Causos
W.O., rodada sem público, jogo sem policiamento e racismo A primeira metade da Terceirona teve de tudo.
Cartão de visitas Logo na primeira rodada, o primeiro W.O. O Grecal, de Campo Largo, não compareceu à partida contra o Cascavel. Para efeito de tabela, 3 x 0 para o time do interior.
Ninguém viu A segunda rodada da Terceirona atingiu uma marca provavelmente inédita no futebol mundial: nenhum dos três jogos teve público. Ainda assim, os árbitros registraram na súmula como boa e ótima a conduta do público.
Pra que goleiro? Além de não ter público, a segunda rodada teve outra peculiaridade: três times foram a campo sem goleiro reserva Batel, Portuguesa Londrinense e Campo Mourão. A notícia boa é que os goleiros titulares suportaram os 90 minutos.
Racismo A mambembe Terceira Divisão do Paranaense teve espaço até para caso de racismo.
O árbitro Aldair José Ragadalli registrou uma reclamação do técnico Knário, da Portuguesa Londrinense, de ter sido chamado de "macaco" por um torcedor do Batel, em Guarapuava. Em entrevistas, Knário disse que a ofensa foi ao seu assistente técnico. O torcedor não foi identificado e ninguém da Lusinha prestou queixa.
Apenas um apagão O Grecal teve seu dia de seleção brasileira. Com 27 minutos, já perdia por 5 a 0 para o Batel, em Cascavel, pela quarta rodada. O time de Campo Largo até reagiu, mas acabou derrotado por exóticos 8 a 3, no jogo com mais gols da competição.
Sem segurança Grecal e Portuguesa Londrinense se enfrentaram em Campo Mourão, pela quinta rodada, praticamente sem policiamento. O árbitro Mauro Fernandes de Souza registrou na súmula que a partida começou com dois policiais que deixaram o estádio ainda no primeiro tempo e só voltaram nos minutos finais do confronto.
Só com a polícia Em Rolândia, João Paulo Kirchner não teve a mesma benevolência que o colega. Só deu início ao jogo entre Portuguesa e Cascavel quando apareceram dois policiais, 13 minutos depois do previsto para a bola rolar. Parecia antever a partida quente, com dez cartões amarelos e cinco expulsões.
Alagados Um temporal prejudicou a realização do jogo entre Pato Branco e Batel (28/9), no Estádio Os Pioneiros. O acesso do vestiário dos árbitros ao campo de jogo ficou alagado. "Tivemos de usar outra saída, passar no meio da torcida", relatou o árbitro Marcos César Blanck.
A conta era justa, sem gordura. Dez na linha e um no gol. Dava para jogar. Mas era gente demais para valer o aluguel do ônibus. A escolha foi automática. Distribuir os 11 jogadores, técnico, preparador físico e de goleiros por quatro carros e percorrer os 365 quilômetros entre Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, e Londrina para enfrentar a Portuguesa. "Chegamos lá e os caras ficaram debochando da gente, achando que o jogo já estava ganho", lembra o atacante Barbosa. "Goleamos os caras", diverte-se o meia Fabinho.
A vitória do Andraus por 4 a 0, dia 17 de setembro, no Estádio do Café, é o melhor resumo do time que melhor simboliza a Terceira Divisão paranaense. Nível mais básico do futebol profissional no estado, a Terceirona, disputada por sete clubes, abre hoje o returno com um pé no amadorismo e uma coleção de histórias inacreditáveis em um país que, há pouco mais de três meses, encerrou uma das mais aplaudidas edições da Copa do Mundo.
O Andraus existe há dez anos. Pertence à família do mesmo nome, de origem árabe, dona de uma empresa de engenharia com quase 50 anos de atividade do estado. É atrás da pedreira onde fabrica pedra brita e asfalto, em Campo Largo, que mantém uma verdadeira usina de formação de jogadores de futebol.
Pelos cálculos de Marcelo Lucas, gerente de futebol, 30 garotos passam pelo CT do clube a cada duas semanas. Uma estrutura com dois campos, alojamento modesto com jogadores dormindo em beliches e a presença constante da poeira que sobe das jazidas. Os meninos treinam, fazem amistosos, trabalham alguns dias com o grupo principal. Em média, dois ficam. Ao fim de um ano, mais de 500 jovens são dispensados e no máximo 30 são aprovados.
"E não se forma um jogador do dia pra noite. Precisa de dois, três anos para dar certo. Não é como misturar Toddy no leite; bate e é só tomar", compara Lucas.
A alta rotatividade produziu o jogo sem reservas em Londrina. Jogadores que haviam atuado nas rodadas anteriores não estavam disponíveis e os dez que haviam chegado naquela semana não foram registrados a tempo.
A viagem de carro, no dia da partida, foi uma opção econômica. O Andraus gasta cerca de R$ 5 mil só com aluguel de ônibus. Uma conta multiplicada por dois, pois em todos os jogos o clube é obrigado a pegar a estrada. O estádio de Campo Largo não atendia os requisitos da Federação. O do CT é apto apenas para jogos da base. Cascavel, Pato Branco e Guarapuava foram as casas do Gigante da Pedreira, que não conseguiu vender nem um ingresso sequer.
"Quem vai querer assistir jogo da Terceira Divisão?", pergunta, aos risos, Nadim Andraus, empresário que toca o clube no dia a dia. "Cada jogo é uma aventura. Para Cascavel nós fomos no dia. Saímos daqui às 3 horas da manhã", conta. No histórico jogo com a Lusinha, a aventura por pouco não acabou em W.O.. A viagem atrasou e o jogo começou 15 minutos depois do previsto.
Andraus não pretendia disputar a Terceira Divisão. Joga porque a Federação exige que todo clube participe de pelo menos uma competição profissional para seguir atuando na base. Na prática, põe garotos de até 20 anos.
A única exceção é Fabinho. O meia de 24 anos rodou por vários times grandes Coritiba, Atlético, Paraná, Palmeiras, Grêmio, Internacional antes de voltar ao Gigante da Pedreira. O melhor momento foi no Palmeiras. Passou um ano, chegou a ser utilizado por Emerson Leão no time principal. Mas
"A cabeça era pequena. Fiz muita cagada. Ia pra noite, chegava atrasado", diz o meia, carioca, casado e pai de um menino. O contato com a família é mantido via celular e internet. As duas principais diversões dos jogadores, junto com a pescaria no lago do CT, televisão e algumas saídas para passear por Campo Largo.
Fabinho é uma referência para os mais jovens. A prova de como é possível chegar em um time grande e como é fácil não se firmar por lá. "Ele diz que chegar é fácil. O difícil é ficar", reconhece Barbosa, 18 anos, artilheiro do time e do campeonato.
Natural de Cândido de Abreu, na região central do estado, Barbosa jogava futsal até dois anos atrás. Chegou a ser artilheiro da Série Bronze do Paranaense. Foi descoberto por um olheiro do Andraus no futebol amador da sua cidade e virou a estrela do time, apesar das dificuldades. "É roer o osso aqui para chegar lá na frente a uma condição melhor", planeja.
Condição que pode ser na Segunda Divisão. O clube virou o turno a apenas dois pontos do Batel (11 a 9). Briga para subir provavelmente ao lado do favorito Pato Branco (16 pontos). "Começamos só para cumprir tabela porque somos obrigados a disputar. Agora, a gente quer subir", planeja Nadim Andraus. Uma Segunda Divisão com sede fixa (provavelmente em alguma cidade do interior) e os produtos da inesgotável usina de jogadores nos fundos da pedreira.
Atlético
Por um ano, entre 2012 e 2013, o Andraus foi parceiro do Atlético na formação de jogadores. O clube realizava os testes em Campo Largo e mandava os aprovados ao CT do Caju. Um procedimento que causou problemas para as duas equipes no Ministério Público do Trabalho. Em janeiro de 2013, o MPT-PR entrou com uma ação civil pública por condições inadequadas no alojamento dos jogadores no Andraus. Foram detectados problemas de higiene e estrutura, além de garotos menores de 14 anos. Segundo Nadim Andraus, seu clube teve de pagar multa de R$ 150 mil. A parceria com o Atlético foi desfeita.
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