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Visão parcial da lendária Estradinha: estádio está sendo reformado, mas ainda convive com problemas estruturais e também com um gramado alto e irregular | Walter Alves/Gazeta do Povo
Visão parcial da lendária Estradinha: estádio está sendo reformado, mas ainda convive com problemas estruturais e também com um gramado alto e irregular| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

Centenários

O Rio Branco é o terceiro clube do estado a completar cem anos. E tem mais gente na fila.

• Coritiba: O Vovô teve um 2009 complicado. Perdeu o Estadual para o Atlético e foi rebaixado no Brasileiro, com invasão de campo e quebra-quebra.

• Operário: O Fantasma já estava de férias quando completou cem anos, em 1º de maio do ano passado. Deixou para trás uma boa campanha no Estadual, com um quinto lugar no geral.

• Iraty: O Azulão completa 100 anos em 2014, provavelmente inativo. Rebaixado no Campeonato Paranaense de 2012, o clube não disputou os estaduais de base, o que automaticamente o empurra para a Terceira Divisão local. A possibilidade de o clube fechar o departamento de futebol é real.

• Atlético: O Furacão é o time seguinte na fila do centenário entre os times paranaenses. O Rubro-Negro, porém, terá de esperar por mais algum tempo, já que só chega aos 100 anos em 2024.

‘Incomodar os grandes’ vira o lema do centenário

"Eu quero incomodar os grandes... O time titular deles." O aviso do técnico Gassen dá a dimensão da pretensão do Rio Branco para o Paranaense-2013. Treinando desde o início de novembro, o clube quer ser uma pedra no sapato dos maiores clubes do estado e, assim, brigar pelo título do interior, a vaga na Série D e o retorno à Copa do Brasil, que disputou em 2007 – chegou às oitavas de final, mas foi eliminado no tapetão por problemas na inscrição do atacante Massaro.

Cumprir uma boa campanha é tratado quase como obrigação dentro do clube, ainda mais no ano do centenário. Para os jogadores, o objetivo coletivo é reforçado pelo desejo de abrir espaço no mercado nacional.

"Depois de cinco anos fora, o Rio Branco é uma porta para eu me reinserir no mercado brasileiro", diz o goleiro Rodrigo Café, 27 anos, revelado pelo Coritiba e atuando em clubes da Itália, da Bélgica e de Portugal nas cinco últimas temporadas.

O volante Rafael Muçamba, 31 anos, não passou pelo exterior, mas tem a mesma pretensão. Sonha com uma boa campanha que o leve a cavar um lugar no Brasileirão. "Se o time chegar, vai abrir as portas para todo mundo, o celular não para de tocar. Se for mal, logo a diretoria chama para rescindir contrato, outros clubes já ficam sabendo", diz o jogador, que dá a receita para uma boa campanha. "Não pode deixar escapar nada em casa e fora é jogar como franco atirador. Tem que ser um gatinho que você olha no espelho e ele late [sic] como um leão."

  • Faz-tudo, Lubumba, atual administrador da Estradinha, tem 25 anos de Rio Branco
  • Rafael Muçamba, volante do Rio Branco

A tranquilidade com que o administrador Lubumba varre as folhas na entrada do estádio contrasta com a urgência de reformas que salta aos olhos. O gramado está alto a ponto de esconder os pés. As arquibancadas precisam de limpeza e pintura. Falta atrás dos gols uma proteção para que chutes mais potentes não mandem a bola para a rua.

Ainda assim, a mística que já fez jogadores experientes tremerem na Estradinha segue inabalada nas histórias contadas em um só fôlego. "Lembro de um jogo que perdemos para o Coxa por 4 a 1. Nunca vi o estádio tão lotado. Fiz o primeiro gol e a ar­­quibancada temporária atrás do gol balançava", recorda Herminho, 14 estaduais pelo Leão, e hoje auxiliar técnico. "É o sonho do torcedor, é a paixão, é a casa do Rio Branco", resume Lubumba, 25 anos de Es­­tradinha, entre jogador, in­­tegrante da comissão técnica e, nos últimos tempos, encarregado de manter o local em ordem para o esperado retorno.

A retomada do histórico Estádio Nelson Medrado Dias é a atração mais afetiva do Rio Branco em 2013. Um ano especial, em que o terceiro clube mais antigo do estádio completa seu primeiro centenário e traça metas ambiciosas para recuperação da entidade, montagem de uma equipe capaz de garantir calendário até o fim da temporada e resgatar o torcedor. A Estradinha diz respeito ao terceiro ponto.

"É o resgate da história, da mística do local, uma homenagem aos rio-branquistas que fundaram o clube", diz o presidente Fabiano Elias, advogado, 44 anos, filho de ex-presidente do Leão. "Eu era mascote do time quando fomos campeões do Sul [Zona Sul do Estadual], em 1977. Sempre torci para o clube. Nunca tive um time em São Paulo, no Rio, em Curitiba."

Desde o fim do ano o clube reforma a Estradinha. Já fez reparos nas instalações hidráulicas e elétricas, vestiários, luzes de emergência e corrimões. Ainda faltam os alambrados, o gramado, a pintura e a limpeza, exatamente os problemas mais visíveis. Pronto, o estádio poderá receber 7 mil pessoas. Deve ser usado nos jogos diurnos e em alguns dos duelos com os grandes da capital.

Casa do Rio Branco para jogos e treinos desde 2005, o Gigante do Itiberê continuará sendo usado. Maior e mais confortável, foi absolvido pela diretoria na avaliação dos motivos para o clube colecionar resultados ruins e públicos pequenos nas temporadas mais recentes.

"Time bom leva público em qualquer lugar. Em 2006 e 2007 conseguíamos lotar o Gigante do Itiberê", lembra Elias.

Para montar um "time bom", o dirigente ouviu a torcida. A partir da sugestão de torcedores na internet, foi buscar o técnico Gassen, o goleiro Filipe, o zagueiro Valdir e o meia Renan Meduna. Ainda trouxe os experientes Rodrigo Café, ex-Coritiba, Muçamba, ex-Paraná, e Massaro, artilheiro do clube nas boas campanhas de 2006 e 2007. O atacante, porém, foi embora sem estrear, após ter recusado o pedido de aumento de salário. Mais cinco jogadores devem chegar até a estreia no Estadual, dia 20, contra o Atlético.

O dinheiro para montar e manter um elenco capaz de ser campeão do interior e obter uma vaga na Série D do Brasileiro vem de patrocinadores, direitos de transmissões e ações de marketing. Desde novembro, todo dia 13 tem algum evento do centenário. Já foram lançados os novos uniformes e no próximo fim de semana começam as inscrições para a escolha da leona (a musa do Rio Branco) e de gandulas femininas para trabalhar nos jogos. Há também um plano de sócio-torcedor à venda, que dá direito a entrada gratuita no estádio e usar as sedes do Clube Literário de Paranaguá. A agenda segue até 13 de outubro, data do aniversário.

A conta a ser coberta é de pelo menos R$ 700 mil. As dívidas, em torno de R$ 550 mil, estão sendo negociadas à parte. Atingir o equilíbrio entre estes dois números será fundamental para o Leão ter um centenário para ser realmente comemorado. E o resgate da Estradinha entra como um fator determinante nesta equação.

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