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Jornal americano aponta que Jérôme Valcke movimentou US$ 10 milhões de propinas em nome da Fifa. | PATRICK B. KRAEMER/EFE
Jornal americano aponta que Jérôme Valcke movimentou US$ 10 milhões de propinas em nome da Fifa.| Foto: PATRICK B. KRAEMER/EFE

Jérôme Valcke, o secretário-geral da Fifa, sabia dos pagamentos de US$ 10 milhões (R$ 31,7 milhões) para cartolas no Caribe e foi a ele que uma carta foi direcionada para que a operação fosse realizada e o dinheiro do orçamento regular da Copa do Mundo de 2010 desviado.

Na última segunda-feira, Valcke foi indicado por uma reportagem do The New York Times como a pessoa que, na Fifa, autorizou o pagamento de US$ 10 milhões (R$ 31,7 milhões) a Jack Warner, um ex-vice-presidente da entidade e o homem forte do futebol de Trinidad e Tobago. O dinheiro seria uma retribuição ao voto dele na África do Sul para ser a sede do Mundial de 2010 e faz parte do caso investigado pelo FBI.

Em nota emitida na manhã desta terça-feira (2), a Fifa confirma que o pagamento existiu entre a África do Sul, que organizava o Mundial de 2010, e países caribenhos, como uma forma de apoiar a “diáspora africana” na região. A entidade nega que seja uma propina e diz se tratar de um programa de desenvolvimento.

Em defesa de um de seus principais dirigentes, a Fifa declarou oficialmente que o dinheiro enviado para o Caribe e que é alvo de suspeitas de corrupção nos Estados Unidos foi autorizado pelo diretor do comitê financeiro à época, Julio Grondona, que morreu no ano passado. Jérôme Valcke, atual secretário-geral, também trabalhava na Fifa naquele momento. Mas, segundo a entidade, não foi ele quem assinou movimentação.

Numa carta de 4 de março de 2008, porém, é para Valcke que o caso é dirigido. Trata-se de uma comunicação entre a Associação Sul-Africana de Futebol (Safa, na sigla em inglês) à Fifa, sugerindo que o dinheiro fosse colocado sob a administração de Warner.

“Prezado sr. Valcke”, inicia a carta. O texto pede que ele segure US$ 10 milhões (R$ 31,7 milhões) do orçamento da Copa e depois transfira para o programa mencionado. O documento assinado por Molefi Oliphant, presidente da Safa, ainda insiste que Warner seria o “fiduciário” do dinheiro.

“À pedido do governo sul-africano, e em acordo com a Associação de Futebol Sul-Africano, a Fifa foi solicitada a processar os recursos do projeto ao manter US$ 10 milhões do orçamento do Comitê Organizador Local”, diz a nota da Fifa.

Segundo a Fifa, foram os sul-africanos que instruíram a entidade a mandar o dinheiro a Warner, naquele momento o presidente da Concacaf. Ele “administraria e implementaria” o projeto. Warner era também o vice-presidente do Comitê de Finanças.

Morto

Para a Fifa, quem autorizou o depósito foi “o presidente do Comitê de Finanças” da entidade. Naquele momento, o cargo era de Julio Grondona, o argentino que tinha as chaves do cofre da entidade. “Os pagamentos de US$ 10 milhões foram autorizados pelo então presidente do Comitê de Finanças e executados de acordo com os regulamentos da Fifa”, disse.

“Nem Valcke nem nenhum outro membro de alto escalão da administração da Fifa foram envolvidos na aprovação, início e implementação do projeto”, insistiu a Fifa.

Grondona morreu logo depois da Copa de 2014, num momento que deixou Joseph Blatter abalado.

Já Valcke optou por não viajar até o Canadá, um forte aliado dos Estados Unidos, para a abertura do Mundial Feminino de Futebol que ocorrerá no fim de semana. Ele é o principal operador do torneio que, nos últimos anos, ganhou uma nova dimensão na entidade.

Porém, fontes em Zurique confirmam que existem temores de que, estando no Canadá, a polícia local possa atender a qualquer momento um eventual pedido de extradição por parte dos Estados Unidos.

A vida de Valcke pelo futebol foi marcada por questões judiciais. Ainda fora da Fifa, ele foi citado em um processo na França por chefiar uma empresa citada em casos de evasão fiscal na compra de jogadores.

Já na Fifa, Valcke teria uma atuação que, em qualquer empresa normal, teria sido severamente punida e condenada. Foi ele quem negociou uma troca de patrocinadores de empresas de cartão de crédito. Mas, processado por quem perdeu, viu a Fifa ser obrigada a pagar US$ 90 milhões (R$ 285 milhões) em multas na Justiça americana. Naquele momento, ele era apenas o diretor de marketing da entidade.

Valcke seria suspenso por alguns meses, mas nunca deixou de receber seu salário. Ao retornar, ele seria promovido a secretário-geral da Fifa, o homem responsável pela organização de todos os Mundiais.

Na Copa do Mundo no Brasil, mais uma polêmica. Ele colocou seu filho nas operações do Mundial. Sébastien Valcke foi o vice-coordenador-geral para todos os jogos da Copa do Mundo no Maracanã, local do encerramento do Mundial.

A Fifa não respondeu aos e-mails de O Estado de S. Paulo antes da publicação da reportagem. O jornal questionava a entidade sobre as atribuições de Sébastien Valcke no estádio e sobre quem o contratou. Quando o texto foi veiculado, Jérôme Valcke optou por se pronunciar. “Sou pai de quatro crianças, entre eles Sébastien, de 26 anos. Ele é um garoto que foi sempre apaixonado e atraído pelo esporte e ele foi definitivamente marcado por minha carreira”, escreveu.

Valcke declarou que ficou surpreso com a dimensão que o assunto ganhou. “Sébastien trabalhou em 2010, na Copa da África do Sul, no estádio da Cidade do Cabo, e ninguém se interessou por isso”, disse. “Seu trabalho é saudado por seu coordenador geral e por todos que trabalham com ele”.

Segundo Valcke, foi o coordenador de competições que entrou em contato diretamente com seu filho com a nova proposta, “levando em conta sua experiência e suas qualidades”. “Sébastien aceitou, sem que eu fosse consultado ou que eu tivesse qualquer intervenção na escolha e em sua decisão final”, explicou.

Valcke admite, porém, que essa é uma situação de conflito de interesse e que poderá ser levada à Comissão de Ética da Fifa. “Eu me ofereci de forma espontânea à Comissão de Auditoria e de Conformidade para que me escutassem se quisessem”, apontou. “Se eu escutasse uns ou outros, meu filho não deveria estar perto ou longe de uma sociedade que tivesse contatos com a Fifa”, disse Valcke. “Mas, de fato, isso significaria um obstáculo para trabalhar globalmente no mundo do futebol, já que a Fifa está em todas as partes. Nunca atuei para ajudar Sébastien negociar um contrato ou, pior, concluir um contrato”, insistiu.

Segundo Valcke, seu filho não trabalha para a Fifa de forma permanente e seu contrato terminava no dia 25 de junho de 2014. “Ele trabalha, por meio de sua empresa que acaba de ser criada, como conselheiro, e isso sem a ajuda minha, do que sou muito orgulhoso”.

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