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Casos

Conheça a situação de três jogadores:

• Moacir – fora dos planos de Celso Roth, o lateral-direito, de 28 anos, acertou em julho a sua ida para o Figueirense. Foi quando recebeu com surpresa o diagnóstico de uma dilatação na região do miocárdio. O negócio foi desfeito e ele voltou a Curitiba. "Fiz todo o tipo de exames, que nem sabia que existiam e nada mais apareceu. Pensou-se que podia ser um vírus. Fiz exames de sangue, de esforço, ressonância no coração. Estou esse tempo parado justamente para fazer avaliações melhores. Nesta segunda [amanhã] ou terça-feira faço novos exames e espero voltar a jogar ainda esse ano", contou o atleta à Gazeta. Seu último jogo foi no dia 11 de maio.

• Giancarlo – no dia 9/9, Coritiba e Paraná confirmavam a negociação para a transferência de Giancarlo, 31 anos, para o Alto da Glória. Apenas três dias depois, o negócio foi desfeito. Oficialmente, por questões contratuais. Extraoficialmente, por problemas cardíacos. Responsável pela avaliação do atleta, o médico Costantini Costatin contesta. "Houve uma pequena alteração no eletrocardiograma. O Coritiba devolveu o jogador antes dos outros resultados. Fizemos todos os exames mais apurados necessários, que não identificaram nada. O Giancarlo está apto a jogar, tanto que está jogando. Não somos irresponsáveis". O imbróglio foi parar na Justiça. O jogador cobra uma indenização de R$ 4,4 milhões.

• Diego Sacoman – peça-chave da Ponte Preta, o zagueiro de 27 anos teve diagnosticado uma hipertrofia no coração quando fazia testes para ser contratado pelo Atlético. O jogador voltou ao clube campineiro, que nada havia identificado em exames anteriores. "Trata-se de algo agudo e assintomático. No momento, é preciso que o jogador não faça nenhuma atividade esportiva. Ele passará por um período de repouso e tratamento que vai durar três meses. Ao final, uma nova avaliação será realizada", explicou o médico da Ponte, Roberto Nishimura, em entrevista ao site oficial do clube.

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Em apenas três meses, os três clubes da capital viram negociações esbarrarem no departamento médico. Moacir foi devolvido pelo Figueirense ao Coritiba; Giancarlo foi barrado no Alto da Glória e retornou ao Paraná; o Atlético cancelou a contração de Diego Sacoman, da Ponte Preta. A causa alegada para inviabilidade nos acertos foram possíveis alterações cardíacas dos atletas (leia mais ao lado).

INFOGRÁFICO: Veja o que pode causar a morte súbita cardíaca

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A ocorrência quase simultânea levou o foco para a vertente esportiva da principal causa de mortes da população em geral de acordo com a Organização Mundial de Saúde: a cardiopatia isquêmica, que podem resultar em angina e infarto.

Todos temas em alta hoje quando se comemora o Dia Mundial do Coração. A data é celebrada pela Federação Mundial do Coração (WHF) e por 189 sociedades de cardiologia espalhadas por mais de cem países desde 1999, no último domingo de setembro, para conscientizar a população para a promoção da saúde e prevenção de doenças cardiovasculares.

"Há 44 anos, a maior causa de morte eram problemas no coração. Hoje, a principal ocorrência de morte continua sendo problemas no coração", resume o cardiologista Costantino Costantini, fazendo o recorte da sua própria carreira, que o transformou em uma referência no assunto.

Neste período, acompanhou a tecnologia evoluir à possibilidade de exames de alta precisão. Mas insiste que um interrogatório exaustivo com o paciente – para identificar questões congênitas e hereditárias – e um protocolar eletrocardiograma são a base para o diagnóstico de um problema assintomático.

"São doenças absolutamente silenciosas e se o paciente não for submetido a exames não vai saber. O primeiro sinal de alerta pode ser o último", reforça o médico especialista em medicina esportiva Marcelo Leitão, sobre os risco de morte súbita. Na medicina, um indivíduo recuperado de uma parada cardíaca é chamado de "sobrevivente" com toda a força que este adjetivo pode ter.

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Apesar do avanço médico, Leitão ressalta que não há nenhum estudo que comprove a maior incidência de casos no esporte. "O que acontece é que são mais noticiados, mas, se for feito um levantamento mais amplo, a quantidade de episódios é a mesma. Não há um aumento. O que existe é mais cuidado e atenção".

Uma tragédia nos gramados transformou há dez anos a maneira como os problemas cardíacos são tratados no futebol brasileiro. "O caso Serginho foi um marco. Muita coisa mudou. Novas diretrizes foram implantadas e procedimentos foram exigidos dos clubes", explicou Leitão, sobre a morte do zagueiro do São Caetano, em outubro de 2004, após um infarto durante um jogo do Campeonato Brasileiro contra o São Paulo.

"Existem casos e casos. É de partir o coração você ter de chegar para um jogador e aconselhar que abandone o futebol. Fiz isso duas vezes este ano com dois atletas profissionais [não revelou os nomes]. Em outras situações, basta um procedimento de ‘destreinamento’ para alguma alteração ser controlada para ele retomar a carreira completamente", explica.

Os exames não são garantia absoluta de que uma anomalia seja descoberta, pois ela pode não ser permanente. Por isso a necessidade de acompanhamento. Há quem defenda que os testes sejam realizados a cada seis meses, elevando a prevenção como a principal aliada contra novas tragédias.

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