“Eu sei como você pode ganhar a eleição judicialmente”, disse o advogado Juliano Tetto ao então candidato à presidência da Federação Paranaense de Futebol (FPF) Hélio Cury, em 2004, quando Onaireves Moura tentava, mais uma vez, continuar no cargo que ocupava desde 1985. “Ele [Moura] era inelegível por causa de uma condenação por um crime doloso e o Hélio conseguiu inscrever a chapa dele”.
Esse foi o primeiro contato entre o dirigente e o futuro “fiel escudeiro”, em uma relação que durou quase uma década, encerrada em janeiro. Desde que Cury assumiu a FPF, em novembro de 2007, Tetto também foi sinônimo da entidade que rege o futebol estadual.
Agora que está do outro lado da disputa, na chapa de oposição encabeçada por Ricardo Gomyde, ele garante que não tem a caixa-preta do antigo chefe, mas dispara contra quase tudo que foi feito na atual administração.
“Ele fez uma gestão, e nisso a gente não pode tirar o mérito dele, de pagar contas”, levanta Tetto, enquanto rabisca a linha de raciocínio em uma folha de papel A4.
“Mas eu sempre sonhei com muito mais. Se você não tem dinheiro, tem de agir com criatividade, com parcerias. E isso é muito fácil, principalmente no futebol. Seria fácil desenvolver isso mesmo na época em que ele usava a bengala de que a FPF tinha dívidas. A Federação sempre teve uma receita muito grande. Ela tem o monopólio do futebol no Paraná”, acrescenta.
Depois de lançar candidatura própria, Tetto se juntou a Gomyde porque, nas próprias palavras, “dividir a oposição facilitaria a vitória da situação”. Porém, o problema que indeferiu a candidatura do chapa “FPF Forte para todos os filiados. Oposição de verdade”, foi ajustado justamente pelo advogado.
A chapa “FPF forte para os filiados. Oposição de Verdade”, do candidato Ricardo Gomyde, entrou na quarta-feira (18) com um pedido na 23ª Vara Cível para tentar reverter a decisão do Conselho Eleitoral da Federação Paranaense de Futebol (FPF), que indeferiu a candidatura do grupo de oposição.
Dos 37 apoios originalmente apresentados pela chapa – contra 40 do atual presidente Hélio Cury –, o Conselho retirou 18 subscrições. De acordo com o estatuto da FPF, são necessárias 30 subscrições para inscrever uma chapa e concorrer no pleito.
A regra de legitimidade exige no mínimo 30 assinaturas para a inscrição de qualquer candidato – a oposição teve 19. Tetto se defende citando inúmeras desfiliações que reduziram o número de eleitores de mais 100 para 59. “Se você perguntar se eu pensei que ele [Cury] poderia reduzir o número de clubes [para obter vantagem] eu respondo que não. Porque não é objetivo da FPF fazer desfiliações em massa e acabar com o futebol no interior”, dispara o ex-fiel escudeiro, que agora procura brechas na Justiça para repetir com Cury o que afirma ter feito com Onaireves Moura.
Segundo Tetto, o principal problema da FPF é a falta de gestão profissional, situação que perdurou apesar dos alertas. “Eu tinha [um canal de comunicação], mas tudo caia no vazio”, afirma, reclamando, entre outras coisas, da falta de um gerente de marketing. “O pessoal achava que eu tinha mais poder de convencimento, mas não adiantou. Ele fez a administração como achava”, reitera.
Enquanto representou a FPF, Tetto também foi alvo de polêmicas. Ele foi, por exemplo, o responsável por redigir o regulamento utilizado nos Paranaenses de 2009 e 2010, quando o melhor colocado da primeira fase ganhou um ‘supermando’ e jogou toda a fase decisiva em casa.
O advogado nega a autoria, assim como também rechaça que divergências financeiras, especialmente relacionadas ao leilão do estádio Pinheirão, o afastaram de Cury.
De acordo com Tetto, a FPF tem muitas pendências em aberto, mas espera um acordo. “Se fosse isso [dinheiro], poderia executar na Justiça”, garante ele, que tenta desvincular sua imagem da FPF.
“Eu só opinava. Quem decidia era ele”.
Deixe sua opinião