Previsão catastrófica, falta de dinheiro, traição, vaidade, perdão, amor... Os verbetes parecem de folhetim mexicano, mas são as palavras-chave que pontuam a crise administrativa da gestão Rubens Bohlen à frente do Paraná.
O estopim da novela teve lágrimas (em 8/2). Após a derrota para o Atlético, o gerente de futebol Marcus Vinícius desabafou. “Cada lágrima dessa representa um funcionário (...) O que eu quero dizer é que os paranistas se unam. O Paraná vai acabar este ano”.
Diante da repercussão negativa da declaração, o presidente Rubens Bohlen tentou amenizar a situação, mas não conseguiu. Em pronunciamento (10/2), soltou: “Amigos, informo que o Paraná não acabou. Mas aquele clube do passado, clube do futuro, clube moderno, sim”.
Internamente, a crise só aumentou. Uma semana depois (17/2), a comissão técnica cancelou uma atividade com os jogadores por causa da greve dos cozinheiros. No dia seguinte, o treinamento foi agendado apenas pela manhã. A situação se normalizou em 48 horas, após uma reunião entre diretoria e os funcionários da cozinha.
O departamento médico foi um capítulo à parte, com falta de profissionais e remédio para os jogadores.
A situação precária reforçou a agenda negativa paranista. Na preparação para o jogo em Maringá (22/2), pela primeira vez no ano, delegação pernoitou em hotel para um jogo. Clube havia abolido a concentração, a revelia do líder Lucio Flavio, justamente para conter gastos.
O regime falimentar ganhou ainda mais evidência quando o grupo Patronos e Amigos da Gralha Azul, associação de torcedores paranistas destinada a ajudar o clube, divulgou o primeiro balanço da campanha “Salário em dia” (26/2). A entidade arrecadou R$ 17.198,12, conseguindo quitar os atrasados de setembro e outubro dos funcionários que recebem até dois salários mínimos. A dívida do clube passa dos R$ 60 milhões.
Nos bastidores, o fogo amigo queima. Rubens Bohlen vai perdendo sustentação política, a começar pela saída do investidor Carlos Werner da gestão do Ninho da Gralha (1/3). A ação do bem-sucedido empresário de Campo Largo, responsável em transformar as categorias de base em um oásis de tranquilidade , tornou público o desejo – para alguns setores influentes do clube – de renúncia do presidente Bohlen.
Com a história escancarada, vieram os capítulos derradeiros: mocinhos, vilão e, claro, a puxada de tapete.
Principal garoto propaganda da nova campanha de sócios, o ex-atacante Saulo adianta a história nas entrelinhas (2/3). “O Paraná não pode ficar refém de uma pessoa e hoje acho que é isso o que acontece”.
Cada vez mais acuado, o presidente decide falar sobre a situação constrangedora que vive (3/3). “Queriam comprar minha cadeira por R$ 4 milhões”, disparou o presidente. “Queriam que eu assumisse toda a culpa pela situação do clube”. O dirigente se referia ao grupo opositor, formado por figuras influentes na Vila Guaíra, liderado justamente por Werner (3/3).
O motim, autointitulado ‘Paranistas de Bem’ (conheça os integrantes), promete salário em dia e time forte, mas quer a saída imediata de Bohlen. O presidente admite sair, porém com uma condição: quer que seus dois vices, Luís Carlos Casagrande e Aldo Coser, abram mão dos cargos também.
Na relação dos insurgentes, há alguns ex-presidentes. Para reforçar o discurso de união, uma das condições é a retirada de ações judiciais movidas pelo clube contra os antigos mandatários (3/3). O projeto tem três alicerces: retorno ao dia a dia do clube de todos aqueles que se afastaram do clube; manutenção do futebol com salário em dia e administração do futebol profissional por paranistas com conhecimento técnico para montar o elenco profissional. O grupo também se compromete a não buscar lucro com o negócio futebol.
A torcida organizada Fúria Independente participa ativamente do processo que prega mudança. Em carta aberta, a facção conta que a exigência para a renúncia de Bohlen partiu justamente pelo fato de ele criticar duramente os antecessores (5/3).
Diante da pressão, a reunião dessa quinta-feira (5/3) do Conselho Deliberativo apenas aumentou a pressão para cima do mandatário do clube, ausente por causa de compromissos no Rio de Janeiro. No encontro, com apoio maciço dos presentes, ficou definido que os líderes dos conselhos do Tricolor irão tentar convencer Rubens Bohlen a ter uma “saída honrosa”.