Centenários
O Rio Branco é o terceiro clube do estado a completar cem anos. E tem mais gente na fila.
Coritiba: O Vovô teve um 2009 complicado. Perdeu o Estadual para o Atlético e foi rebaixado no Brasileiro, com invasão de campo e quebra-quebra.
Operário: O Fantasma já estava de férias quando completou cem anos, em 1º de maio do ano passado. Deixou para trás uma boa campanha no Estadual, com um quinto lugar no geral.
Iraty: O Azulão completa 100 anos em 2014, provavelmente inativo. Rebaixado no Campeonato Paranaense de 2012, o clube não disputou os estaduais de base, o que automaticamente o empurra para a Terceira Divisão local. A possibilidade de o clube fechar o departamento de futebol é real.
Atlético: O Furacão é o time seguinte na fila do centenário entre os times paranaenses. O Rubro-Negro, porém, terá de esperar por mais algum tempo, já que só chega aos 100 anos em 2024.
Incomodar os grandes vira o lema do centenário
"Eu quero incomodar os grandes... O time titular deles." O aviso do técnico Gassen dá a dimensão da pretensão do Rio Branco para o Paranaense-2013. Treinando desde o início de novembro, o clube quer ser uma pedra no sapato dos maiores clubes do estado e, assim, brigar pelo título do interior, a vaga na Série D e o retorno à Copa do Brasil, que disputou em 2007 chegou às oitavas de final, mas foi eliminado no tapetão por problemas na inscrição do atacante Massaro.
Cumprir uma boa campanha é tratado quase como obrigação dentro do clube, ainda mais no ano do centenário. Para os jogadores, o objetivo coletivo é reforçado pelo desejo de abrir espaço no mercado nacional.
"Depois de cinco anos fora, o Rio Branco é uma porta para eu me reinserir no mercado brasileiro", diz o goleiro Rodrigo Café, 27 anos, revelado pelo Coritiba e atuando em clubes da Itália, da Bélgica e de Portugal nas cinco últimas temporadas.
O volante Rafael Muçamba, 31 anos, não passou pelo exterior, mas tem a mesma pretensão. Sonha com uma boa campanha que o leve a cavar um lugar no Brasileirão. "Se o time chegar, vai abrir as portas para todo mundo, o celular não para de tocar. Se for mal, logo a diretoria chama para rescindir contrato, outros clubes já ficam sabendo", diz o jogador, que dá a receita para uma boa campanha. "Não pode deixar escapar nada em casa e fora é jogar como franco atirador. Tem que ser um gatinho que você olha no espelho e ele late [sic] como um leão."
A tranquilidade com que o administrador Lubumba varre as folhas na entrada do estádio contrasta com a urgência de reformas que salta aos olhos. O gramado está alto a ponto de esconder os pés. As arquibancadas precisam de limpeza e pintura. Falta atrás dos gols uma proteção para que chutes mais potentes não mandem a bola para a rua.
Ainda assim, a mística que já fez jogadores experientes tremerem na Estradinha segue inabalada nas histórias contadas em um só fôlego. "Lembro de um jogo que perdemos para o Coxa por 4 a 1. Nunca vi o estádio tão lotado. Fiz o primeiro gol e a arquibancada temporária atrás do gol balançava", recorda Herminho, 14 estaduais pelo Leão, e hoje auxiliar técnico. "É o sonho do torcedor, é a paixão, é a casa do Rio Branco", resume Lubumba, 25 anos de Estradinha, entre jogador, integrante da comissão técnica e, nos últimos tempos, encarregado de manter o local em ordem para o esperado retorno.
A retomada do histórico Estádio Nelson Medrado Dias é a atração mais afetiva do Rio Branco em 2013. Um ano especial, em que o terceiro clube mais antigo do estádio completa seu primeiro centenário e traça metas ambiciosas para recuperação da entidade, montagem de uma equipe capaz de garantir calendário até o fim da temporada e resgatar o torcedor. A Estradinha diz respeito ao terceiro ponto.
"É o resgate da história, da mística do local, uma homenagem aos rio-branquistas que fundaram o clube", diz o presidente Fabiano Elias, advogado, 44 anos, filho de ex-presidente do Leão. "Eu era mascote do time quando fomos campeões do Sul [Zona Sul do Estadual], em 1977. Sempre torci para o clube. Nunca tive um time em São Paulo, no Rio, em Curitiba."
Desde o fim do ano o clube reforma a Estradinha. Já fez reparos nas instalações hidráulicas e elétricas, vestiários, luzes de emergência e corrimões. Ainda faltam os alambrados, o gramado, a pintura e a limpeza, exatamente os problemas mais visíveis. Pronto, o estádio poderá receber 7 mil pessoas. Deve ser usado nos jogos diurnos e em alguns dos duelos com os grandes da capital.
Casa do Rio Branco para jogos e treinos desde 2005, o Gigante do Itiberê continuará sendo usado. Maior e mais confortável, foi absolvido pela diretoria na avaliação dos motivos para o clube colecionar resultados ruins e públicos pequenos nas temporadas mais recentes.
"Time bom leva público em qualquer lugar. Em 2006 e 2007 conseguíamos lotar o Gigante do Itiberê", lembra Elias.
Para montar um "time bom", o dirigente ouviu a torcida. A partir da sugestão de torcedores na internet, foi buscar o técnico Gassen, o goleiro Filipe, o zagueiro Valdir e o meia Renan Meduna. Ainda trouxe os experientes Rodrigo Café, ex-Coritiba, Muçamba, ex-Paraná, e Massaro, artilheiro do clube nas boas campanhas de 2006 e 2007. O atacante, porém, foi embora sem estrear, após ter recusado o pedido de aumento de salário. Mais cinco jogadores devem chegar até a estreia no Estadual, dia 20, contra o Atlético.
O dinheiro para montar e manter um elenco capaz de ser campeão do interior e obter uma vaga na Série D do Brasileiro vem de patrocinadores, direitos de transmissões e ações de marketing. Desde novembro, todo dia 13 tem algum evento do centenário. Já foram lançados os novos uniformes e no próximo fim de semana começam as inscrições para a escolha da leona (a musa do Rio Branco) e de gandulas femininas para trabalhar nos jogos. Há também um plano de sócio-torcedor à venda, que dá direito a entrada gratuita no estádio e usar as sedes do Clube Literário de Paranaguá. A agenda segue até 13 de outubro, data do aniversário.
A conta a ser coberta é de pelo menos R$ 700 mil. As dívidas, em torno de R$ 550 mil, estão sendo negociadas à parte. Atingir o equilíbrio entre estes dois números será fundamental para o Leão ter um centenário para ser realmente comemorado. E o resgate da Estradinha entra como um fator determinante nesta equação.
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