos padrões mais rigorosos de conforto, criada nos dias em que o suor predomina e que a gana física prevalece, e entrará, de repente, em uma galeria de antiguidades, uma cápsula do tempo mantida quase impecável, com seu cimento cheio de história e fúria, erguido nos dias em que o jogo era deslumbrante e que o povo torcia de chapéu.

Este Paraná vs. Atlético há de nos pôr, frente a frente, as Copas do Mundo de 2014 e de 1950, senão no futebol, ao menos na toada das arquibancadas, nos solos sagrados que já viram as melhores coisas que a bola tem para oferecer.

Não bastasse isso, que por si só já é imenso o bastante, o dérbi da Rebouças será grande também no campo. E aí, não chegamos a ter favoritos. O Furacão bem poderia ter essa fama, mas não quis. Abriu mão de uma vitória larga no domingo passado, deixando de cravar pelo menos duas cintadas a mais no lombo tricolor. O Paraná, por outro lado, foi safo, escapou do castigo e chega carregado de esperança para o jogo de volta.

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O fato é que vamos todos vivíssimos para a semifinal do Paranaense – o Atlético, o Paraná e, sobretudo, a memória imodesta de um povo que hospedou duas Copas do Mundo.

*Velho Cronista é o alter ego de um escritor anônimo, criado no tempo em que o futebol era jogado de chuteiras pretas. Leia mais em http://velhocronista.com e acompanhe as fábulas pelo http://twitter.com/velhocronista