Uma casa que pertenceu a Mané Garrincha está à venda. Mas, ao contrário do que se pode esperar quando se trata de alguém que é considerado um dos maiores gênios da história do futebol, sem nenhuma pompa. O imóvel foi anunciado na OLX, um site cujo mote publicitário trata do desapego e no qual é possível comprar quase tudo.
A casa de esquina de número 7, o mesmo que eternizou o Anjo das Pernas Tortas, custa consideravelmente mais. No mês passado, estava anunciada por R$ 600 mil. Mas, há três semanas, passou a R$ 700 mil, valor pelo menos duas vezes superior ao de casas do mesmo tamanho nas redondezas.
A história do imóvel do distrito de Pau Grande, município de Magé, região metropolitana do Rio, remonta à conquista da Copa do Mundo de 1958. Após o título, uma grande indústria têxtil da região presenteou Garrincha com uma das casas que havia construído para seus funcionários. Segundo Alexsandra dos Santos, neta do ex-craque, ele morou lá “por um tempo”.
Vitimado por uma cirrose hepática em 1983, Garrincha praticamente não deixou herança. “Não havia o que dividir”, destaca o jornalista Ruy Castro, biógrafo do craque. “A casinha de Pau Grande já era das filhas. Os apartamentinhos e a poupança oriundos do Jogo da Gratidão - partida realizada no Maracanã, em 1973 - devem ter se dissolvido. Um advogado roubou tudo que o Garrincha mandava para a dona Nair (primeira esposa).”
O que sobrou sempre foi motivo de disputas entre os herdeiros - Garrincha teve 14 filhos reconhecidos. De posse da escritura da casa e de uma nota promissória de março de 1985 no valor de Cr$ 1.487.088 (cerca de R$ 3.660), Alexsandra assegura que o imóvel é seu.
“Quando a fábrica faliu começaram a vender as casas. Veio uma proposta para minha mãe (Edenir, a segunda das oito filhas com a primeira mulher). Como não havia documentação nenhuma, ela teve que comprar.”
Com a morte dos pais e sem perspectiva de renda, Alexsandra decidiu vendê-la. Mas, apesar de citar o “valor histórico”, a pedida bem acima da cotação esconde um desejo: ela não quer se desapegar da casa que um dia abrigou um dos mais importantes personagens do futebol.
“Meu sonho seria fazer aqui o Acervo Mané Garrincha”, afirma. Para isso, seriam necessários R$ 25 mil, valor que Alexsandra tentou levantar - por enquanto, sem sucesso - com jogadores do Botafogo, na CBF e na prefeitura de Magé. “Eles podiam tombar a casa”, sugere.
O tombamento não parece ser uma opção muito viável. Da casa original restaram apenas a estrutura externa, pintada de amarelo e com uma imagem estilizada de Garrincha na fachada, e as paredes internas. Os móveis e a decoração são novos.
Montar o acervo também parece ser difícil, já que isso demandaria reunir peças que estão em poder de outros parentes, colecionadores e museus.
Mesmo assim, Alexsandra acredita que isso seja possível. “Se não der, eu vendo a casa. Com R$ 700 mil eu poderia fazer o museu do Mané Garrincha em outro lugar”, sentencia ela, em um novo momento de desapego ao imóvel que um dia abrigou Garrincha.
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