Berg e Dirceu mantêm a amizade dos tempos de boleiro| Foto: Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina
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Há 22 anos, o Couto Pereira abria seus portões para 42 mil pessoas, na última final estadual entre os maiores rivais locais naquele palco. Ao fim do Atletiba, festa rubro-negra com o 2 a 2 cravado no placarzão branco da curva de fundos do Alto da Glória, acima do espaço então dominado pelos alviverdes. O resultado sozinho não revela o impacto perene daquele duelo para dois jogadores. Um deixou o estádio consagrado e outro teve a carreira sepultada naquele clássico.

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O atacante atleticano Dirceu e o zagueiro coxa-branca Berg protagonizaram o duelo derradeiro do Paranaense de 1990. Para a glória e a ruína, respectivamente. O rubro-negro fez um gol, o alviverde dois, o problema foi o segundo, mandado contra a própria meta, decretando o empate do título rubro-negro. "Nem o Atlético esperava aquele presente", traduziu à época o jornalista do Canal 12, hoje RPC TV, Gil Rocha.

Assim, o atleta do interior, que tanto sonhara chegar a um clube grande da capital e experimentara um esboço de sucesso, saiu do clássico para ocupar um assento permanente no rol verde e branco dos execrados.

Já Dirceu, reserva de Kita, se transformou no herói atleticano, com nove gols, quatro contra o Coritiba em três jogos, sacramentados como o feito mais relevante da sua carreira. "Eu joguei em 21 clubes no Brasil e na Europa, defendi o Paraná Clube no ano seguinte, fui campeão e ninguém sabe. Essa final pelo Atlético foi o que mais marcou", reconhece. "Aquele campeonato foi todo especial. O Coxa vivia um momento melhor, mas nosso time era unido. A torcida era fantástica, a rivalidade era sadia. Foi o ano daquela música que ficou para sempre do Pink Floyd [paródia dos atleticanos para Another Brick in The Wall]", relembra o ex-atacante rubro-negro, que viu até um porco ser solto em campo com a camisa verde e branca em um dos clássicos. "Outros tempos", compara, aos risos.

Às vésperas da final desta tarde, a dupla contemporânea das categorias de base do Londrina, amigos na juventude e companheiros até hoje nas peladas semanais no Norte paranaense foi amplamente procurada para relembrar aquele jogo. Uma história que jamais os abandonou. "Essa semana ainda, um garoto, de uns 14, 15 anos, me viu na rua e disse: ‘Ei gol contra!’. Ele nem tinha nascido na época. As pessoas me apresentam assim: ‘Esse é o Berg, aquele do gol contra", conta, no único momento descontraído quando o assunto é o jogo de 5 de agosto de 1990.

Depois, cada consulta à memória revive a cruel pena imposta a quem dá um título ao maior rival. "A bola não teve força para sair", justifica, pela incontável vez, o recuo de cabeça que encobriu Gérson e definiu o jogo. Um lance bizarro onde três jogadores do Coxa tocaram na bola dentro da área rubro-negra até ela morrer nas redes.

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Na hora ele pensou na família. Haviam viajado de Londrina para ver a final e até então estavam orgulhosos por ele ter marcado o gol da virada coxa – Pachequinho marcou o primeiro – no fim do primeiro tempo.

O lance desmontou o Coritiba. "Nem tivemos mais chance depois, eu acho. O time se abalou mesmo." Dirceu nem lembra, mas Berg conta que foi ele quem tentou consolar o amigo. "‘Pô, logo você foi marcar?’"

Se do calor da partida Dirceu não se recorda, depois ele acompanhou o martírio do colega. "Eu encontrei o Berg uma semana depois e ele estava arrasado. Nunca o perdoaram. Igual ao [goleiro] Barbosa na Copa de 50, ficou marcado para sempre. Na época, foram ver até as contas [bancárias] dele para ver se não tinha entrado dinheiro, desconfiaram que tinha se vendido", contou.

Berg diz ter ouvido esse boato, mas não pode provar. Ele também cita as mudanças no regulamento durante a disputa, que levaram o Coxa a recorrer ao tapetão, e deram a vantagem do empate ao rival, mesmo com a melhor campanha alviverde.

Mas, pouco mais de duas décadas depois, outros episódios doeram mais. "O presidente [Jacob Mehl] me chamava de filho. Depois, nunca mais falou comigo. Joguei mais duas vezes no Couto, na pressão da torcida. Queria jogar mais e mudar aquela situação. Mas não me deram mais chances". Encostado no clube, foi emprestado para mais um time e outro até encerrar a carreira. Hoje é taxista em Londrina e dá aulas em escolinhas de futebol.

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Secretário de Esporte em Rolândia, Dirceu curte o lado bom daquele jogo consagrador e hoje torce para o Atlético repetir a dose e ser campeão no Couto. Mas sem nenhum vilão, de preferência.