O advogado Nixon Fiori, 38 anos, atuante no TJD-PR| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

TJD promete patrulhar as redes sociais

Em 2012, o vice-presidente do Atlético, Márcio Lara, atacou o Paraná no Twitter. Foi punido pela Justiça Desportiva por incitação à violência. No mesmo ano, o presidente do clube, Mario Celso Petraglia, fez acusações contra a arbitragem da final com o Coritiba. Também foi punido. Na temporada passada, foi o zagueiro coxa-branca Escudero quem pegou um gancho por ofender torcedores rubro-negros na internet.

O comportamento nas redes sociais definitivamente entrou na mira do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR). Um procedimento que será intensificado no Paranaense de 2014 e já entrou no radar dos clubes. Jogadores estão sendo orientados a evitar brigas pela internet, sob risco de acabarem punidos.

"É uma situação nova, ferramentas que vêm sendo cada vez mais utilizadas. O Tribunal está atento a todos os detalhes. É preciso haver a consciência de que o fato de ser uma rede social não deixa ninguém imune a punição", diz o vice-procurador-geral do TJD-PR, Gílson João Goulart Júnior, que espera um comportamento mais adequado no meio virtual após as punições. "Acredito que tenha servido de alerta."

Ao menos entre os clubes, serviu. Desde 2012, o advogado Itamar Côrtes dá palestras de pré-temporada aos jogadores do Coritiba sobre justiça desportiva. Neste ano, o comportamento nas redes sociais foi um dos pontos abordados.

"Passei para os atletas que eles precisam estar sempre alertas quando forem fazer qualquer manifestação sobre adversários ou responder torcedores", diz Côrtes, que nos próximos dias deve abordar o tema em um encontro com o elenco do Paraná. O advogado representa os dois clubes perante a Justiça Desportiva.

No caso do Atlético, Do­­mingos Moro não chegou a conversar com os jogadores. O departamento de comunicação do clube tem normas internas bem claras, recomendando o uso comedido de redes sociais pelo elenco. Com os dirigentes, o advogado diz acreditar que as punições foram mais eficientes do que qualquer conversa. "Eles próprios tomaram a decisão de não se manifestar mais, tanto que não tivemos mais nenhuma punição", argumenta.

Petraglia apagou seus perfis no Twitter e no Facebook. Lara não atualiza sua conta no Twitter desde 31 de julho do ano passado.

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O TJD-PR funciona quatro dias por semana. De segunda a quarta-feira, as três comissões disciplinares. Às quintas, o Pleno. É assim de meados de janeiro, quando começa o Campeonato Pa­­ranaense, até dezembro, com o fim das disputas amadoras.Ano passado, um personagem esteve presente em cada uma dessas sessões: o advogado Nixon Fiori, 38 anos, há oito atuando no Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná.

A assiduidade é garantida pela ampla carta de clientes. São 13 clubes profissionais no período, além de equipes amadoras, jogadores, técnicos e dirigentes que o contratam para casos específicos. Tão comum quanto ver Fiori diante dos auditores é o ritual que ele segue após cada sessão.

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"Termina o julgamento, ligo para o dirigente de cada clube para passar o resultado. Tem dirigente que fica só esperando o telefonema para saber se não precisa tirar jogador de concentração", conta. "Depois, mando torpedo e faço check-list por e-mail", acrescenta.

A prosaica comunicação por telefone esteve na origem do mais recente imbróglio do futebol brasileiro. Foi por telefone que o advogado Osvaldo Sestário Filho avisou a Portuguesa que o atacante Héverton havia sido suspenso antes do jogo com o Grêmio, na última rodada do Brasileiro-2013. Héverton entrou em campo e a Lusa perdeu quatro pontos que resultaram no seu rebaixamento. A falta de publicação em um site, como reza o Estatuto do Torcedor, levou a briga para a Justiça Comum e deixou uma questão para o futebol doméstico: o Campeonato Paranaense, iniciado ontem, está protegido de uma edição local do caso Héverton?

"O precedente está aí. Se acontecer algo semelhante, certamente os advogados vão se aproveitar e recorrer à Justiça Comum", admite o vice-procurador-geral do TJD-PR, Gílson João Goulart Júnior, que faz uma ressalva: "Mas é uma situação muito excepcional, que só ocorreu porque houve erro de comunicação."

A excepcionalidade do caso é uma das apostas da Justiça Desportiva local para que não se repita o imbróglio. A outra, é a consolidação do sistema de comunicação de penas.

"A Justiça Desportiva é guiada pelos princípios de celeridade e oralidade. Acabou o julgamento, aquela punição passa a valer", diz o procurador-geral Marcelo Contini, que entregou o cargo, mas ainda não tem um substituto. "O CBJD tem a vedação expressa de que se importe regras de outras áreas do Direito. É estranho para quem vê de fora, mas funciona", afirmou o presidente do Tribunal, Leandro Souza Rosa.

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O órgão toma outras medidas para evitar furos. Rosa determina que, em no máximo 15 minutos após cada sessão, o resultado esteja publicado no site do Tribunal. Se o julgamento acaba tarde, a postagem é a primeira missão do dia seguinte. As reuniões do Pleno às quintas-feiras dão um dia a mais para a comunicação antes dos jogos no fim de semana – Héverton foi julgado em uma sexta. E mesmo as pautas das comissões disciplinares são distribuídas de maneira a deixar poucos casos em véspera de jogo.

Para o futuro, a entidade prevê aprimorar a informatização do seu funcionamento, o que inclui um sistema de súmula eletrônica dos jogos. A previsão é de que o Estadual de 2015 já tenha este recurso, que permite a publicação dos relatórios poucas horas depois da partida. Um avanço que não deve ter como consequência a divisão da responsabilidade entre clubes e federação sobre o veto ao uso de jogador suspenso – outra demanda nascida do caso Héverton.

"Sou a favor da modernização, mas verificar a situação do jogador é questão administrativa do clube, transferência de responsabilidade. O clube não quer fazer nada? Se o cara quer botar jogador irregular, ninguém vai impedir. Depois arca com as consequências", diz o presidente da Federação Paranaense De Futebol (FPF), Hélio Cury.