Uma das mais controversas convocações da seleção brasileira nos últimos anos, capaz de batizar uma era da equipe nacional, teve ação direta de um lobista. A revelação foi feita pelo presidente do Sport Recife, Luciano Bivar, e envolve o volante paranaense Leomar. O jogador, revelado pelo Atlético, defendia o Leão da Ilha quando foi convocado por Emerson Leão em 2001.
"Paguei um lobista para ver se colocava o meu jogador na seleção. Se o lobista teve sucesso eu não sei. Eu sei que meu jogador foi para a seleção. Não sei se foi pelo seu talento ou trabalho do lobista, que foi contratado para isso", afirmou Bivar à Gazeta do Povo, por telefone, repetindo o que havia dito na manhã desta sexta-feira à Rádio Transamérica do Recife.
Bivar argumentou ter usado o lobista para melhorar a avaliação de Leomar no mercado. Na época, o jogador, capitão do Sport, beirava os 30 anos. "Certamente que ele usando a camisa da seleção brasileira sua valorização ia aumentar significativamente", disse Bivar, que presidia o clube na época e agora está no seu sexto mandato não consecutivo na Ilha do Retiro.
Curiosamente, o Sport não conseguiu aproveitar a valorização de Leomar. No fim de 2001, o volante desligou-se do clube na Justiça, por causa de salários atrasados, e acertou com o sul-coreano Jeonbuk Hyundai sem deixar dinheiro para os cofres do Leão.
Bivar disse que a prática era comum na época - o lobista garantiu a ele ter livre trânsito na CBF - e que persiste até hoje. "Se você ligar para o Felipão, ele vai dizer que vários procuradores indicam jogadores que estão no Catar ou em outros lugares antes de cada convocação. O Felipão, que é um homem íntegro, vai observar antes de chamar porque não vai pôr na seleção qualquer pé-rapado. O lobby está sempre existindo", assegurou o cartola.
Procurado pela Gazeta do Povo, Emerson Leão negou veementemente qualquer influência de lobistas nas suas convocações à frente da seleção brasileira. Também pediu investigação do caso.
"Quem faz isso tem de ser preso. Não tenho nada para esconder. Acho um absurdo. tem que ir até o final [a apuração], vamos pegar a onda do Joaquim Barbosa. Falou? Quem foi? Quem não foi? Tem de prender todo mundo. Mas ele [Bivar] está correndo já, agora está se desculpando nos canais de televisão", afirmou o treinador, atualmente sem clube.
Antonio Lopes, coordenador técnico da seleção na época e atual diretor de futebol do Atlético, seguiu a mesma linha em entrevista à Gazeta do Povo, por telefone. "Nenhum lobista teria a petulância de propor algum tipo de corrupção a mim. Certamente levaria um soco nos cornos ou sairia preso", afirmou ele, que cobrou de Bivar a revelação de mais detalhes. "Ele deveria dar nome aos bois, dizer a quem deu dinheiro. Na minha época, tanto com o Leão quanto com o Felipão, nunca aconteceu nada desse tipo."
Ao todo, Leomar disputou seis jogos pela seleção. Na Copa das Confederações de 2001, chegou a ser o capitão da equipe, que ficou em quarto lugar no torneio disputado na Coreia do Sul e no Japão. O mau desempenho custou o emprego de Leão, demitido no Aeroporto de Narita, em Tóquio. Sua passagem de pouco menos de um ano pela seleção ficou conhecida como "Era Leomar".