Jogadores brasileiros são os mais negociados no mundo, em parte por serem considerados mão de obra barata.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O status do jogador brasileiro de produto mais cobiçado do futebol mundial ganhou um reforço matemático. Segundo o estudo anual da Fifa, feito a partir do sistema integrado que concentra dados de todas as transferências internacionais ocorridas no mundo, os clubes brasileiros foram os que mais realizaram transações; e o jogador brasileiro, o que mais dinheiro movimentou no planeta em 2016.

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Deixaram o país 806 jogadores, um recorde de exportações, mantendo o Brasil na liderança pelo quinto ano seguido. País visto como vendedor por excelência, o maior país da América do Sul é líder também de importações: 678 atletas chegaram aos clubes locais no ano passado. Estes números incluem jogadores estrangeiros negociados por clubes brasileiros. No entanto, mundo afora, transações envolvendo jogadores nascidos no Brasil – com ou sem participação de clubes do país –, movimentaram R$ 1,88 bilhão em 2016, outro recorde.

O grande volume de entradas e saídas do país esconde, no entanto, que grande parte do fluxo envolve mão de obra barata. “Muitos se movem para mercados menores, até países como Indonésia e outros. É uma característica do futebol brasileiro: os clubes pequenos sem calendário a partir de maio, após os Estaduais. Muitos desempregados vão buscar um lugar”, diz o agente de jogadores Eduardo Uram, que tem entre seus clientes o ex-atleticano André Lima, por exemplo. Em 2016, o Brasil exportou atletas para 118 países distintos.

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“Há muitas voltas de empréstimo e de jogadores sem contrato. Os grandes nomes que vemos nos jornais são exceções”, diz o advogado Marcos Motta, especialista no mercado internacional de jogadores de futebol.

A exportação brasileira segue crescendo: a cada ano, saem 10% mais jogadores do país. Mas, se o assunto for o valor médio pago aos clubes do país em cada negociação, o Brasil não está no topo. Entre os cinco países cujos clubes mais venderam jogadores em 2016 — Brasil, Espanha, Inglaterra, Argentina e Portugal —, o valor médio do atleta vendido pelos times brasileiros só supera o dos argentinos. Em média, o jogador que sai do Brasil custa pouco mais de R$ 1,02 milhão, enquanto cada jogador que sai da Espanha custa R$ 3,26 milhões.

Embora seja o maior exportador, o Brasil é apenas o sétimo na lista de países cujos clubes mais arrecadam com vendas.

Na lista de valor gasto para comprar jogadores, o Brasil é o décimo. A Inglaterra lidera. Em 2016, o Manchester United fez a maior compra da história: R$ 355 milhões pelo francês Pogba.

Portugal no caminho

Outro aspecto essencial para a disparidade entre quantidade de negociações e valor arrecadado é o chamado ‘selo Europa’. “Jogador, para ter peso, precisa do carimbo Liga dos Campeões. O valor duplica. Um Jorge ou até um Gabriel Jesus sai daqui como promessa. Pelo peso da liga, pelo calendário. Ter, numa semana, um jogo do Paulista ou do Carioca, é diferente de jogar num dia contra o Liverpool, dias depois com o Chelsea ou o Barcelona”, diz Motta.

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Diagnóstico evidenciado pelas rotas que mais movimentam jogadores mundo afora. O trajeto Brasil-Portugal é o mais percorrido do mundo: 168 jogadores no ano passado. Mas no ranking de rotas com maior movimentação financeira, o Brasil só surge na nona colocada, a que leva jogadores daqui para a Itália. Porta de entrada para brasileiros na Europa, Portugal é visto também como país receptivo à mão de obra barata.

“Salvo Benfica, Porto e Sporting, e talvez o Braga, os demais pagam menos do que o Madureira. E são uma vitrine ruim. Quem observa o campeonato são países como Romênia e outros mercados menores”, comenta Uram. “São lotes de brasileiros saindo por €5 mil de salário.”

O relatório da Fifa já exibe números significativos do alto investimento da China. O país chegou à quinta colocação em gasto com contratações e, sozinho, movimentou 344% mais dinheiro do que todos os demais países da Ásia combinados. O recente anúncio da restrição no número de estrangeiros permitidos em campo por jogo, segundo analistas, não indica uma imediata queda no investimento chinês.

“O orçamento existe, o dinheiro existe e continuará a ser gasto. E, com a redução de vagas, os jogadores vão pedir mais alto ainda. No lugar de ter cinco jogadores de 50 milhões, terão três de 80 milhões”, diz Marcos Motta. “Hoje, há ainda mais dinheiro na China. Além do governo e das grandes empresas, entrou a tevê”, emenda Uram.