Se existe uma mentira contada muitas vezes e que entrou no inconsciente coletivo é a de que todo jogador de futebol ganha muito dinheiro, vive de glamour, festas, carrões, enfim, muita fartura.
Após divulgação por parte da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de dados esmiuçados sobre a renda dos atletas, essa fantasia ruiu. De acordo com a entidade, 82,4% dos boleiros recebem até R$ 1 mil por mês.
A pesquisa incluiu 28.203 futebolistas e 23.238 estão nesse nível mais baixo, o que normalmente é recheado de atletas que recebem um salário mínimo, R$ 880. Apenas 2,57% faturam mais de R$ 10 mil – suficiente para mascarar o cenário de penúria nos campos do Brasil.
O levantamento da CBF não contabiliza os pagamentos com direito de imagem – um extra ‘por fora’ dado normalmente a quem já ganha bem.
No estado do Paraná é fácil encontrar exemplos dessa massa de ‘boleiro proletário’ com remuneração miúda, na casa dos três dígitos. Para isso não é preciso nem olhar para a segunda ou terceira divisão. Na elite do futebol regional até mesmo o líder do Campeonato Paranaense, o J. Malucelli, tem jogadores que se enquadram nessa categoria.
É o caso dos zagueiros Erivelto e Jhonatan, ambos com 19 anos. Promovidos neste ano para o time profissional do Jotinha, eles ainda não entraram em campo neste Estadual e recebem mensalmente R$ 880. Pelo menos os dois moram no clube e não têm gastos com planos de saúde e alimentação, por exemplo, podendo de vez em quando dar uma volta no shopping ao lado do Ecoestádio. Apesar de a maior parte do dinheiro ter destino certo.
“Eu perdi o meu pai faz uns três anos. Então meu dinheiro vai quase todo para minha família. Tem minha mãe que tem problema de coração e sempre precisa de mim e minha irmã mais nova”, conta Erivelto, que é natural de Belo Horizonte e sonha um dia poder comprar uma casa para a mãe.
O caso de Jhonatan é um pouco diferente. Natural de Rancharia, do interior de São Paulo, o jogador consegue guardar o que recebe, já que os pais têm uma boa condição de vida. A preocupação do jovem é outra, o contrato curto, até o fim do Estadual, um outro grande problema para a maioria desses atletas que formam a base da pirâmide no futebol nacional.
“Vão passando esses três meses e a cabeça já dá um trevo com o fim do campeonato. Mas o time está bem para caramba. Tomara que possamos prorrogar o contrato”, afirmou o jovem. “Se acabar esses três meses e for para casa, tem que ter uma reserva”, lembra Jhonathan, que acha engraçado quando os amigos dizem que ele tem muito dinheiro, pois é um jogador profissional. Por ora, ainda sonha com a oportunidade de crescer na carreira.
Mas não são só jogadores mais desconhecidos, que moram nos clubes e não têm despesas que se encaixam nesse perfil. O atacante Safirinha, 21 anos, uma das principais revelações do certame regional, também recebe o mínimo previsto em lei e tem contrato até o fim do Estadual, em maio.
Com isso, o jogador do Foz do Iguaçu sobrevive graças à ajuda do irmão Safira, de 30 anos, também jogador, e de familiares.
“A gente pega o emprego pela oportunidade. Todo começo é complicado, tem de acreditar. Realmente é muito difícil viver com esse dinheiro, mas conto com a ajuda da família, do meu pai, meu irmão”, conta o atleta, que já tem algumas propostas para a sequência da temporada e deixa o conselho para os meninos que sonham com a riqueza via bola de futebol.
“O cara vai de R$ 1 mil a R$ 100 mil; e de R$ 100 mil a R$ 1 milhão muito rápido. Depende do momento”, opina Safirinha, consciente da dificuldade. “Eu tenho o segundo grau completo. A carreira de atleta de futebol é curta, 10, 15 anos. Não pode abandonar o estudo”, ressalta.
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